terça-feira, 20 de abril de 2021

.: Com Maria Giulia Pinheiro, espetáculo digital "A Palavra Mais Bonita", estreia


Processo de luto e incomunicabilidade é tema de espetáculo que trata da relação entre pai e filha. Foto: Mylena Sousa


A atriz Maria Giulia Pinheiro apresenta o espetáculo "A Palavra Mais Bonita", uma homenagem ao seu pai vítima de uma doença degenerativa que o deixou impossibilitado de falar antes de morrer. "A Palavra Mais Bonita" é uma performance, que mescla a prosa humorística característica dos stand-ups com o spoken word, a poesia falada. A artista se consagrou em quarto lugar na Coupe de Mónde Slam, em Paris em 2020 representando Portugal. 

Em cena, a atriz usa palavras recebidas pelo público em suas redes sociais e mistura momentos autobiográficos com os poemas criados a partir dessas palavras. Com esse mecanismo Maria Giulia cria beleza a partir da dor, de forma leve e coletiva, dando também às pessoas que estão assistindo ao espetáculo poemas com suas palavras preferidas. O espetáculo é pertinente ao momento em que estamos atravessando, pois aborda a questão da morte também sentido simbólico do luto coletivo. A curta temporada digital é de 20 a 25 de abril, terça a domingo, às 20h, pelo YouTube.

A incapacidade da fala causada por uma doença neurodegenerativa levou a poeta e performer Maria Giulia Pinheiro a criar "A Palavra Mais Bonita", projeto que apresenta traços de uma história real entre pai e filha e de como a artista aprendeu a se comunicar com seu pai quando ele perdeu a capacidade de falar. A apresentação começa a partir de palavras enviadas pelas redes sociais da atriz mesclando a prosa humorística dos stand-ups, contação de história e a poesia falada. O espetáculo foi gravado no Pequeno Ato e será transmitido pelo YouTube de 20 a 25 de abril, terça a domingo, às 20h.

A ideia começou em meados de 2018, depois que o pai de Maria Giulia, diagnosticado com Esclerose Lateral Amiotrófica Bulbar (ELA), morreu em abril. A artista escreveu um post no Facebook convocando as pessoas a comentarem suas palavras preferidas. Ela teve mais de 200 retornos em poucas horas. A partir desse repertório compartilhado começou a escrever poemas. Depois levou a criação para o palco, um show-lírico em formato de jogo, no risco de fazer ao vivo com a participação da plateia. Menos de um ano depois o espetáculo estava pronto e começou a circular com apresentações em São Paulo, Lisboa (Portugal), Maputo (Moçambique) e Santiago De Compostela (Espanha).

Para as apresentações online, como o espetáculo é gravado, pediu em suas redes sociais que os seguidores enviassem as suas palavras mais bonitas. Com esse mecanismo Maria Giulia cria beleza a partir da dor, de forma leve e coletiva, dando também às pessoas que estão assistindo ao espetáculo poemas com suas palavras preferidas. O espetáculo trabalha a tensão entre os extremos, a palavra e o silêncio, a prosa e a poesia, como forma de aproximar o público do texto e exercitar a capacidade de escutar o outro. Mistura momentos autobiográficos com os poemas criados a partir das palavras enviadas pelas redes sociais.

“São três camadas narrativas: a palavra, a visão da memória e a biografia tensionada a partir da memória. Quando eu retomo o campo das memórias, tenho um filtro de um luto que se desenvolveu ao longo desse período. O luto se transforma, e, portanto, transforma essa memória. Com isso crio esse jogo do que é verdade ou ficção, pois retomar a lembrança não é viver a experiência em si. Eu falo sobre o processo, sobre o luto tentando retomar a experiência através da palavra”, explica Maria Giulia.

No palco, três elementos chamam a atenção, no proscênio, dois microfones; mais ao fundo, no centro, um retroprojetor, além de muitos papéis espalhados pelo chão. Em um microfone, Maria Giulia compartilha sua história, pensamentos e até o processo da obra. No outro, apenas as poesias reverberam.

A iluminação é composta por três plataformas que dialogam com a proposta narrativa do espetáculo. A narração biográfica ganha cores mais frias, o microfone poético tem cores mais quentes e teatrais, com lacunas e silêncios. A iluminação foi inspirada nos modelos de stand-up comedy, palestras e no quarto de escritório de uma escritora. Como se esses três espaços convivessem no palco.

O figurino utilizado em cena é constituído por roupas que simulam as do pai de Maria Giulia e que se revelam e se transformam ao longo do espetáculo, como afetos que se ressignificam ao tratarmos da ausência. Nesse jogo, Maria Giulia também brinca com o masculino e o feminino nos padrões de vestimenta, se masculinizando e, aos poucos, transformando esse vestuário de formas socialmente aceitas como femininas até o final do espetáculo.

Maria Giulia ressalta que “neste momento de luto coletivo mundial que estamos atravessando, torna-se incontornável elaborar questões que abordem temas éticos e estéticos que abarquem a morte não só no seu sentido literal, mas também simbólico – o luto coletivo.  Também no cerne do debate está a privação da fala.  A doença pandêmica que impõe a distância, a ausência de contato, do encontro, do debate, do diálogo presencial, dos afetos. É preciso entender a possibilidade de falar sobre morte, ritualizar a morte nesse momento. Eu realmente acredito que o que vai nos tornar humanos novamente é fazer o luto coletivamente para voltar o olhar para uma perspectiva de vida”, finaliza.


Sobre Maria Giulia Pinheiro
Autora de "Da Poeta ao Inevitável", pela Editora Patuá (2013), "Alteridade", pelo Selo do Burro (2016) e "Avessamento", pela Editora Urutau (2017), "30 (Poemas de Amor) para (os) 30 (Anos de Alguém que Nunca Amei Tanto Assim)" editora Urutau 2020, além de dramaturga dos espetáculos "Mais Um Hamlet", "Alteridade" e "Bruta Flor do Querer", em que também assina a direção. Fundadora do grupo teatral Companhia e Fúria, em que atua, dirige e escreve. Criadora e organizadora do ZONA Lê Mulheres, um sarau em que todas e todos podem ler, desde que textos escritos por mulheres. É performer e poeta nos espetáculos "Alteridade" e "A Palavra mais Bonita".

Co-idealizadora e apresentadora do slam "Ciranda-Jogo de Palavra Falada". Pesquisa a tradição de mulheres na arte, a importância de um Imaginário feminista, além de estruturas de comunidades livres desde 2012, quando lançou o manifesto "Por Um Imaginário". Foi Analista de Pesquisa do documento "Precisamos Falar com os Homens? Uma Jornada pela Igualdade de Gênero", realizada pela ONU Mulheres e o portal PapodeHomem, com viabilização do Grupo Boticário. Coordena o Núcleo Feminista de Dramaturgia no Pequeno Ato desde 2016. Formou-se jornalista pela Fundação Cásper Líbero e atriz pelo Teatro Escola Célia Helena, especializou-se em Roteiro para TV na Academia Internacional de Cinema e é pós-graduada no curso Arte na Educação: teoria e prática – ECA/USP.


Ficha técnica:
Espetáculo:
"A Palavra mais Bonita"
Texto, direção e atuação: Maria Giulia Pinheiro.
Direção de produção e comunicação: Danielle Cabral.
Iluminação: Luisa Dalgalarrondo.
Operação de luz: Giuliano Caratori.
Diretor técnico: Dugg Mont.
Assessoria de imprensa: Adriana Balsanelli.
Artes divulgação: Lucas Sancho.
Gravação: Cachalote Fúria & Filmes.
Projeto contemplado pela Lei Aldir Blanc.


Serviço:Espetáculo: "A Palavra mais Bonita"
De 20 a 25 de abril - Terça a domingo, às 20h.
Duração: 75 minutos.
Classificação etária: 14 anos.
Ingressos: Grátis.
Transmissão: youtube.com/mariagiuliapinheiro

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