O clássico de George Orwell, relançado pela Troia, não é apenas uma denúncia da violência do comunismo soviético do século XX, mas também um alerta para o perigo da corrupção do poder em qualquer regime e do arbítrio do autoritarismo.
Nesse momento em que expressiva parte do mundo dá uma guinada à direita, rumo ao totalitarismo, a Troia traz ao público brasileiro uma oportuna e valiosa edição comentada de "A Revolução dos Bichos", com tradução, prefácio e notas de Claudio Blanc. O clássico de George Orwell, publicado pela primeira vez em 1945, não é somente uma sátira à violência do comunismo sovi- ético, liderado por Josef Stalin no século XX, mas também um alerta para o perigo da corrupção do poder em qualquer regime, de esquerda ou de direita, e o risco do autoritarismo. Segundo a revista Time, A Revolução dos Bichos é uma das mais importantes obras da língua inglesa de todos os tempos.
A fábula de George Orwell, nome literário de Eric Arthur Blair (1903-1950), jornalista nascido na Índia britânica, retrata o arbítrio e a desigualdade que imperam no autoritarismo. O processo democrático é substituído pela imposição de medidas não debatidas. As leis passam a beneficiar apenas alguns setores da sociedade (os apoiadores do grupo no poder), direitos conquistados são eliminados e as massas vivem manipuladas pela mentirosa propaganda oficial. Além de verter a obra-prima de Orwell para um português claro, fluente, mas sem perder a essência e o sabor do original, Claudio Blanc enriquece a nova edição brasileira com prefácio e notas substanciosas e didáticas, contextualizando a novela de Orwell, e uma cronologia da vida do escritor e dos principais acontecimentos no mundo e no Brasil, de 1903 a 1950. A edição tem moderno, original e arrojado projeto gráfico de Alan Maia.
“Apesar da narrativa fabulosa, dos animais que falam, que sabem ler, escrever e construir moinhos de vento, A Revolução dos Bichos é uma obra que denuncia a exploração de uma classe por outra e os mecanismos políticos que tornam isso possível”, escreve Claudio Blanc no prefácio. Ele lembra o que disse o bió- grafo de Orwell, Jeffrey Meyers, sobre o livro: “Praticamente todos os detalhes têm significado político nessa alegoria”.
A história se passa na Fazenda do Solar, de um certo senhor Jones, despótico proprietário, que explora e maltrata os animais para o seu exclusivo benefício. Revoltados, os animais se unem e expulsam o dono e assumem a gestão da fazenda, agora com o nome de Fazenda dos Bichos, sob a liderança de dois porcos rivais, Napoleão (representando Stalin) e Bola de Neve (Trótski). Logo após a revolução dos bichos são editados os Sete Mandamentos da fazenda, um guia de conduta que prega igualdade entre os animais. A rivalidade entre Napoleão e Bola de Neve termina com a expulsão da fazenda e assassinato no exílio do porco que representa Trótski, como ocorreu na vida real. Os Sete Mandamentos foram aos poucos adulterados até serem praticamente abolidos. “O que conta não é a doutrina econômica ou política, mas sim a tendência humana de explorar sua própria espécie”, afirma Claudio Blanc.
Apesar da promessa de justiça e distribuição honesta dos frutos do trabalho de todos os bichos, os porcos, sob a liderança de Napoleão, se julgam superiores aos outros, não se esforçam e se apoderam das melhores instalações da fazenda e têm alimentação mais farta e rica. Entre os animais da história se destacam os cavalos, especialmente os incansáveis Sansão e Quitéria, símbolos do povo manipulado, de- sinformado, que acredita em tudo que o poder diz e sonham com a aposentadoria nunca alcançada; o burro Benjamin, velho e sábio, que suspeita da revolução; a vaca Mimosa, vaidosa e egoísta; o asqueroso porco Garganta, porta-voz do governo, que justifica as arbitrariedades de Napoleão com mentiras e sofismas; e os cães bravos, defensores dos porcos mandões e que impedem qualquer oposição ao poder.
“Os leitores modernos passaram a ver o livro de Orwell como um poderoso ataque a qualquer poder político, retórico ou militar que busca controlar os seres humanos por meio de mecanismos cruéis e injustos”, escreve Claudio Blanc no prefácio. “Orwell conclui que a atitude das classes dominantes e seus esforços pela manutenção do poder e de seus privilégios em detrimento das classes mais baixas é a mesma, seja num regime comunista, seja num regime capitalista”, acrescenta Blanc, que além de tradutor é escritor e editor com formação em Filosofia. Seu livro "De Lenda em Lenda se Cruza Fronteiras" foi selecionado como “Altamente Recomendável” pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLJ). Já traduziu 45 obras, entre elas O Peregrino, do inglês John Bunyan (1628-1688), publicado pela Troia em 2019. Você pode comprar "A Revolução dos Bichos", de George Orwell, neste link.
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