terça-feira, 26 de janeiro de 2021

.: Bete Coelho é Medeia em teatrofilme da Cia. BR116

Novo projeto de audiovisual da Companhia estreia online no dia 7 de fevereiro. Bete Coelho é Medeia, acompanhada de cinco atores parceiros da Companhia, são eles: Roberto Audio, Flavio Rochaa, Michele Matalon, Luiza Curvo, e Matheus Campos. A direção é de Gabriel Fernandes e Bete Coelho.

No ano em que comemora dez anos, a Cia. BR116 estreia Medeia, de Consuelo de Castro. O projeto estava programado para ir aos palcos em 2020, quando a pandemia assolou o mundo, interrompendo qualquer possibilidade de criação artística coletiva. Impossibilitados de estarem em um teatro, o cinema surgiu como um caminho a ser trilhado, mas a arte cênica se fez presente como norte para criação. Misturando as duas linguagens, a trupe encena a tragédia escrita por uma das maiores dramaturgas brasileiras do nosso tempo. 

Em 1997, Consuelo de Castro escreveu sua versão do famoso mito grego, intitulada Memórias do Mar Aberto – Medeia conta a sua história. A narrativa de Consuelo é contundente, visceral, atual e não maniqueísta. Personagens como Jasão, Creonte e Glauce ganham dimensões e conflitos internos. Consuelo salienta também a traição política, além da amorosa, sofrida por Medeia.  Deusa, guerreira, amante e mãe, a voz de Medeia se confunde com a da autora.

Em março de 2020, com a chegada da pandemia e o fechamento dos teatros, a classe artística teve que se reinventar e buscar novos formatos. Sobre as dificuldades do processo criativo nesse momento crítico, Bete Coelho, atriz e diretora, comenta: "As perguntas foram maiores que as respostas. Algumas dificuldades sanadas com insanidades e amizades. Soluções cênicas surpreendentes. Problemas econômicos gritando na vida dos envolvidos. A força da necessidade encontrando eco no poder da arte e da história. Nunca vimos tanta generosidade coletiva. E o seu contrário também".  

A companhia reduz sua equipe, artistas dobram suas funções para darem conta da transposição do que antes era uma peça de teatro e passa a ser um teatrofilme, como eles preferem intitular. Para Gabriel Fernandes, diretor, o cinema focado na dramaturgia e atores é o mais potente: “Foi uma equação perfeita, gosto de filmar ator e amo a dramaturgia pungente e sofisticada da Consuelo. O ator, mais que o diretor, é quem está mais próximo do autor, expõe suas falas, dá vida, corpo, razão e emoção às personagens. Minha função foi, através da câmera e da edição, criar o terreno para florescer o trabalho dos atores e a história da Consuelo”.

Em meio aos novos desafios, vindos da exitosa montagem de "Mãe Coragem", peça que contava com um grande elenco e uma plateia literalmente de ginásio, a Cia. BR116 encontra na tragédia, no teatro, no cinema e nos seus pares o caminho para se reinventar. O elenco de "Medeia" se deparou com inúmeros obstáculos e a partir deles construíram sua própria partitura de criação. Roberto Audio, ator que interpreta Creonte, vê muitos pontos de ligação entre o processo criativo e a situação que o mundo está passando. "Os estudos, a solidão, a loucura com o tempo, com as notícias, com a tensão, as dúvidas, o medo, tudo isso de fato foi usado como incentivo. A arte proporciona tudo isso. A grandeza dos detalhes e os transbordamentos onde vivenciamos, dividimos e repensamos as nossas relações com outro, com o mundo, seus símbolos, personagens e a história".

Para Flávio Rochaa, que na trama atua como Jasão, o novo formato de criação deu o tom da encenação: "Pela primeira vez eu ensaiei um texto pela internet. O set era mistura de cinema e teatro. Um lugar novo para nós. Foi trabalhar ali, no limiar. Mas sentindo alguma coisa especial acontecer." A atriz Michele Matalon, que interpreta a Ama na saga, acredita que a arte tem papel fundamental nesse período de crise: "Foi uma experiência extrema no sentido da circunstância que estávamos e seguimos atravessando. Compreender a arte como alimento necessário, apesar das dificuldades que nos cercaram, foi o grande alicerce da nossa trajetória. Uma experiência única de como a arte realmente salva”, comenta a atriz. Como é comum nos processos criativos, a vida se mistura com a obra. Matheus Campos, ator que interpreta Apsirto, revela que " Atuar em Medeia foi um momento de reencontro como ator. O vírus me fez lembrar como somos frágeis diante de um inimigo invisível e o gênero trágico nos faz lembrar dessa eterna condição humana”

Já Luiza Curvo, que na obra dá vida a Glauce, acredita que se faz importante as alianças para que o trabalho ganhe força. “Bete e Gabriel são a alquimia perfeita entre técnica e criatividade. Fazer a Glauce, nessa obra, foi também me reinventar em possibilidades imagéticas, físicas e sonoras", completa a atriz. Em "Medeia", a trajetória da guerreira de Consuelo de Castro se mistura com a da trupe BR116, sobre essa jornada Bete Coelho diz: "Podemos ver na tela o cansaço, as olheiras que fizemos questão de não esconder. O desmedido. O acaso e o descaso. O suor lembrando que é teatro. Vemos uma trupe de atores se apropriar de uma tragédia que ainda é nossa: o poder infame e corrupto. Vemos uma mulher – com sua capacidade política, transgressora e intuitiva – sendo esmagada. Vemos, afinal, o início e fim de toda tragédia. Ações humanas sob o signo do sofrimento".

Consuelo de Castro
Uma das maiores escritoras do Brasil, dramaturga, autora, cronista e roteirista, Consuelo de Castro faz parte do seleto grupo de escritores surgidos durante o período da ditadura. Em 1969 escreveu a famosa peça "A Flor da Pele", texto que recebeu o Prêmio da Associação Paulista de Críticos Teatrais (APCT) tendo várias montagens pelo país. Outros importantes prêmios também figuram em sua biografia, como Moliére e Governador do Estado de melhor autora por "Caminho de Volta", montada por Fernando Peixoto em 1974. Venceu o Concurso de Dramaturgia do SNT com "A Cidade Impossível de Pedro Santana". 

Seus textos foram montados pelos mais renomados diretores da cena brasileira como Gianni Ratto, Antônio Abujamra, Aimar Labaki e José Renato.  Dona de uma escrita feroz, teve textos proibidos pela censura quando era militante do movimento estudantil em 68. Consuelo sempre teve em sua obra a preocupação em mostrar a condição social e política da mulher, suas personagens femininas são sempre fortes e donas de seus destinos, mesmo que esse seja trágico. 

Sobre seus textos, o crítico Yan Michalski a define: "Representante destacada da brilhante geração de dramaturgos surgida sob a ditadura, Consuelo de Castro é, entre os autores dessa geração, talvez a que possui o corpo de obra mais volumoso e diversificado. Em comum com os outros, ela tem o sentimento de inconformismo e indignação que perpassa tudo que ela escreve. O que a distingue dos outros é a sua excepcionalmente visceral noção de teatralidade, um diálogo notavelmente colorido, que ela cria com uma espantosa espontaneidade, e uma inquietação que a faz partir sempre em busca de novos caminhos".

Sobre BR116
Fundada há dez anos por Bete Coelho, Gabriel Fernandes e Ricardo Bittencourt a partir da montagem do espetáculo o "Homem da Tarja Preta", de Contardo Calligaris,  nasce a trupe BR116. Em 2010, estreia o espetáculo "Terceiro Sinal" de Otavio Frias Filho, que  volta ao repertório da companhia com temporária histórica no Teatro Oficina, onde recebeu mais de 2.900 pessoas e teve indicação ao Prêmio Shell de melhor atriz para Bete Coelho.

Em 2019, a companhia - junto a uma parceria com o Sesc - monta "Mãe Coragem", de Bertold Brecht, com um público de mais de 8.500 pessoas em sua temporada no Sesc Pompéia. Sucesso de crítica e público, o espetáculo foi o vencedor do Prêmio Shell de melhor direção para Daniela Thomas e recebeu indicações de melhor atriz para Bete Coelho e melhor trilha para Felipe Antunes. Bete Coelho - renomada atriz, diretora e fundadora da companhia - tem em seu currículo trabalhos dirigidos por grandes diretores como Antunes Filho, Zé Celso Martinez Corrêa, Bob Wilson, Paulo Autran, Gerald Thomas e Radoslaw Rychcik. 

Fundamentados na força da coletividade e na afirmação do amor ao teatro, a Trupe BR116 toma emprestada as palavras do grande dramaturgo e escritor Otavio Frias Filho para definir sua filosofia: "o palco é onde a humanidade se reúne para falar de seus problemas mais graves, suas fraquezas mais inconfessáveis, seus exemplos mais terríveis, o único lugar onde a vida deve ser apresentada sem disfarces nem escrúpulos".  

*Texto extraído da peça Terceiro Sinal. Cena IV, página 29. Editora Cobogó.

Serviço
Temporada:
7 de fevereiro a 12 de março de quarta a domingo.
Horário: 20h
Onde: Canal da BR116 no YouTube
Classificação: 18 anos

← Postagem mais recente Postagem mais antiga → Página inicial

0 comments:

Postar um comentário

Deixe-nos uma mensagem.

Tecnologia do Blogger.