quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

.: Crítica: "Todas as Cartas" de Clarice Lispector em dez motivos para você ler



"Todas as Cartas", de Clarice Lispector, publicado pela editora Rocco é o maior e mais ambicioso lançamento em 2020, um ano atípico salvo entre um motivo e outro, mas principalmente por ser o ano do centenário desta escritora, que completaria 100 anos nesta quinta-feira, dia 10 de dezembro. A obra reúne todas as correspondências escritas pela autora ao longo da vida, abreviada em 9 de dezembro de 1977, aos 56 anos, por um câncer de ovário. A seleção de cartas configura um acervo fundamental para compreender a trajetória literária de Clarice Lispector. 

É um livro para ler, reler e guardar com muito carinho, pois entrega ao leitor as correspondências escritas desde maio de 1940 a novembro de 1977, um mês antes de morrer.  "Todas as Cartas" é mais que um apanhado da correspondência desta que hoje é considerada por muitos a maior escritora da literatura brasileira, já que revela tesouros guardados no baú de Clarice Lispector, tem prefácio da biógrafa Teresa Montero e posfácio do editor Pedro Karp Vasquez, o que torna tudo mais interessante. O Resenhando listou dez motivos para ler o livro.


1. "Todas as Cartas" é o livro do ano. Além de comemorar o centenário de Clarice Lispector em uma edição muito caprichada, elaborada com todo o respeito que a escritora merece, é um livro muito afetivo, capa dura em sua versão física, que mostra na intimidade - e, de alguma maneira, tira do pedestal carinhosamente o mito para mostrar um lado que poucos conheciam: o da mulher de verdade. Uma ousadia e tanto, já que mostrar as nuances reais de uma mulher quase que santificada pelo mito que gerou em torno de si poderia ser considerado por muitos quase uma blasfêmia. 


2. "Todas as Cartas" pode ser lido como uma autobiografia.
O livro ainda pode ser visto como um romance epistolar, formado por cartas, ou uma autobiografia em que o leitor pode espionar Clarice Lispector pelo buraco de uma fechadura imaginária, sem a proteção do mito. Nas cartas, não há o mito, há uma mulher, por vezes apaixonada, por vezes discorrendo o cotidiano, tal qual a vida como ela é. Mas não se iluda: Clarice Lispector só mostra até onde ela quer, então não espere muitos segredos ou confissões - ela é econômica nisso. 

2. "Todas as Cartas" mostra o psicológico de Clarice Lispector. Considerada por muitos uma pessoa intimista, cheia de nuances, audaciosa e até mesmo a que melhor representa a literatura contemporânea brasileira, Clarice Lispector era econômica nas opiniões e intensa nos textos que publicava. Dizem que escrever é pura exposição e Clarice Lispector soube se expor como ninguém em sua trajetória artística - até o limite que estabelecia entre si mesma e os leitores. Esse limite foi ultrapassado em "Todas as Cartas": nunca um livro mostrou tanto as características psicológicas desta escritora. O mais irônico disso é que as cartas escritas, talvez sequer tenham sido imaginadas por ela em livro, mas mostram, por ela mesma, em primeira pessoa, o que está acontecendo na própria vida e o que pensa sobre o mundo. A seleção das cartas configura um acervo fundamental para quem ama a própria Clarice Lispector e a literatura brasileira.


3. 
"Todas as Cartas" traz correspondências inéditas entre Clarice Lispector e escritores consagrados. O livro é um conjunto de correspondências que nunca foram publicadas antes entre Clarice Lispector e vários escritores, como João Cabral de Melo Neto, Lêdo Ivo, Lygia Fagundes Telles, Mário de Andrade, Natércia Freire, Nélida Piñon, Otto Lara Rezende, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga.  Ao todo, foram 284 cartas enviadas por Clarice a familiares e amigos. Em relação à publicação da correspondência com grandes escritores, o livro tamvém se mostra um importante acontecimento da literatura, pois mantém a inspiração, o lirismo e o humor ao escrever cartas, tão ou mais fascinantes e criativas quanto os próprios livros de Clarice Lispector como artista.


4. Correspondências de 
"Todas as Cartas" mostram bastidores da arte da escrita. O livro foi organizado por décadas, dos anos 1940 aos 1970. As cartas, escritas entre os anos de 1940 a 1970, são acompanhadas por de 510 notas de rodapé da biógrafa Teresa Monteiro para contextualizar a relação das cartas com o tempo, espaço e várias citações a personalidades e referências culturais. É uma correspondência riquíssima em relação ao processo de escrita e as reais motivações que deram norte à produção da obra literária de Clarice Lispector. Uma aula para aqueles que querem escrever profissionalmente.


5. Textos inéditos de "Todas as Cartas" mostram algumas opiniões e confidências de Clarice Lispector. Aproximadamente 50 cartas são inéditas para o público, justamente a que ela utilizou para trocar opiniões e confidências com destinatários ilustres, entre escritores e editores. São poucas as confidências, as confissões ou os segredos, mas todas valem a pena, pois traduzem uma leitura saborosa e dão dicas de como entender melhor alguns textos que a consagraram. 


6. "Todas as Cartas" mostra Clarice Lispector sobre ângulos diferentes.
A partir do livro, o leitor tem a oportunidade de acompanhar 40 anos da trajetória de Clarice Lispector. Nunca ela foi mostrada de uma maneira tão íntima, falando com diferentes interlocutores sobre diferentes ângulos da vida. O público terá a sensação de conhecer Clarice Lispector como uma amiga íntima, com as angústias e opiniões dela sobre temas que são discutidos até hoje. Prova que Clarice Lispector continua moderna e relevante.


7. "Todas as Cartas" mostra Clarice Lispector como desbravadora na arte da escrita. O leitor pode acompanhar a trajetória de Clarice Lispector como uma mulher que tem a ousadia de ser escritora no século passado, quando a Academia Brasileira de Letras ainda não havia sequer cogitado em mudar os estatutos para permitir a entrada de mulheres.


8. 
"Todas as Cartas" mostra Clarice Lispector como uma mulher com senso de humor apurado. No primeiro lote de cartas, endereçadas às irmãs, Clarice Lispector, antes de se tornar a escritora consagrada, atuava como repórter. Ela se queixava do dinheiro com muito bom humor. Além disso, são deliciosas as confidências que faz para as amigas Marina Colasanti e Nélida Piñon. Quem a conheceu diz que Clarice Lispector tinha um humor sutil, que se assemelhava ao dos britânicos. Quem ler o livro chegará à própria conclusão.


9. "Todas as Cartas" é resultado de uma pesquisa cuidadosa. Com grande material inédito, o livro é resultado de uma longa pesquisa realizada pela jornalista Larissa Vaz, com orientação de biógrafos e da família. As cartas trazem uma visão integral de Clarice Lispector como ser humano e como escritora. 


10. "Todas as Cartas" promove um encontro de Clarice Lispector com o novos leitores. Clarice viveu quase 20 anos no exterior e, na intimidade, ela se correspondeu para não perder os laços de afeto, seja com familiares, seja com amigos. Clarice Lispector afirmava para os amigos que “não sabia escrever cartas”, mas a publicação de "Todas as Cartas" comprova que a correspondência que ela alimentava é tão interessante quanto os romances, contos e crônicas que a eternizaram como escritora. Para quem já a conhece, mais um motivo para se apaixonar novamente, ler e relê-la. Para os leitores da nova geração, uma oportunidade de encontrar uma escritora fascinante que pode mudar definitivamente o rumo de suas vidas.

Se você compartilhar fotos ou textos sobre "Todas as Cartas", você pode marcar a editora Rocco ou utilizar as tags #ClariceLispector e #365DiasDeClarice.  Você pode comprar "Todas as Cartas", de Clarice Lispector, neste link.




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