sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

.: Os 40 anos do "Coração Paulista" de Guilherme Arantes


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico musical.

Há 40 anos, o cantor e compositor Guilherme Arantes realizava um de seus melhores álbuns. Muito embora não tenha conseguido atingir um público maior, "Coração Paulista" mostrava um compositor incrivelmente maduro e que acabou chamando a atenção da crítica e de outras figuras da MPB, como Elis Regina.

Quando foi gravar esse álbum, Guilherme estava sob pressão. Ele já havia lançado canções de sucesso popular como "Meu Mundo e Nada Mais" e "Amanhã" nos álbuns anteriores. E a expectativa na gravadora Warner era para que se lançasse algo com apelo mais popular.

O problema é que Guilherme nunca ligou muito para esse tipo de pressão. Em "Coração Paulista" ele procurou desenvolver seu trabalho para uma direção mais segura, para onde ele achava que deveria seguir. A produção competente e segura de Liminha na Gravadora Warner ajudou a moldar esse álbum com temática bastante focada nas complexas relações humanas da metrópole paulista.

A faixa título é um rock bem ao estilo paulistano e conta com backing vocals de Arnaldo Baptista, fundador dos Mutantes. Uma sugestão de Liminha, que também integrou Os Mutantes, que foi aceita de imediato por Guilherme. Essa canção é uma das melhores coisas que Guilherme fêz ao longo de sua carreira, com destaque para a guitarra de Luis Sérgio Carlini, que fundou e integrou a banda Tutti-Frutti nos anos 70.

Depois segue "A Noite", uma canção que nos remete a um tipo de MPB mais sofisticada, com uma letra inspirada e genial de Guilherme: "A noite é o reino da calma/reino da pausa, tempo de amar/a noite é tanto prazer/tantos encontros, tanto se dar/a noite é amiga dos homens/na mesa o jantar..."

O que se ouve depois são canções densas como "Estranho" e "Fantoches", esta última citando aquele tipo de pessoa que habitualmente é vista e notada em ambientes de trabalho: "Odeio fantoches/capachos do chefe/cupinchas do patrão/odeio essa raça/de gente costa-quente/gente falsa/serpente/que se arrasta pelo chão...".

Há ainda a participação do grupo vocal Boca Livre na canção Brasília, outro momento incrivelmente inspirado de Guilherme, dando uma visão crítica e poética sobre o nosso Distrito Federal: "...Tuas cidades satélites mostram o quanto és uma aberração/vivem à margem da tua luxúria onde corre o poder da nação..."

Esse disco chamou a atenção de Elis Regina, que na época era uma das nossas estrelas da MPB. Ela procurou Guilherme e lhe pediu duas composições  para aquele que acabou sendo seu último disco de estúdio. Guilherme fez "Aprendendo a Jogar" e "Só Deus É Quem Sabe", que ajudaram a projetar a cantora nas rádios naquela ocasião.

Logo depois, em 1981, Guilherme conquistaria o segundo lugar no Festival MPB Shell com Planeta Água. E o que ocorreria nos anos seguintes seria uma sucessão de hits nas rádios e em trilhas de novela na televisão, consolidando uma carreira de sucesso e que continua até os dias de hoje.
Mas podemos dizer que o álbum "Coração Paulista", ainda que não seja muito lembrado pelo público, acabou tendo um papel importante no processo de amadurecimento de Guilherme, principalmente como compositor.  E é incrível que ainda tenha uma mensagem tão atual e relevante nos dias de hoje.

"Coração Paulista"

"Fantoches"

 "A Noite"

2 comentários:

  1. Este disco é muito bom e trouxe um Guilherme Arantes diferente,viajando em várias nuances,a música Brasília é uma crítica ferrenha da capital do Brasil,com a luxuosa participação do Boca livre,um disco sensacional, show.

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  2. Coração Paulista além de ser o melhor da carreira do Guilherme Arantes, é um dos melhores álbuns da MPB, porém é um lado B, que só quem é um grande fã do artista, sabe o grande valor artístico que esse álbum deixou na história.

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