Frames das telas durante as gravações da versão digital de "A Semente da Romã", que traz no elenco grandes nomes do teatro e da TV, como Walderez de Barros e Sérgio Mamberti (fotos de Yghor Boy)
O espetáculo “A Semente da Romã”, texto inédito de Luis Alberto de Abreu, com Walderez de Barros, Sérgio Mamberti, Ondina Clais, Eduardo Estrela, Lavinia Pannunzio e João Vasconcellos no elenco, estreia versão digital no próximo dia 21 pela plataforma Sympla. A direção é de Marina Nogaeva Tenório e Ruy Cortez.
Um díptico que aprofunda a discussão e as relações entre memória e utopia, que reúne uma equipe de quatro gerações de artistas. A temporada de 19 dias corridos vai até dia 8 de dezembro, com apresentações todos os dias da semana às 21h e aos domingos, às 17h e às 21h, e ainda um ciclo de conversas em três terças-feiras.
A questão que se abre com esta encenação é: nestes tempos conturbados de mudança, o que iremos levar conosco para passar às gerações futuras e o que deixaremos para trás? O que é essencial para nós e de que teremos que abrir mão? “As Três Irmãs e a Semente da Roma” é um projeto concebido pela Companhia da Memória composto por dois espetáculos para serem apresentados simultaneamente no teatro do Sesc Pompeia, cujo palco é capaz de abrigar duas plateias distintas.
Previsto para estrear no mês de abril, os ensaios presenciais iniciados em janeiro deste ano tiveram de ser suspensos em março em decorrência da pandemia, com o consequente adiamento da temporada presencial. A concepção original prevê a encenação de "As Três Irmãs", uma das obras-primas de Anton Tchekhov, de um lado da plateia. A segunda plateia, localizada “nas coxias”, assiste ao que seriam os bastidores da primeira.
Essa falsa coxia teatral, construída em sincronia com "As Três Irmãs", é a encenação da peça "A Semente da Romã", obra inédita de Luís Alberto de Abreu, um dos mais reconhecidos dramaturgos brasileiros contemporâneos. “As peças dialogam entre si: enquanto a primeira reflete as discussões e os sonhos de uma classe mais instruída sobre sua própria vida e seu papel na sociedade russa do início do século XX, a segunda lança o olhar para a vida das pessoas de teatro e para o significado do próprio teatro na sociedade brasileira atual”, diz Ruy Cortez.
Ensaios adaptados ao meio digital foram mantidos regularmente até novembro, resultando em conteúdos digitais a partir de amplas reflexões de toda a equipe (abaixo a descrição do que foi gerado nestes meses). Um dos materiais produzidos neste período foi a versão digital da peça “A Semente da Romã”, que estreia para o público em 21 de novembro, sábado, às 21h, pelo Sympla, e segue em cartaz até 08 de dezembro.
Aos domingos há uma apresentação extra, às 17h, além das 21h. Complementa a temporada um ciclo de conversas com o dramaturgo Luis Alberto de Abreu, com os diretores Marina Nogaeva Tenório e Ruy Cortez e com a equipe de criação, incluindo o elenco. As conversas acontecem às terças-feiras, às 19h30, nos dias 24 de novembro, 1° e 8 de dezembro, no canal digital das Oficinas Oswald de Andrade.
O texto inédito, escrito por Luís Alberto de Abreu, reúne em cena três gerações de atores, que estão nos bastidores do último dia de representação de "As Três Irmãs". Enquanto esperam suas entradas, esses atores refletem sobre a situação política e cultural do país, sobre o futuro da arte, do teatro e de suas próprias vidas, criando uma fina trama entre as proposições do texto de Tchekhov e a sua realidade. “Em relação às' Três Irmãs', 'A Semente da Romã' funciona como o 'avesso da obra', evidenciando a tessitura de que é feita, as aspirações, sonhos, desilusões e paixões humanas dos próprios artistas que a realizam”, complementa Cortez.
Embora em alguns momentos discuta questões análogas ao texto de Tchekhov, aqui o olhar se dá a partir da perspectiva do que é o próprio fazer teatral, do que o teatro representa enquanto lugar da imaginação e da utopia e, ao mesmo tempo, do trabalho exaustivo, da frustração e do sacrifício. Em outras palavras, A Semente da Romã discute o que é ser artista de teatro no Brasil.
“O ato de esquecimento característico da sociedade brasileira e a sua consequência — a incapacidade de elaborar uma visão de futuro — se reflete também na história do teatro brasileiro. Buscamos lidar diretamente com esta situação ao trazer para o primeiro plano dois dos nossos mais experientes atores vivos, Sérgio Mamberti e Walderez de Barros, que carregam no corpo a memória do fazer teatral neste país. Coadjuvantes no texto de Tchekhov, aqui esta geração mais velha toma a voz e se torna protagonista. Enquanto guardiã da memória, ela conduz uma reflexão sobre o momento atual e estabelece um elo de transmissão entre as três gerações presentes no palco. E é a partir deste encontro, desta comunhão entre as gerações, entre o que foi, o que se deseja ser e o que será, que começa a ser forjado o sonho de um teatro futuro”, diz Marina Nogaeva Tenório, também diretora do projeto e da montagem.
Tchekhov tinha absoluta clareza de que vivia numa época de transição e que os valores fundantes da civilização à qual ele pertencia estavam sendo balançados. Como autor, ele não desvia do questionamento desses valores, pelo contrário, os coloca à prova para ter a liberdade de decidir o que preservar e para qual tipo de novo se abrir. “Todos os integrantes desse projeto continuam nessa travessia. Testemunham como o valor da vida humana e o valor da arte, da educação e da cultura estão sendo colocados em xeque enquanto lugares de afirmação do próprio sentido da vida. E não se pode negar o fato de que o teatro reflete, como um microcosmo, todas as crises vividas pela sociedade de cada tempo”, acrescenta Marina Nogaeva Tenório.
Acredita-se também que é precisamente nesses períodos turbulentos que ressurgem valores esquecidos que podem servir como caminho orientador nessa travessia. Dentre esses valores destacam-se questões do feminino, como a resiliência, a potência e a liberdade, temas essenciais de "As Três Irmãs" e "A Semente da Romã”.
"A Semente da Romã"
Durante a apresentação da peça "As Três Irmãs", seis atores coadjuvantes vivem nos bastidores conflitos pessoais, profissionais e mesmo existenciais enquanto esperam a entrada em cena. Alguns desses conflitos dialogam com as questões dos personagens de Tchekhov que estão em cena, outros são relacionados com o sentido da arte e as dificuldades da profissão. Outros ainda dizem respeito às relações familiares, dificuldades financeiras e conflitos entre os elementos do grupo.
Guilherme é um velho e experiente ator que se nega reconhecer suas limitações físicas e de memória e que sonha morrer no palco; Ariela é também uma velha atriz que chega ao fim da vida envolvida na luta diária pela sobrevivência; Augusto é um ator maduro que enfrenta uma crise existencial relacionada à utilidade da arte que pratica; Kátia é uma mulher de 40 anos que resolve abandonar a profissão de atriz; Maria Antonia, atriz de meia idade, apaixonadamente engajada na luta de sua classe e, finalmente, Desdeu, um jovem e inexperiente ator que, na convivência com esses atores mais velhos e experientes, reafirma sua paixão pelo teatro apesar das dificuldades inerentes à profissão.
Entre depoimentos sobre a história do teatro dos últimos 60 anos, frustrações e alegrias proporcionadas pelo exercício do palco e problemas do dia a dia, esses seis atores e personagens compõem um concerto singelo, poético e humano sobre a experiência de escolher viver da arte e pela arte do teatro.
A Companhia da Memória e seu projeto artístico Pentalogia do Feminino
A transposição para a cena de obras literárias, a recriação de clássicos da dramaturgia, a criação e encenação da dramaturgia brasileira contemporânea, a investigação da metodologia do teatro psicofísico para o trabalho do ator e a pesquisa de uma encenação transdisciplinar tem sido algumas das marcas do trabalho da companhia ao longo de mais de dez anos de existência.
Em suas três obras iniciais, a Companhia da Memória dedicou-se ao estudo da linhagem patrilinear, explorada como força fugidia em "Rosa de Vidro" (2007), como força castradora em "Nomes do Pai" (2010) e interrompida através do ato parricida nos três espetáculos que compunham a obra "Karamázov" (2014).
Em 2016, inicia a "Pentalogia do Feminino", concebida por Ondina Clais e Ruy Cortez. Neste conjunto de espetáculos, a Companhia da Memória se volta à investigação da linhagem matrilinear e dos arquétipos femininos a partir de cinco obras com temas autônomos, que se desdobram e se entrelaçam sob a perspectiva do feminino.
O primeiro espetáculo desta série é o monólogo "Katierina Ivânovna (K.I.)" de Daniel Guink, que dá voz à personagem homônima de “Crime e Castigo” de Fiódor Dostoiévski. A obra reflete sobre a violência contra a mulher, sobre o feminino que não encontra o seu lugar, relacionando a isso a condição dos refugiados no mundo contemporâneo. A peça estreou em outubro de 2017.
"Punk Rock", segunda parte da Pentalogia, é uma encenação da obra homônima do dramaturgo inglês Simon Stephens e aborda o tema do bullying e da violência nas escolas. Estreou em março de 2018. Em "Punk Rock", a perspectiva do feminino é revelada através da exposição de seu oposto, o masculino. Como num negativo fotográfico, revelamos a estrutura patriarcal, machista e falocêntrica que gera o desastre de uma instituição escolar. Nosso desejo, a partir da peça e para além da peça, é conhecer e imaginar respostas e insurgências femininas, que apontem para uma outra escola.
A terceira parte, "Réquiem para o Desejo", é uma recriação da obra “Um Bonde Chamado Desejo” de Tennessee Williams, com dramaturgia inédita de Alexandre Dal Farra. A obra investiga a violência contra a mulher e as pessoas negras a partir das estruturas de poder e dominação do neocolonialismo e do machismo. Estreou em outubro de 2018.
"As Três Irmãs" e "A Semente da Romã", quarta parte da obra, é um projeto que encena simultânea e sincronicamente em um mesmo palco, para duas plateias distintas, dois espetáculos: “As Três Irmãs” de Anton Tchekhov e o texto inédito “A Semente da Romã” de Luís Alberto de Abreu, que se passa nos bastidores da encenação do clássico russo. O díptico tem como tema a resiliência feminina, a potência e a liberdade. "As Três Irmãs" e "A Semente da Romã" estrearia em abril de 2020, tendo sua temporada suspensa em função da pandemia.
"Charlotte", última parte da pentalogia, é uma livre criação a partir da obra “Vida? ou Teatro?” da artista judia alemã Charlotte Salomon. A obra aborda o tema do fascismo, do holocausto e do genocídio. Neste momento, este espetáculo encontra-se em fase de planejamento. A partir de 2019 a companhia estabelece uma parceria com a produtora Marlene Salgado, com quem divide a produção de "As Três Irmãs" E "A Semente da Romã", além do planejamento e desenvolvimento de demais projetos.
Serviço:
Versão digital de “A Semente da Romã”, texto inédito de Luis Alberto de Abreu.
Estreia em 21 de novembro pelo Sympla. Até 8 de dezembro. Temporada de 19 dias corridos, com apresentações todos os dias da semana às 21h e aos domingos, às 17h e às 21h e ainda um ciclo de conversas em três terças-feiras. No elenco: Sérgio Mamberti, Walderez de Barros, Ondina Clais, Eduardo Estrela, Lavinia Pannunzio e João Vasconcellos. Direção de Marina Nogaeva Tenório e Ruy Cortez.
Ciclo de conversas "A Semente da Romã":
Dias 24 de novembro, 1° e 8 de dezembro, às terças-feiras, às 19h30, no canal digital da Oswald de Andrade. Com o dramaturgo Luis Alberto de Abreu, com os diretores Marina Nogaeva Tenório e Ruy Cortez e com a equipe de criação, incluindo elenco e diretores. Assista aos processos de concepção de "As Três Irmãs e A Semente da Romã_minidoc.processo" e ""As Três Irmãs e A Semente da Romã_minidoc.monólogos".
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