Como desdobramento da investigação sobre as relações entre europeus e indígenas no início da colonização das terras litorâneas de São Paulo e Rio de Janeiro (século XVI), proposta pela mundana companhia no fim de 2019, constitui-se "Os Insensatos", o mais recente trabalho da companhia, fruto da concepção de um grupo de roteiristas da equipe que realizou a pesquisa.
Partindo de uma ideia original de Cristian Duarte e uma seleção de textos de André Sant’Anna, Aury Porto, Joana Porto, Roberta Schioppa, Rogério Pinto e Zahy Guajajara e o próprio Cristian criaram um roteiro partindo da premissa de exploração que os colonizadores europeus estabeleceram com as terras “brasileiras” e com seus povos originários, desde o início do processo de colonização no século XVI.
“Exploração que atravessou os séculos mantendo os mesmos procedimentos que fermentaram uma certa mania predatória e uma ânsia de exclusão social que, para além das qualidades positivas e anedóticas, nos caracterizam como brasileiros”, diz Aury Porto.
"Os Insensatos", que estreou com seis apresentações ao vivo diretamente da Teatro de Contêiner Mungunzá e faz em 24 de novembro a abertura da temporada digital gravada no YouTube e Facebook da mundana companhia, apresenta quatro alegorias da insensatez social brasileira. O mal-uso da coisa pública, o consumismo, o desinteresse pela racionalidade e a relação superficial com o conhecimento são algumas das características das figuras de cena. O brasileiro aqui é olhado pela lente da insensatez. E essa lente foi aumentada fazendo com que as figuras superem suas características elementares de personagens humanos à medida que seus corpos vão absorvendo características das coisas do em torno e vão tomando formas carregadas de signos.
A peça é constituída de algumas camadas de leitura e de relações com a questão central – a insensatez – construindo percursos próprios, por vezes dialogando com as outras camadas e às vezes não. A trilha sonora, os figurinos, as frases escritas nas camisetas, os textos, o gestual dos atores e os objetos de cena constituem um corpo cênico feito de elementos que não necessariamente são complementares ou equivalentes, permitindo até mesmo interpretações independentes.
Os ensaios presenciais tiveram de ser interrompidos em meados de março, e passaram a ser virtuais devido a pandemia da covid-19, a peça "Os Insensatos" é um dos resultados que a mundana companhia irá apresentar desta pesquisa desenvolvida nesses 11 meses.
mundana companhia
Desde o ano 2000, inspirados pela militância política dos artistas de teatro da cidade de São Paulo junto ao movimento “Arte contra a Barbárie”, Aury Porto e Luah Guimarãez desejavam criar um núcleo artístico formado essencialmente por atores-produtores. Almejavam formar uma companhia teatral na qual, a cada projeto, idealizado e produzido necessariamente por um ou mais atores, um diretor, com afinidades afetivas e estéticas com os membros da companhia, seria convidado a integrar-se a esta. O mesmo ocorreria com os profissionais das outras áreas, como cenografia, figurino, música, luz, e até mesmo com outros atores.
A cada projeto, a companhia teria um novo corpo forjado na ideia de continuidade na transitoriedade. Com esse pensamento é que foi gestada a mundana companhia. Essa companhia de encontros conscientemente transitórios recebe o adjetivo antes do substantivo e tem seu nome integralmente grafado com letras minúsculas.
Esboçou-se assim um projeto de frátria em dissonância com a supremacia do ideário de pátria tão caro à maioria das sociedades do século XX. Essas mudanças nas relações internas deverão necessariamente refletir-se nas relações com os espectadores e, obviamente, nos temas a serem investigados a cada novo projeto. Apesar de elaborado desde a virada do século, o primeiro trabalho deste núcleo artístico só veio a realizar-se muitos anos depois.
Criações: Medeamaterial, Máquinas do Mundo, Necropolítica, Dostoiévski-Trip, Na Selva das Cidades- Em Obras, O Duelo, Pais e Filhos, O Idiota – Uma Novela Teatral, Tchekhov4 – Uma Experiência Cênica, A Queda, Das Cinzas.
Ficha técnica - "Os Insensatos"
Elenco: André Sant’Anna, Aury Porto, Érika Puga e Zahy Guajajara
Participações: Cristian Duarte e Ivan Garro
Direção coletiva: mundana companhia
Assistência de direção: Roberta Schioppa
Textos: André Sant’Anna
Roteiro: Aury Porto, Cristian Duarte, Joana Porto, Roberta Schioppa, Rogério Pinto e Zahy Guajajara
Colaboração conceitual: Renato Sztutman e Stelio Marras
Direção vocal interpretativa: Lucia Gayotto
Direção de movimento: Cristian Duarte
Trilha sonora: Gui Calzavara
Operação de som e de corte: Ivan garro
Câmera, captação e edição de vídeos e sistema de transmissões: Bruna Lessa - Bruta Flor Filmes
Cenografia_Rogério Pinto
Assistência de cenografia: Ana Tranchesi
Cenotecnia: Marcus Garcia
Figurino: Joana Porto e Rogério Pinto
Maquiagem: Rogério Pinto
Luz:Wagner Antônio
Assistência e operação de luz: Dimi Luppi
Montagem de luz: Douglas de Amorim e Paloma Dantas
Assessoria de imprensa: Adriana Monteiro
Mídias digitais: Yghor Boy
Fotos: Alessandra Nohvais
Projeto gráfico: Mariano Mattos Martins
Produção executiva: Bia Fonseca
Produção: Aury Porto e Marlene Salgado
Serviço - "Os Insensatos"
Temporada online: 24 de novembro a 13 de dezembro, às 22h, no YouTube e Facebook da mundana companhia.
YouTube: https://www.youtube.com/channel/UCUoj0JCsV2OJ4NQIJd4w6RA
Facebook: https://www.facebook.com/mundanacia
Duração: 50 minutos
Indicação etária: 14 anos
Equipe: Adriana Monteiro, Alessandra Nohvais, Ana Tranchesi, André Sant’Anna, Aury Porto, Bia Fonseca, Bruna Lessa, Cristian Duarte, Dimi Luppi, Douglas de Amorim, Érika Puga, Gui Calzavara, Ivan Garro, Joana Porto, Lucia Gayotto , Marcus Garcia, Mariano Mattos Martins, Marlene Salgado, Paloma Dantas, Roberta Schioppa, Rogério Pinto, Renato Sztutman, Stelio Marras, Wagner Antônio, Yghor Boy e Zahy Guajajara.
Da esquerda para direita Zahy Guajajara, Aury Porto, Érika Puga e André Sant’Anna. Foto: Alessandra Nohvais
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