Por Helder Bentes*, professor de Língua Portuguesa e Literatura.
Este texto é para VOCÊ QUE CRÊ EM JESUS CRISTO. Muitos cristãos estão acreditando que votar em candidatos “da esquerda” seja um perigo para a evangelização. Isto porque o marketing político da classe dominante, do Capitalismo cruel contra os pobres de Jesus Cristo, inventa que “a esquerda” seja a favor do aborto, do casamento gay, do divórcio, da liberação das drogas e de uma série de outras falsas notícias que vão na contramão da doutrina das igrejas cristãs. Mas como nós, cristãos, não somos burros e tapados, vamos pensar juntos aqui.
1. O evangelho está acima das religiões.
2. Jesus Cristo fez uma opção preferencial pelos pobres. Por ele, essa divisão entre ricos e pobres não existiria, porque Deus criou tudo para todos.
3. Os modos de produção econômica, as ideologias e as posições políticas que daí derivam (vide meus artigos sobre direita e esquerda, modo de produção e ideologia política) não têm nada a ver com o Evangelho. Se tivessem, Jesus seria Comunista, e Marx e Lênin teriam sido seus discípulos.
4. Quando inquirido sobre pagar ou não os impostos ao Imperador de Roma, que governava a Palestina, Jesus disse: “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. Deixando claro que ele (Jesus) não desobedeceria ao Estado, porque não era, ao contrário do que muitos pensavam, um anarquista. Mas também não tomaria PARTIDO de questões POLÍTICAS, porque seu Reino não é deste mundo. Depois ele diria isto na cara de Pôncio Pilatos. Foi a declaração que chancelou sua condenação à morte.
5. Será que nós, cristãos, teríamos coragem de fazer o mesmo? Dizer, na cara do padre ou do pastor que atribui pautas anti-doutrinárias “à esquerda”, e assim induz cristãos a votarem “na direita”, que nosso Reino não é deste mundo? Estamos no mundo, mas não somos do mundo. Ser cristão não tem nada a ver com a posição política que ocupamos, na estratificação social gerada por um sistema econômico injusto, que não foi criado por Deus e que irritou Jesus, a ponto de ele expulsar os vendilhões do templo. Com quem é nosso compromisso? É com Jesus Cristo ou com o pastor ou padre que está mancomunado com lideranças políticas, sejam de esquerda ou de direita?
6. Jesus Cristo é contra o aborto sim. Ele não fala diretamente disso no Evangelho, mas defende a vida acima de tudo, sob quaisquer circunstâncias: “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância”. Deste ponto de vista, nem esquerda, nem direita. Porque se existem projetos de legalização do aborto protocolados por parlamentares da esquerda, também existe, por parte da direita, não um projeto, mas uma lei de armar a população, incentivando o assassinato, sob critérios nada cristãos, de legítima “defesa” ou de “defesa da família e da propriedade”. A própria omissão do governo federal em relação às demandas da pandemia é um atentado contra os ideais de vida em abundância. Então ser contra ou a favor do aborto não é critério para a escolha de seu candidato. Aliás, nenhuma questão de cunho moral ou religioso deve ser tomada como critério, pois ninguém tem o poder de regular a moralidade ou a fidelidade religiosa de ninguém. Só Deus conhece o coração do homem.
7. Quais devem ser, então, os critérios de um cristão? A VERDADE. Óbvio! O problema está em nossa capacidade de discernirmos entre o que seja verdade ou mentira, neste aglomerado indigesto de fake news.
8. Prefeitos não legalizam nada, nem aborto, nem armamento com fuzis para defesa de propriedades. Também não têm poderes para condecorar ninguém como heróis ou assassinos. As funções de um prefeito não são legislativas. São executivas, e na democracia, prefeitos, governadores e presidentes estão subordinados ao parlamento, que congrega vereadores, deputados e senadores de diversos segmentos ideológicos, político-partidários, inclusive religiosos. Então você pode votar em quem você quiser, sem susto, que nem o aborto será legalizado, nem vão sair chacinando o MST.
9. Se você é pobre, mesmo que viva resignado com seu padrão de vida, você é de esquerda. Não importa qual seja sua crença religiosa. Socialismo e religião, numa democracia, não são excludentes entre si. Socialismo é ideologia política. Partidos socialistas são criados a partir dessa matriz ideológica, mas obrigatoriamente subordinados à democracia. Cristianismo é religião. Jesus foi assassinado por não misturar religião e política. E você aí todo confuso ainda?
10. Se você é rico, você é de direita. Tem mais é que votar no candidato que vai beneficiar a sua categoria social. Não tem nada de errado nisso.
11. Agora se você é cristão e acha que sua fé deve ser tomada como critério, aí não te resta outra opção. Você tem que votar no candidato da esquerda mesmo, pois se a disputa se reduziu a esses dois polos, você tem que votar em projetos de defesa dos pobres. Porque Jesus nasceu pobre, morreu pobre, ressuscitou pobre, passou a vida inteira defendendo os pobres; era contra o consumismo, o comércio no templo religioso; era contra doenças, contra a morte, contra assassinatos em qualquer fase da vida; era contra a má distribuição das riquezas; não se coligava a partidos e lideranças políticas, mas também não era anarquista; defendia crianças, mulheres, viúvas, órfãos, anciãos, trabalhadores, escravos; não tinha preconceito contra ninguém, e tudo isso são pautas da esquerda. Os partidos de direita governam para os ricos, e sua política só aumenta a miséria e a pobreza.
12. Nem pense em anular seu voto. Se quiser votar como pobre de direita, vote. Mas anular voto é pecar por omissão. Você estará sendo leviano, se pegar um comprovante de uma coisa que vc não fez, abstendo-se do único poder que te resta, à custa do sangue de muitos irmãos que deram a vida por eleições diretas, e com isso, vc pode estar se responsabilizando indiretamente por problemas sociais gravíssimos na educação, na saúde, no saneamento, no meio ambiente, no transporte, na moradia, igualzinho a esses cristãos que seguiram padres e pastores, em vez de seguirem Jesus, e agora carregam nas costas as mortes por Covid ocorridas por causa da omissão dos governos em relação à pandemia. Ser cristão sim. Ser burro nunca.
13. O Socialismo defende o Estado laico, mas respeita a liberdade de crença e tolera a diversidade religiosa. No Comunismo não existe religião. Toda religião é abolida por ser um instrumento de dominação política que prejudicaria o controle do Estado sobre o cidadão. Então, se no Brasil você pode doar seu dízimo à Igreja, que está desobrigada pelo Estado de declarar imposto sobre essa arrecadação, você não pode dizer que aqui existe Comunismo. Se pode escolher entre ser católico, evangélico, espírita, umbandista, agnóstico ou ateu, isso é porque NÃO EXISTE COMUNISMO no Brasil. Na China, na Coreia do Norte, em Cuba, também existe religião, inclusive cristãos, convivendo DEMOCRATICAMENTE com budistas, que predominam sobretudo na Coreia. ISSO NÃO É COMUNISMO. Então pare de acreditar na suposta ameaça do Comunismo, que quem quer que você acredite nisso é Satanás, pra aumentar a desigualdade social no mundo e te condenar ao Inferno desde já.
Sobre o autor
Helder Bentes* é professor de Língua Portuguesa e Literatura, na educação básica e superior, em Belém do Pará. Está escrevendo textos sobre política para educar leitores ao voto com consciência de classe.
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