domingo, 13 de setembro de 2020

.: Crítica: "Pós-F" eleva a experiência de lives teatrais a outro patamar


Por 
Helder Moraes Miranda, editor do Resenhando.

Não se sabe exatamente onde começa e onde termina a Fernanda Young do teatro. Em uma espécie de jogo de cenas, escritora e intérprete se encontram de uma maneira que faz "Pós-F", o espetáculo teatral escrito por Fernanda Young, dirigido por Mika Lins e interpretado por Maria Ribeiro uma experiência inesquecível. Apresentado diretamente do Teatro Porto Seguro praticamente vazio, em que só estão atriz e equipe dos bastidores, o espetáculo coloca as lives teatrais em outro patamar - como, talvez, um divisor de águas em que artistas e público precisem se reinventar em torno da arte.

Maria Ribeiro é Fernanda Young no teatro, e é mais Fernanda Young do que qualquer outra atriz que ousasse interpretá-la. O motivo disso é um mistério. Será que porque eram próximas ou há algum brilho no olhar que atinge as mulheres brilhantes fazendo com que, de uma maneira ou outra, elas se reconheçam e tenham uma aura que só as grandes podem alcançar? A linha é tênue. 

Onde começa a Maria Ribeiro e o que ela tem a acrescentar a uma escritora que só conquistou o reconhecimento que sempre mereceu depois da morte? O que Fernanda Young acrescenta na personalidade de Maria e por que essas respostas nunca serão respondidas de maneira satisfatória? O fato é que ambas, juntas, tornam-se imbatíveis nesse espetáculo potente que já figura entre os melhores do ano.

"Pós-F" se passa em um mundo pós-Fernanda Young em um momento em que ela nunca foi tão necessária. Não é novidade que o texto é brilhante ou que a interpretação de Maria Ribeiro ecoa por todas as dimensões. Nessa experiência teatral há pelo menos quatro câmeras que focam a atriz de diversos ângulos. Ela é a voz que o mundo precisa escutar em um momento extremamente carente de boas intenções. 

Maria Ribeiro dialoga com a obra de Fernanda e a questiona como a própria faria hoje. Fernanda Young não tinha medo de contradições, nem de parecer datada ou de mudar de ideia. Ela era a própria liberdade e Maria, com esse espetáculo, é esse abraço que todos estão precisando. Pelo menos desde o dia 25 de agosto, quando, envolvida em uma aura mítica e ao som de "O Quereres" de Caetano Veloso, Fernanda foi embora.

Assistir a esse espetáculo é a resposta para todos aqueles que ficaram desolados com esta partida abrupta. Fernanda Young revive na voz, no corpo e no rosto de Maria Ribeiro no teatro e será assim por algum tempo. Depois voltará a viver a cada obra que ela deixou ao ser lida, relida ou compartilhada. Maria Ribeiro é o carinho para esse nó na garganta que ficou preso no momento em que a escritora se foi. Fernanda quer voltar homem. Hoje está sendo representada por uma grande mulher.

Serviço
"Pós-F" com Maria Ribeiro será apresentado ao vivo pela internet até dia 4 de outubro. Vendas neste link. Após o espetáculo sempre haverá um bate-papo gratuito, às 21h, sempre relacionado com alguém que conviveu com Fernanda Young na própria transmissão ou no Instagram da atriz Maria Ribeiro - 
@mariaaribeiro. Você pode comprar o livro "Pós-F" neste link.




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