sábado, 26 de setembro de 2020

.: Crítica musical: Taiguara, 75 anos e a memória da música popular brasileira


Por
 Luiz Gomes Otero, jornalista e crítico musical.

Cinco anos depois do nascimento de seu ídolo, John Lennon, Taiguara Chalar da Silva nasceu no dia 9 de outubro de 1945 no Uruguai. E quis o destino que ele também seguisse uma carreira na música. E mesmo sendo perseguido implacavelmente pela censura no período do governo militar no Brasil, sua obra permanece perene e atual nos dias de hoje.

Mas o interessante é que sua obra segue atraindo a atenção de críticos pela sua riqueza poética e pela característica visionária de sua produção musical. Sim, ele não somente um músico excepcional e um intérprete singular. Também sabia compor canções que traduziam essencialmente a sua visão de mundo ou mesmo de situações cotidianas que vivenciava.

Ele chegou ao Brasil com quatro anos de idade. Filho do músico Ubirajara da Silva e da cantora de tango uruguaia Olga Chalar, acabou seguindo naturalmente a carreira musical. Nos anos 60, participou de festivais de música onde se projetou especialmente como cantor de canções românticas.

Seus discos lançados nesse período são excelentes e comprovam a força de sua mensagem. Os álbuns "Viagem", "Carne e Osso", "Hoje", "Piano" e "Viola e Fotografias" contém momentos brilhantes. Canções como "Universo do Teu Corpo", "Que as Crianças Cantem Livres", "Teu Sonho Não Acabou", "Amanda", "Berço de Marcela" e "Mudou" são verdadeiras obras-primas de nosso cancioneiro.

O que se passou no início dos anos 70 foi uma perseguição sem precedentes da censura, que via nas letras poéticas de Taiguara mensagens subliminares conta o regime do Governo Militar. Ele chegou a gravar um disco chamado Ymira, Tayra, Ipy, que foi recolhido das lojas nos anos 70. Esse disco, apontado como um dos melhores de sua obra, acabaria sendo relançado somente mais recentemente pela gravadora Kuarup.

Toda essa pressão da censura fez com que Taiguara seguisse para um auto-exílio no exterior. E mesmo gravando um disco em inglês – "Let The Children Hear The Music", não conseguiu fazer com que esse álbum chegasse a ser lançado no Brasil.

Quando voltou ao Brasil, passou a ter resgatada sua obra de forma gradativa com shows pelo país. Eu tive o privilégio de conseguir ir em duas ocasiões em suas apresentações em Santos, sendo uma no ginásio da Associação Atlética dos Portuários e outra no Teatro do Sesc. Em ambas recriou de forma magistral seus sucessos e interpretou outras canções conhecidas como "Aquarela do Brasil".

Infelizmente ele faleceria em 1996, em decorrência de um câncer na bexiga. Tinha apenas 50 anos. Mas deixou uma obra incrivelmente rica e que ainda pode e merece ser revivida pelo público amante da boa música popular brasileira.

Parte de sua história pode ser conhecida com mais detalhes no livro "Os Outubros de Taiguara – Um Artista Contra a Ditadura: Música, Censura e Exílio", de Janes Rocha (Editora Kuarup, 128 páginas).  Mas não deixe de procurar seus discos nas lojas ou mesmo suas músicas nos serviços de streaming. Certamente haverá alguma canção que poderá te surpreender.

"Que as Crianças Cantem Livres"

 "Universo do Teu Corpo"

"Teu Sonho Não Acabou"

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