Qual o limite entre a ficção e a realidade? Romance histórico brinca com essas fronteiras para narrar a luta de uma sobrevivente do Holocausto. O livro "A Viagem de Cilka", sequência do best-seller "O Tatuador de Auschwitz", de Heather Morris, reacende a relação entre a literatura e a educação socioemocional.
O livro "A Viagem de Cilka", que acaba de chegar ao Brasil pela Editora Planeta, faz um poderoso testemunho de como era o cotidiano de uma mulher nos campos de concentração. O fio narrativo da trama é a história real de Cecilia Kovachova, uma jovem de 16 anos que foi feita prisioneira no campo de concentração nazista de Auschwitz, durante a Segunda Guerra Mundial. A obra mescla fatos históricos com um trabalho investigativo com experiências de mulheres sobreviventes do Holocausto.
Em seu segundo livro, a renomada escritora que emocionou milhões de leitores com sua obra anterior, volta com toda a potência que a consagrou e que caracteriza o best-seller no topo da lista de mais vendidos do New York Times, "O Tatuador de Auschwitz". Em "A Viagem de Cilka", Heather Morris transforma Cecilia na personagem Cilka Klein, uma heroína símbolo de luta feminina que já aparece no primeiro livro e que agora ganha o posto de protagonista.
A literatura como testemunho da História
Mas, afinal, por que o gênero romance histórico tem tanto poder de admirar leitores de todas as idades em todo o mundo? Quais os limites entre a realidade e a ficção? Livros como "A Viagem de Cilka", que jogam com dados de realidade e os misturam a elementos ficcionais, reacendem a importância de falar sobre a importância da narração como testemunho e ferramenta potente para reparar feridas históricas, como é o caso deste que é um dos períodos mais sombrios da História, o genocídio de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
"O romance histórico não deve mostrar nem existências individuais nem acontecimentos históricos, mas a interseção de ambos: o evento precisa trespassar e transfixar de um só golpe o tempo existencial dos indivíduos e seus destinos", diz o pesquisador Fredric Jameson, no estudo "O Romance Histórico Ainda É Possível? ". As histórias como ferramenta de cura emocional - Se a filósofa alemã Hannah Arendt estava certa quando disse que "toda dor pode ser suportada se sobre ela puder ser contada uma história", a protagonista de "A Viagem de Cilka" é uma prova potente da resiliência da mulher contra todas as probabilidades.
Ao narrar uma história, nomeamos angústias, damos vazão a sentimentos difíceis e, ao mesmo tempo, ajudamos a compor trajetórias inspiradoras que contribuem para lidar coletiva e individualmente com a dor de uma tragédia. Romances históricos, por seu caráter documental e ao mesmo tempo ficcional, nos colocam diante da dor outro e formula uma linguagem para ela, confrontando o leitor com suas próprias questões.
Faz parte da nossa educação socioemocional como sujeitos lidar com esse enfrentamento, e a literatura pode ser um instrumento bastante eficaz. "É por meio do ‘era uma vez’ que o ato de ir além do mundo, em outras palavras, a metafísica, é introduzida na vida de cada indivíduo", afirma o escritor francês Jean-Claude Carrière no livro "O Círculo dos Mentirosos".
No caso deste livro, a tragédia cotidiana que era ser mulher em um campo de concentração nazista, é revisitada a partir de elementos ficcionais. Os estupros, a violência psíquica, os abusos simbólicos e concretos, o trabalho forçado: tudo isso era rotina para mulheres como a protagonista da história, que precisavam lutar diariamente para sobreviver a uma guerra que só não foi perdida graças à resiliência humana e à capacidade de, por cima da dor, poder contar uma história, exatamente como dizia Hanna Arendt.
Trecho do livro
"Auschwitz-Birkenau, 1944
Cilka observa enquanto centenas de mulheres nuas passam por ela. A neve tem vários centímetros de altura e continua a cair, rodopiando com o vento. Ela puxa a gola do casaco sobre a boca e o nariz, o chapéu quase cobrindo os olhos. As mulheres passam por ela e não se sabe aonde vão, a morte delas é a única certeza. Cilka está paralisada e não consegue se mexer. É como se fosse testemunhar o horror - ela poderá sobreviver a esse inferno na Terra e ser a pessoa que precisará contar o que viu."
Sobre a autora
Nascida na Nova Zelândia, Heather Morris é autora do best-seller número 1 do The New York Times, "O Tatuador de Auschwitz". É apaixonada por histórias de sobrevivência, esperança e resiliência. Em 2003, enquanto trabalhava em um grande hospital de Melbourne, na Austrália, Heather conheceu um senhor que "talvez tivesse uma história para contar".
Esse senhor era Lale Sokolov, o tatuador de Auschwitz, e dessa convivência nasceu o romance, que continua um enorme sucesso de vendas, com mais de 4 milhões de exemplares vendidos no mundo. "A Viagem de Cilka" é o segundo romance da autora. Para saber mais, acesse o site oficial da escritora.
Ficha técnica
"A Viagem de Cilka"
Título original: "Cilka’s Journey" (2019)
Autora: Heather Morris
Assunto: Ficção; Auschwitz; Guerra Mundial
ISBN: 978-85-422-1906-7
Formato: 16 x 23
Páginas: 304
Preço: R﹩ 49,90
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