quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020
.: "O Tremor Magnífico", de Carolina Bianchi Y Cara de Cavalo, estreia
A diretora, dramaturga e atriz Carolina Bianchi partiu de dois pontos cruciais para a criação de "O Tremor Magnífico": o primeiro são as noções de passado e tempo que estão alocadas nos nossos corpos. Outro ponto que orientou a pesquisa é como a História não dá conta das mulheres consideradas violentas.
Com estreia marcada para o dia 4 de março, quarta-feira, 20h, o espetáculo faz curta temporada no Teatro de Contêiner até 26 de março. No dia 12 de março, quinta-feira, 23h, haverá uma sessão extra que integra a programação da MIT off.
"O Tremor Magnífico" é uma tentativa de borrar alguns sentidos da linearidade histórica, misturando fatos ficcionais e fatos reais. Invocando monstros, rainhas, fantasmas, condessas sanguinárias e poetas mortas, que se atravessam em um mashup histórico, violento e molhado. “Como lidamos com o acúmulo de informações de Eras, estilhaços de passado em nosso corpo e em nossa subjetividade?”, questiona-se Carolina. A nova obra vem após o espetáculo LOBO, que atravessou ideias, palcos, espaços e modelos de realização teatral no Brasil; e que se apresenta em abril de 2020 em Nova Iorque (EUA)
A artista argumenta que parece uma contradição a mulher ser cruel, porque a narrativa histórica hegemônica é patriarcal e altamente perigosa para as mulheres. “Deveríamos ser dóceis, senão somos aniquiladas. Tudo que é considerado monstruoso na mulher é aquilo que o homem não consegue dominar”, completa a diretora.
Durante os meses de ensaio, Carolina Bianchi realizou algumas residências para criação e compartilhamento das práticas que envolvem "O Tremor Magnífico". A esses laboratórios ela deu o nome de A Linguagem Diabólica, onde o material foi sendo mexido e revirado por muitas presenças, em muitos lugares, como São Paulo, Rio de Janeiro e no Festival de Teatro de Havana, em Cuba.
“A linguagem diabólica consiste nesse vocabulário de práticas que são o coração da peça. Estudamos muito essa figura do diabo, e rituais de exorcismos. Tudo isso sempre foi parte também de um imaginário colonizador e extremamente complicado. Criaram narrativas sobre bruxas, que eram mulheres de todas as idades que deviam morrer, pois estavam em contato com o demônio, transando e se comunicando com ele. Usavam a figura do diabo para subjugar essas mulheres”, diz Carolina.
Em cena estão Danielli Mendes, Larissa Ballarotti, Marina Matheus, Joana Ferraz, Tomás Decina, Chico Lima, José Artur Campos e a própria Bianchi, que criou uma dramaturgia de quatro ciclos, com quatro saltos no tempo. Entre as fontes de pesquisa do trabalho, estão a natureza do cinema de horror, a literatura sadiana, o romance Orlando, de Virginia Woolf, e a poesia de Emily Dickinson.
"Essa é uma História sobre fantasmas, vampiros e mulheres furiosas e homens nojentos, e bruxas que começaram o que chamamos de ‘mundo’ voando sobre nossas cabeças. Essa é uma história sobre cabeças rolando e mulheres cansadas e uma criança que sabe o segredo do rosto de deus, do rosto do diabo. Essa é uma história sobre a relação sádica, a relação S&M que temos com pessoas que nos foderam historicamente”, sintetiza Carolina.
Carolina Bianchi sobre "O Tremor Magnífico"
Em "O Tremor Magnífico" trabalhamos com a ideia de que essa então é a linguagem oficial. Essa diabólica, essa da escuridão de dentro. O corpo que treme, é um corpo em rebelião monstruosa. Parece ilógico que o tempo opere em ciclos eternos que se repetem ao mesmo tempo em que a História apresenta lacunas que não parecem possíveis de caber numa cronologia, na sequência de fatos como as conhecemos.
Convivemos com milhares de fantasmas desse e de outros tempos. Negociamos a todo tempo essa sensação de já ter vivido o presente porque de fato estamos diante de discussões que parecem as mesmas de 50, 500 anos atrás.
O trabalho lança mão do seu entendimento histórico para tentar rearquitetar irresponsavelmente a trajetória do ser humano como carnífice do horror, do susto e do êxtase e do desejo impossível de se eternizar na linguagem, de compreender a morte.
Estou sempre trabalhando com muitas pessoas. Vivas e mortas. Quando estou a estudar a obra de uma artista que já viveu, sinto que está ao meu lado, a trabalhar comigo. Os nossos ensaios foram um acúmulo de anos, de muitos passados e muitas presenças.
O processo de ensaios durou um ano e alguns meses, e a escrita desse texto durou dois séculos, trabalhamos incansáveis como podíamos, sem qualquer patrocínio ou edital. É exaustivo articular como ensaiar, como levantar obras sem qualquer dinheiro sempre e sempre. Não há nada de heroico nisso. Se essa peça existe agora, é porque morremos muito. Mas também renascemos, porque contamos sempre com muitos apoios. As instituições têm muita dificuldade de bancar meus trabalhos, possivelmente por conta da sua natureza erótica, uma vez que estamos no meio de um ciclo extremamente conservador.
O trabalho lança mão de um universo simbólico, simbiótico e desordenado para um mergulho nessa relação contraditória e irreconciliável com o passado. São muitos rostos, é muita palavra, muita imagem impossível, porque aqui o alfabeto é difícil, a terra difícil, mil anos pra se matar uma língua. Dois minutos para cortar uma cabeça.
Sinopse
"O Tremor Magnífico" é uma tentativa de borrar alguns sentidos da linearidade histórica, misturando fatos ficcionais e fatos reais. Invocando monstros, rainhas, fantasmas, condessas sanguinárias e poetas mortas, que se atravessam em um mashup histórico, violento e molhado. Algumas das referências para a criação da obra assinada pela dramaturga, atriz e diretora Carolina Bianchi são a natureza do cinema de horror, da literatura sadiana, do romance Orlando, de Virginia Woolf e a poesia de Emily Dickinson.
Serviço
"O Tremor Magnífico", de Carolina Bianchi Y Cara de Cavalo
4 a 26 de março de 2020. Quartas e quintas-feiras, 20h.
Haverá sessão extra no dia 12 de março, quinta-feira, às 23h.
Local: Teatro de Contêiner de São Paulo (R. dos Gusmões, 43 - Santa Ifigênia, São Paulo).
Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia). Ingressos antecipados: https://www.ciamungunza.com.br/programacao#o-tremor-magnifico
Classificação etária: 18 anos
Ficha Técnica
Direção, dramaturgia e concepção: Carolina Bianchi.
Em cena e em colaboração na criação: Danielli Mendes, Joana Ferraz, Larissa Ballarotti, Chico Lima, José Artur Campos, Marina Matheus, Tomás Decina e Carolina Bianchi.
Assistência de direção e participação em cena: Luisa Dalgalarrondo.
Produção: AnaCris Medina e Jasmim Produção Cultural.
Luz: João Rios.
Música original: Miguel Caldas.
Desenho de som: Miguel Caldas e Joana Flor.
Pesquisa de trilha sonora: Carolina Bianchi.
Assistência geral: João Gabriel OM.
Figurinos: Antonio Vanfill.
Direção de arte: Tomás Decina.
Assistência de arte e figurinos: Lu Mugayar.
Fotos: Mayra Azzi.
Design gráfico: Érico Peretta.
Vídeos: Thany Sanches.
Efeitos: Gustavo Saulle.
Comunicação: José Artur Campos.
Confabulações de pesquisa y bruxarias de todo tipo: Carolina Mendonça e Rodrigo Andreolli.
Satanismo e sinapses fundamentais: Gabriela Amaral Almeida.
Apoio: Festival Atos de Fala (Felipe Ribeiro e Cristina Becker), Simpatia257 (Katherina), O Andar, Capital 35, Estúdio Fita Crepe, Fazenda Santa Esther, Oficina Cultural Oswald de Andrade (Valdir Rivaben) e a casa do Henrique Lima.
Realização: Carolina Bianchi Y Cara de Cavalo.
Tecnologia do Blogger.
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