terça-feira, 25 de fevereiro de 2020
.: As últimas apresentações de "As Mãos Sujas", de Jean-Paul Sartre
Com direção de José Fernando Peixoto de Azevedo, "As Mãos Sujas" segue em cartaz até dia 1º no CCSP. A partir da obra de Jean-Paul Sartre, espetáculo propõe uma reflexão sobre a política, o indivíduo e o coletivo e adota recursos cinematográficos inspirados pelo filme "Terra em Transe", de Glauber Rocha. Foto: Padu Palmeiro.
Depois de uma bem-sucedida temporada no Sesc Ipiranga, a versão de José Fernando Peixoto de Azevedo para "As Mãos Sujas" do filósofo, crítico e escritor Jean-Paul Sartre (1905-1980), caminha para as últimas apresentações CCSP – Centro Cultural São Paulo. O elenco traz Gabriela Cerqueira, Georgina Castro, Paulo Balistrieri, Paulo Vinícius, Rodrigo Scarpelli, Thomas Huszar e Vinicius Meloni, além do músico Ivan Garro e do câmera Yghor Boy.
A montagem, que foi indicada ao prêmio APCA 2019 (Associação Paulista de Críticos de Arte) nas categorias de melhores espetáculo e ator, conta a história de um jovem intelectual que decide matar o líder de seu partido após este propor uma aliança com conservadores. A encenação de Azevedo estabelece diálogo entre o teatro e o cinema, à medida que imagens captadas ao vivo por uma câmera são projetadas em um telão que é posicionado em vários lugares no palco. “Em seus deslocamentos espaciais, a câmera de fato contracena com os atores. Ela assume uma função de saturar as suas presenças e intensificar planos”, conta o diretor.
A escolha por esses recursos cinematográficos é inspirada no filme "Terra em Transe", uma das obras-primas do cineasta Glauber Rocha, lançada em 1967, cuja estética também inspirou os figurinos e as músicas executadas ao vivo por Ivan Garro. A trilha sonora sobrepõe sonoridades presentes no filme a outras que foram pensadas a partir do texto de Sartre.
José Fernando Peixoto de Azevedo conta que o desejo de montar esse texto surgiu há mais de uma década, em meio a pesquisas feitas em conjunto com a companhia Teatro de Narradores (1997-2016) sobre engajamento político nas artes, que contemplava textos do francês, de Glauber Rocha, do dramaturgo alemão Bertolt Brecht e do cineasta italiano Pier Paolo Pasolini.
O espetáculo elabora o que o diretor nomeia como “deslizamentos temporais”, de modo que a cena transita entre 1943 (ano em que Sartre situa a ação), o presente e interrogações a um futuro próximo. Com esses deslizamentos temporais, a peça discute questões como o conceito de um partido político, o sentido e as consequências das alianças com forças conservadoras e guerra ideológica que vivemos nos dias de hoje.
O diretor complementa que a reflexão também se estende para as condições que o engajamento político impõe a um indivíduo. “Quais são as alianças necessárias para a sobrevivência da esquerda e qual é a real necessidade disso?”, questiona-se.
Sobre José Fernando
Zé Fernando, como é conhecido, é professor na Escola de Arte Dramática,
no Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas e no Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Estudou cinema, possui graduação e doutorado em Filosofia pelo Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, onde defendeu tese sobre o teatro do dramaturgo alemão Bertolt Brecht.
Atua como pesquisador nas áreas de história e estética do teatro brasileiro e do teatro negro, além de estética e filosofia contemporânea. Foi fundador, dramaturgo e diretor do Teatro de Narradores e é colaborador do grupo de teatro negro Os Crespos. Atua também como curador. Dirigiu recentemente o espetáculo "Navalha na Carne Negra" e publicou, pela editora n-1, o volume da coleção Pandemia intitulado "Eu, Um Crioulo" e pelas editoras Cobogó/Sesc como co-organizador, o livro "Maratona de Dramaturgia".
Sinopse
Hugo é um jovem intelectual burguês que se engaja no Partido Comunista
numa região ocupada pelo inimigo fascista. O líder do partido, Hoederer, propõe uma aliança com partidos conservadores, contra o ocupante. Seus companheiros se opõem a essa política de alianças e sua linha conciliatória e decidem eliminar o líder. Para tal tarefa convocam Hugo, como condição para sua legitimação no coletivo, numa espécie de "batismo de fogo". Anos depois, já fora da prisão, Hugo depara-se com os desdobramentos da política do partido.
Ficha Técnica
"As Mãos Sujas"
Texto: Jean-Paul Sartre. Dispositivo de cena e direção geral: José Fernando Peixoto de Azevedo. Assistente de direção: Murilo Franco. Tradução: Homero Santiago. Elenco: Gabriela Cerqueira, Georgina Castro, Paulo Balistrieri, Paulo Vinícius, Rodrigo Scarpelli, Thomas Huszar e Vinicius Meloni. Direção musical: Guilherme Calzavara. Desenho de som e sonoplastia: Ivan Garro. Música em cena: Ivan Garro, Rodrigo Scarpelli e Thomas Huszar. Câmera em cena e edição: Yghor Boy. Iluminação: Guilherme Bonfanti. Operação de luz: Guilherme Soares. Figurino: Marcelo Leão e José Fernando Peixoto de Azevedo. Assessoria para o trabalho de voz: Mônica Montenegro. Consultoria teórica: Franklin Leopoldo e Silva. Assessoria de imprensa: Pombo Correio. Produção: Corpo Rastreado.
Serviço
“As Mãos Sujas”, de Jean-Paul Sartre
CCSP – Centro Cultural São Paulo – Rua Vergueiro, 1000, Paraíso.
Até 1º de março. Às sextas-feiras, sábados e domingos, às 20h. Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$10 (meia-entrada). Bilheteria: de terça a sábado, das 13h às 21h30; e aos domingos, das 13h às 20h30. Informações: (11) 4000-1139.
Ou pelo site: https://www.sympla.com.br/corporastreado. Capacidade: 321 lugares. Duração: 180 minutos. Classificação: 14 anos.
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