A partir do romance de Mário de Andrade e dirigida por Dagoberto Feliz, a peça coloca em pauta o papel de subordinação da mulher na sociedade patriarcal. Elenco traz Luciana Carnieli (indicada ao Prêmio APCA de Melhor Atriz por este papel) e Pedro Daher. Fotos: João Caldas Filho
Escrito em 1927 e considerado o primeiro romance do escritor modernista Mário de Andrade (1893 1945), "Amar, Verbo Intransitivo" ganha uma adaptação teatral com dramaturgia de Luciana Carnieli e direção de Dagoberto Feliz. O espetáculo estreou em maio de 2019 e volta em cartaz no Teatro Eva Herz, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, para uma temporada às sextas-feiras, às 20h, de 31 de janeiro a 27 de março de 2020.
A trama narra a história da governanta Fräulein Elza (interpretada pela própria Luciana Carnieli), que é contratada por uma família tradicional paulista nos anos de 1920 para fazer a iniciação amorosa e sexual de Carlos (vivido por Pedro Daher), o primogênito herdeiro. A partir desse encontro, os personagens vivem uma relação amorosa, revelando críticas sociais e comportamentais.
Leitor da alma feminina, Mário de Andrade constrói uma protagonista que se destaca por sua multiplicidade. A governanta, professora de línguas, de piano e de amor deixa a terra onde nasceu, a Alemanha, e torna-se sujeito de seu próprio destino em território brasileiro. Uma prostituta alemã inserida na sociedade aristocrática de disfarces. A protagonista, apesar de estar colocada no contexto histórico do início do século XX, é ideal para discutir o constante papel de subordinação da mulher na sociedade burguesa e patriarcal.
“Escolhi esse romance porque gosto muito da literatura de Mário de Andrade. Ele construiu uma personagem muito complexa, fascinante, redonda e vertical e eu tive muita curiosidade de me lançar nesse trabalho. Apesar de se passar nos anos de 1920, o romance espelha muito a nossa sociedade atual, na qual a mulher é subordinada ao homem o tempo todo. Por mais que Fräulein tenha sua dignidade e seja intelectualmente e culturalmente superior àquela família, é tratada como um ser inferior – não só pelo fato de ela ser prostituta, mas por ser mulher. Na história, vemos claramente que a sociedade paulistana, a aristocracia e a burguesia não mudaram nada”, revela a atriz Luciana Carnieli, que idealizou a montagem.
A encenação tem como foco central o jogo cênico entre os dois atores, que narram a história e simultaneamente interpretam os personagens. Assim, a linguagem cênica se alterna entre narração e dramatização. A ação transcorrerá em um cenário que simula um estúdio cinematográfico. As partes dramatizadas acontecerão como se estivessem sendo filmadas, acrescentando mais um degrau à história e à linguagem do espetáculo. Literatura, teatro e cinema se intercalam nessa transposição do romance para o palco.
A criação dos figurinos conta com elementos essenciais e necessários para a construção desse universo. A música e a iluminação também darão suporte para retratar o ambiente de aparências e a sociedade patriarcal em que estão inseridos os personagens.
Sobre Dagoberto Feliz – direção
Diretor, ator e diretor musical. Entre seus trabalhos como Diretor Teatral, estão “Godspell”, “Single Singers Bar”, “Chiquita Bacana no Reino das Bananas”, “Avental Todo Sujo de Ovo”, “Folias D’Arc”, “The Pillowman”, “Folias Galileu” e “Hamlet ao Molho Picante”. Como ator, esteve em espetáculos como “Cantando na Chuva”, “Roque Santeiro, o Musical”, “Peer Gynt”, “Palhaços”, “L’Ilustre Molière”, “El Dia Que Me Quieras” e “Otelo”. É vencedor de dois Prêmios APCA com os espetáculos “Chiquita Bacana no Reino das Bananas” (melhor espetáculo infantil) e “Folias Galileu” (melhor direção) e de um Prêmio Shell de Melhor Direção Musical pelo espetáculo “El Dia Que Me Quieras”.
Sobre Luciana Carnieli – dramaturgia
Atriz formada pela Escola de Arte Dramática/ ECA/ USP. Em teatro, atuou em espetáculos como “Roque Santeiro, o Musical”, dirigido por Débora Dubois; “Rainhas do Orinoco”, por Gabriel Villela; “Lampião e Lancelote”, por Débora Dubois (vencedora do Prêmio Femsa de Melhor Atriz Coadjuvante por seu trabalho neste espetáculo); “O Libertino”, por Jô Soares; “Absinto”, por Cássio Scapin; “Estranho Casal”, por Celso Nunes; e “Simpatia”, por Renata Melo.
Ficha técnica
Autor: Mário de Andrade. Adaptação: Luciana Carnieli. Direção: Dagoberto Feliz. Elenco: Luciana Carnieli e Pedro Daher. Música: Dan Maia. Figurino: Kleber Montanheiro. Cenário: Marcela Donato. Iluminação: Túlio Pezzoni. Operação técnica: Sylvie Laila. Assessoria de imprensa: Pombo Correio. Produção: Luminária Produções Artísticas.
Serviço
"Amar, Verbo Intransitivo", a partir da obra de Mário de Andrade
Teatro Eva Herz – Livraria Cultura do Conjunto Nacional – Avenida Paulista, 2073 - Cerqueira César, São Paulo. Temporada: 31 de janeiro a 27 de março de 2020. Às sextas-feiras, às 20h. Ingressos: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia-entrada). Telefone: (11) 3170-4059. Classificação: 12 anos. Duração: 70 minutos.
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