quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

.: "Minhas Queridas" abre as comemorações dos 100 anos de Clarice Lispector

Sesc Pinheiros recebe a estreia em São Paulo do espetáculo "Minhas Queridas", que abre as comemorações do centenário de nascimento de Clarice Lispector. Curta temporada de 9 de janeiro a 8 de fevereiro. Foto: Eduardo Petrini

O Sesc Pinheiros recebe a estreia de Minhas Queridas, com direção de Stella Tobar e interpretação de Marilene Grama e Simone Evaristo. O espetáculo traz um período de 15 anos de correspondências com as irmãs de Clarice Lispector, Tânia e Elisa, apresentando um recorte íntimo dos 24 aos 40 anos de vida da escritora.

Em cartas íntimas, escritas durante o tempo em que Clarice viveu em vários países, acompanhando o marido nos eventos diplomáticos, a escritora revela o amor às irmãs; as lembranças e dores em relação aos pais e as consequências da emigração forçada em meio à guerra na Ucrânia;  as angústias de escritora em relação à construção das suas obras; a maternidade e as questões sobre ser mulher de diplomata.

“Se dizem que sua obra revelava parte de seu mistério, o que dizer das cartas, enviadas a pessoas que amava, familiares e amigos? Nelas, discorrendo sobre todos os assuntos, Clarice deixa-se conhecer sem reservas. E revela a potência e o prazer de lê-la, em qualquer formato”, destaca a diretora Stella Tobar.

A encenação busca a fricção entre a voz das cartas e das atrizes que atuam em um cenário em construção constante. “Essas mulheres encontram-se em trânsito, num local de passagem onde a regra é não criar raízes (ou engessar a atuação)”, ressalta a diretora que completa: “o cenário propositalmente em construção pode remeter a uma estação de trem, um saguão ou quarto de hotel e a um não-lugar. Os objetos de cena, malas e caixas que contém outros objetos carregam memórias de uma vida e, por vezes, são metáfora e símbolos para temas recorrentes na obra da escritora, como por exemplo, o 'Ovo e a Barata'. O cenário também cumpre a função de plataforma para projeções, que com a trilha sonora são mais uma camada de significação da cena e da experiência teatral”.

O projeto para essa montagem foi contemplado pelo Proac Montagens Inéditas/2018 da Secretaria do Estado da Cultura e Economia Criativa e realizou dez apresentações pelo interior de São Paulo, no segundo semestre de 2019.

"Pano de Fundo" por Stella Tobar
Em 1943, aos 23 anos, Clarice estreava com sucesso seu primeiro romance, "Perto do Coração Selvagem".  A escritora ucraniana, judia, foi naturalizada brasileira após o casamento com o diplomata Maury Gurgel Valente. Em 1945, a Segunda Guerra acontecia e Maury foi chamado às pressas em missão diplomática em Nápoles. Clarice o acompanhou.

Ela ainda não sabia, mas seriam 15 longos anos por diversos países. Uma “via crucis”, e “uma prisão”, como escreveu. Esse período como mulher de diplomata, tentando conciliar a carreira de escritora, foi um fardo muito pesado. Ela, que nasceu incumbida de escrever, como dizia, e cuja entrega vertiginosa a este ofício era o que mais desejava no mundo, viu-se sem ambiente para produzir no exterior.

Durante esse tempo finalizou seu segundo romance, "O Lustre" (que já estava praticamente pronto no Brasil), escreveu "A Maçã" no escuro e "A Cidade Sitiada". Quando esteve de passagem no Rio, escreveu os contos que compõem a obra-prima "Laços de Família".

Clarice amava o Brasil, amava Recife e amava o Rio. Viver longe, sem amigos, rodeada por pessoas que não lhe diziam nada, em meio ao ambiente diplomático e seus jantares intermináveis lhe causaram um enorme prejuízo do equilíbrio íntimo e de certa forma lhe tiraram a voz como escritora. Como ela escreve em uma das cartas:

“Sabe quando um touro castrado se transforma em um boi? Assim fiquei eu. Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Nem sei como lhe explicar minha alma. Mas o que queria dizer é que a gente é muito preciosa, e que é somente até um certo ponto que a gente pode desistir de si própria e se dar aos outros e às circunstâncias”.

Assim, a correspondência entre ela e as irmãs Tânia e Elisa representavam um alento e um bálsamo de cura. “Receber carta sua, às vezes, tem o sentido que teria abrir as janelas de um quarto onde eu estivesse fechada há semanas”, escreve em uma carta.

Clarice, que desde o nascimento parecia não ter parada e lugar no mundo, que nasceu em trânsito, em meio à fuga dos pais do horror da guerra; que perdeu a mãe aos nove anos e o pai aos 20, só podia contar com as irmãs, mais velhas que ela; cinco e dez anos.

Portanto, mais do que o cotidiano da escritora, essas cartas de Clarice em Minhas queridas contam sobre a desestruturação de uma mulher que, durante 15 anos, lutou desesperadamente para não se afastar de si e do que era mais importante: sua escrita.

Ficha Técnica - "Minhas Queridas"
Direção e dramaturgia: Stella Tobar
Elenco: Marilene Grama e Simone Evaristo
Trilha original e direção musical: Sérvulo Augusto
Cenário: Kleber Montanheiro
Figurinos: Carol Badra
Iluminação: Adriana Dham
Vídeos: Stella Tobar
Fotos: Eduardo Petrini
Logo do espetáculo: Marcelo Tobar
Operação de luz: Adriana Dham, Giuliano Caratori e Júlio Avanci
Operação de som e vídeo: Stella Tobar e Júlio Avanci
Diretor de produção: João Luís Gomes
Assistente de produção: João Manoel I. Gomes

Serviço - "Minhas Queridas"
De 9 de janeiro a 8 de fevereiro de 2020.
Quinta a sábado, às 20h30. Feriado (25/1), 18h.
Local: auditório (3º Andar)
Duração: 60 minutos
Classificação: 14 anos
Preços: R$ 30 (inteira), R$ 15 (meia entrada: estudante, servidor de escola pública, + 60 anos, aposentados e pessoas com deficiência) e R$ 9 (credencial plena do Sesc - trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes)
Vendas de ingressos: no Portal Sesc e nas bilheterias das unidades.  

Sesc Pinheiros 
Rua Paes Leme, 195
Bilheteria: terça a sábado das 10h às 21h. Domingos e feriados das 10 às 18h
Telefone: (11) 3095-9400
Estacionamento com manobrista: terça a sexta, das 7h às 21h30; Sábado, das 10h às 21h30; domingo e feriado, das 10h às 18h30. Taxas / veículos e motos: para atividades no Teatro Paulo Autran, preço único: R$ 12 (credencial plena do Sesc) e R$ 18 (não credenciados). Transporte Público: Metrô Faria Lima – 500m / Estação Pinheiros – 800m


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