Fabrício Pietro e Camila dos Anjos em cena no texto raro de Tennessee Williams. Foto: Alexandre Inserra
Inspirada em "Not About Nightingales", obra escrita por Tennessee Williams (1911 – 1983) quando tinha apenas 27 anos de idade e descoberta somente nos anos 90, a encenação é dedicada à memória de quatro homens que morreram de tortura em uma prisão americana, em agosto de 1938. O elenco conta com Camila dos Anjos, Fernando Vieira, Fabrício Pietro, Athos Magno, Simone Rebeque e mais 36 atores.
A montagem retrata a atrocidade que realmente ocorreu em uma prisão em Holmesburg, Pennsylvania, em 1938. Um grupo de 25 presos realizou uma greve de fome e como punição foi trancado em uma cela fechada com vapor aquecido. Quatro deles morreram assados, e quando a notícia da brutalidade foi disseminada por meio dos jornais, a opinião pública americana ficou indignada.
“Essa dramaturgia tem uma grande dose de horror, violência, sangue e morte. Ela nos mostra os problemas e as consequências de usarmos ações disciplinares arcaicas e brutais, e que infelizmente, ao relermos setenta anos depois, percebemos que pouca coisa mudou. É uma história verídica que serviu para rever questões do sistema carcerário nos Estados Unidos e dos direitos humanos”, conta Garolli.
Cenograficamente, o espetáculo é dividido em duas características: realista com os móveis da diretoria da prisão e expressionista com a representação das celas. O enclausuramento foi um dos temas focados durante o processo, o que refletiu no cenário que evoca o sentido de aglomeração das pessoas por meio de um empilhamento de cadeiras. Os figurinos incorporam uma época que se passa em meio aos anos 30 e 40, pós crise de 1929. Preto e cinza marcam a palheta de cores predominantes em cena, a maquiagem contribui para causar o efeito padronizado do aprisionamento.
O reaparecimento desse trabalho engavetado de um autor como Tennessee Williams chocou e surpreendeu muitos críticos e estudiosos, quando foi realizada a montagem pela primeira vez em Londres no ano de 1998. Escrito no final de 1938, mas nunca produzido até sessenta anos depois, a obra oferece um retrato muito diferente de seu autor ícone, um dramaturgo que é mais conhecido por seu lirismo e comoventes retratos de personagens tão vulneráveis como Laura Wingfield ("À Margem da Vida") e Blanche DuBois ("Um Bonde Chamado Desejo").
André Garolli ressalta a importância desse texto do dramaturgo. “Tennessee defendia uma crítica aos padrões estabelecidos pelo ‘mainstream’ e coloca em pauta o marginalizado, ‘os perdedores’ e os fora do padrão normativo (à deriva). Lança um olhar crítico e distanciado sobre a sociedade, uma vez que se recusa a julgar os personagens e estabelecer morais de conduta”.
A peça surgiu a partir do projeto "Homens À Deriva", contemplado no 32º edital de Fomento ao Teatro, iniciativa que aborda as possibilidades de aprisionamento que uma sociedade pode levar uma pessoa. Durante o processo, houve uma convocatória pública direcionada para atores e estudantes da área e atraiu 217 pessoas que participaram de diversas fases até fechar o elenco de 40 atores/atrizes, composto por um núcleo principal de três artistas e um coro com jovens atores.
Na primeira etapa, a Cia. Triptal realizou a apresentação de quatro espetáculos que abordam o tema do aprisionamento, três deles do seu próprio repertório, além de um ciclo de seminários. A segunda focou em oficinas de preparação para atores/atrizes. A terceira contou com estudos de texto, pesquisa de linguagem, improvisação de cenas até a consolidação dos ensaios.
O projeto "Homens à Deriva" faz parte de uma trilogia que iniciou com "Homens Ao Mar" (2004-2009) com peças de Eugene O'Neill, o segundo foi "Homens à Margem" (2011- 2014) com trabalhos que focavam na marginalidade. “'Homens à Deriva' vem do sentindo que quando eles são retirados da sociedade para o cárcere, ao retornar, ficam a esmo, emprego e família ficam destruídas. Todos esses tipos de violência foram gatilhos que inspiraram toda a montagem”, enfatiza o diretor.
André Garolli também foi convidado para participar do Provincetown Tennessee Williams Theater Festival, realizado em setembro de 2019 em Provincetown, cidade localizada no estado de Massachusetts, nos Estados Unidos. Uma forma de ficar ainda mais próximo com o universo do dramaturgo e uma valorização dos projetos realizados nos últimos anos.
Ficha Técnica:
"Inferno - Um Interlúdio Expressionista"
Inspirado no texto "Not About Nightingales", de Tennessee Williams, dentro do projeto "Homens À Deriva". Direção: André Garolli. Assistente de direção: Mônica Granndo. Elenco: Camila dos Anjos, Fernando Vieira, Fabrício Pietro, Athos Magno, Simone Rebequi e mais 36 atores. Produção: Cia. Triptal. Assistência de produção geral: Giulia Oliveira. Assessoria de imprensa: Adriana Balsanelli e Renato Fernandes. Projeto contemplado pelo Programa Municipal De Fomento Ao Teatro Para A Cidade De São Paulo 32ª Edição – 2018.
Serviço:
VIGA Espaço Cênico.
Rua Capote Valente, 1323 - Próximo ao metrô Sumaré. Telefone: (11) 3801-1843. Temporada: de 27 de janeiro até 18 de fevereiro de 2020. Segundas e terças, às 21h. Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia). Duração: 100 minutos. Classificação: 16 anos. Capacidade: 80 lugares.
Lembro da Camila dos Anjos em Essa Mulheres. Grande atriz.
ResponderExcluirVerdade!! Ela brilhou na novela "Essas Mulheres". Produção inesquecível!
ExcluirValeu por comentar.
Grande abraço.
Verdade!! Ela brilhou na novela "Essas Mulheres". Produção inesquecível!
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Grande abraço.