A peça se passa dentro da sala de Luiz Henrique (Nelson Baskeville), diretor da maior empresa de gás liquefeito de petróleo. Anna (Natalia Gonsales), uma jovem cineasta, vai ao seu encontro em busca de recursos para a realização de um filme sobre a Revolução de Rojava, no norte da Síria.
A cineasta narra o roteiro de seu filme e a importância político-social deste, cruzando histórias de mulheres curdas torturadas da Síria com memórias de mulheres na ditadura brasileira de 64. “Ao olhar para nós à luz dessa revolução, vemos as mulheres que nos geraram, e antes delas, as que geraram nossas mães, e antes delas, as outras, e as outras, e as outras e todas nós. Ao olhar para nós à luz da Revolução de Rojava, sabemos que queremos e que podemos acreditar em utopias por meio de um trabalho diário que deixe nascer outras formas mais justas e libertárias de se pensar e viver”. Complementa a dramaturga Marina Corazza.
A tensão entre os dois personagens vai crescendo durante o espetáculo. Luiz, que viu Anna crescer, tem um olhar paternal para com ela e conforme a cineasta conta sobre o seu projeto e a importância da luta curda, relações dúbias de opressão e falta de escuta são estabelecidas. Em um plano que atravessa o presente, a jovem cineasta fala de sua mãe, presa política na ditadura de 64. O papel contraditório de financiamento das artes por grandes empresas também perpassa toda a peça.
Abre-se com isso mais uma camada crítica na peça a respeito da política cultural e as contradições que incluem valores éticos e morais para a realização de um produto altamente desvalorizado no mercado atual. “Encenar a luta curda pela democracia revela contradições do sistema democrático ocidental que se apresenta na forma atual do patriarcado, sustentado pelo Estado e pela hierarquia. A forma de Estado-Nação aliado ao Capitalismo é um modelo baseado nas dominações de classe, gênero, etnia e religião associado à competitividade econômica, impossibilitando assim, que a nação alcance os objetivos de liberdade, igualdade e justiça social”, explica Natalia.
A encenação de Sandra Corveloni propõe um encontro entre teatro e audiovisual tendo projeções sensitivas e trilha sonora original, criando um clima de sala de cinema, para falar da Revolução de Rojava ou Confederalismo Democrático do Norte da Síria. "Fóssil possui uma dramaturgia bastante profunda, com camadas de informações e sentimentos que aparecem à medida em que o texto avança. A montagem que é ao mesmo tempo teatral e cinematográfica, nos leva a refletir sobre questões como os direitos das mulheres, a democracia, as fronteiras e a arte", comenta a diretora.
Natalia Gonsales finaliza: “hoje é comum ouvir a população curda de Rojava e de outras regiões do Curdistão defender a vida sem um Estado. Os curdos lutam pela autonomia de seu povo e de outras etnias sem representatividade. Buscam a conscientização democrática, o direito à educação na língua nativa, o acesso ao sistema público de saúde, a proteção do meio ambiente e a liberdade de expressão. Uma política que se tornou referência libertária no mundo.”
Uma cineasta busca, em uma grande distribuidora de gás, recursos para realização de seu filme sobre a Revolução de Rojava, onde nasce um processo radical de democracia participativa com forte atuação das mulheres curdas. Durante a apresentação do projeto, ela é atravessada pelo passado recente da nossa história e se defronta com as contradições de ter sua obra patrocinada.
"Fóssil"
Ficha Técnica
Idealização: Natalia Gonsales
Dramaturgia: Marina Corazza
Direção: Sandra Corveloni
Com: Natalia Gonsales e Nelson Baskerville
Música Original: Marcelo Pellegrini
Desenho de luz: Aline Santini
Figurino: Leopoldo Pacheco
Cenário: Carol Bucek
Videografismo e videomapping: André Grynwask e Pri Argoud (Um Cafofo)
Assistência de direção: Felipe Samorano
Assistência e operação de luz: Pajeú Oliveira
Operação de som: Pedro Ricco
Projecionista: André Grynwask
Assessoria de imprensa: Pombo Correio
Assessoria de midias sociais: Barbara Berta
Fotos de divulgação: Ronaldo Gutierrez e Haroldo Miklos
Registros fotográficos do Curdistão: Alexandre Auler, Fabio Braga e Virginia Benedetto
Agradecimento especial: Gabriel Chaim
Aulas sobre os conflitos do Oriente Médio: Reginaldo Nasser
Realização: Bem Casado Produções Artísticas
Direção de produção: Leticia Gonzalez e Contorno Produções
Produção executiva: Leticia Gonzalez
Agradecimentos: Alexandra DaMatta, André Luis de Oliveira Santos, Anelise Csapo, Angela Fernandes, Angélica Inês Corazza, Angélica Freitas, Atílio Bari, Bia Toledo, Bruno Guida, Cia dxs Terroristas, Décio Previato, Diego Dac, Emerson Mostacco, Flávio Tolezani, Gabriel Chaim, Haroldo Miklos, Lívia Carmona, Luiz Farina, Malú Bazán, Marcelo Dantas, Marco Antonio Gonsales, Marcos Litran, Marco Antonio G. R. de Oliveira, Maria Fernanda Vomero, Marina Tranjan, Melike Yasar, Murilo Gaulês, Natália Corazza Padovani, Patrícia Campos Melo, Pedro Granato, Reginaldo Nasser, Renato Caldas, Riba Carlovich, Silvana Janeiro e Virginia Cavendish.
Serviço:
"Fóssil"
De 9 de janeiro até 2 de fevereiro, quinta a sábado às 21h30 e domingo às 18h30. Espaço Cênico.
Duração: 70 minutos.
Classificação: 14 anos.
Venda online a partir de 17 de dezembro, terça-feira, às 12h.
Venda presencial nas unidades do Sesc SP a partir de 18 de dezembro, quarta-feira, às 17h30.
Ingressos: R$ 9 (credencial plena/trabalhador no comércio e serviços matriculado no Sesc e dependentes), R$ 15 (pessoas com +60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino) e R$ 30 (inteira).
Sesc Pompeia – Rua Clélia, 93.
Não temos estacionamento. Para informações sobre outras programações, acesse o portal: sescsp.org.br/pompeia
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