quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

.: "Encerramento do Amor" faz últimas sessões no Viga Espaço Cênico

Cena de "Encerramento do Amor". Foto: Washington Bonini


Público paulistano tem só mais esse fim de semana para conferir a versão brasiliense da obra Clôture de l'Amour do dramaturgo francês Pascal Rambert. A temporada do espetáculo "Encerramento do Amor" segue até 2 de fevereiro, com sessões sextas e sábados às 21h e domingo às 19h, no Viga Espaço Cênico. O texto tem tradução de Marcus Vinícius Borja, direção de Diego Bressani e traz no elenco Ada Luana, João Campos e Taís Felippe.

Em uma discussão que precede o fim de um relacionamento, apenas uma pessoa fala ininterruptamente, separados apenas por um breve número de sapateado. Dentro de uma grande sala, uma mulher e um homem conversam, é ele que começa o diálogo. Ela escuta, atenta, e lhe responde com um segundo monólogo. Eles evocam sua separação, falam do antes e do agora. Eles têm armas iguais, mas não as utilizam da mesma maneira. Há dois olhares, dois silêncios, dois discursos para dizer sobre a violência de um amor que vive seus últimos suspiros diante do público.

Para o diretor Diego Bressani, o texto foi o foco principal no processo de montagem. “Pesquisamos subsídios que pudessem favorecer esse elemento em sua forma mais essencial, buscando experimentar e colocar em cena só o que julgássemos realmente necessário. Trabalhamos muito com a ideia de uma instalação sonora, em que cada um faz o seu monólogo para encerrar, à sua maneira, aquela relação. A partir daí, outros elementos surgiram da forma mais simples e orgânica possível. Procuramos seguir o texto original à risca e abraçar, à nossa maneira, as propostas por ele sugeridas”, explica.

O desejo de montar a versão brasileira veio da atriz Ada Luana, que viu na ousadia do texto não somente um grande desafio como intérprete, mas também a potencialidade das relações humanas. O tradutor Marcus Vinícius Borja assistiu o espetáculo em sua estreia na França em 2011. Muito impactado com a obra, surgiu a ideia de montar uma versão brasileira com a atriz, mas a distância impossibilitou a parceria.  A peça estreou no Cena Contemporânea 2018 - Festival Internacional de Teatro de Brasília - e passou também pelo Festival do Teatro Brasileiro/Janeiro de Grandes Espetáculos, em Recife.

Ada convidou, então, o ator João Campos e seus parceiros do grupo S.A.I (Setor de Áreas Isoladas), Diego Bresani e Taís Felippe para realizar a montagem. “Por meio dos caminhos de direção e atuação decidimos expandir a discussão sobre o término de um relacionamento também para as questões de gênero. O abuso emocional nas relações afetivas, a violência psicológica, o machismo, o empoderamento feminino, temas atuais e urgentes. Nesse sentido, creio que há um diálogo direto com o conceito de ‘amor líquido’, do filósofo francês Zygmunt Bauman (1921-2017).

“A peça não trata, necessariamente, de um amor romântico, no sentido mais clássico e tradicional da palavra. É um retrato atual da humanidade e suas relações afetivas, de gênero. É real, sem filtros, um espelho muito próximo para os espectadores. E muitas vezes incômodo. Levamos à cena um amor em transição, que busca um caminho ao se ver perdido, muitas vezes atropelado pela velocidade e urgências do mundo”, completa João Campos.

A pesquisa do grupo sobre a obra de Pascal Rambert se debruça sobre o verbo e a escuta como elementos estruturantes na construção da narrativa e condução da expressividade no palco. O formato contemporâneo proposto pela encenação do texto francês remete o espetáculo à uma intensa paisagem sonora. A distância entre os corpos no palco, a limpeza e simplicidade do figurino e cenografia e a iluminação fria reforçam e conduzem o foco da experiência cênica ao trabalho dos atores, ao ato de falar e de ouvir.

“Não há nada mais universal do que esse sentimento que tanto nos fascina e nos corrói. E o término dessa relação, escrito de forma tão genial por Pascal Rambert, acaba por abarcar diversos outros temas fundamentais para serem debatidos hoje, não só no Brasil, mas no mundo todo: afeto, família, incomunicabilidade, liberdade, violências contra mulher, machismo. Tudo vem à tona quando se decide falar de forma tão visceral sobre o amor”, fala João Campos.

Encenada pela primeira vez no Festival de Avignon em 2011, a peça recebeu o Grand Prix de Literature Dramatique em 2012, assim como o prêmio de melhor atriz e autor no Palmarés du Théâtre 2013. O texto foi escrito para os atores franceses Audrey Bonnet e Stanislas Nordeye. Após a temporada francesa, surgiram diversas versões da peça com atores de diferentes culturas e línguas.

Sobre o autor: Pascal Rambert foi diretor do Théâtre de Gennevilliers (T2G), do qual transformou em Centro Dramático Nacional de Criação Contemporânea, dedicado ao teatro, dança, ópera, arte contemporânea, cinema e filosofia. Suas criações são apresentadas internacionalmente e seus textos foram traduzidos para diversas línguas. Suas obras são apresentadas nos principais festivais da Europa: Montpellier, Avignon , Utrecht, Berlim, Hamburgo, Nova York e Tóquio. Pascal Rambert encenou também várias óperas na França e nos Estados Unidos.

Sobre o diretor: Diego Bresani é fotógrafo e diretor de teatro, graduado em Artes Cênicas pela Universidade de Brasília em 2006. Iniciou a carreira de direção como assistente de Antônio Abujamra e Hugo Rodas no espetáculo Os Demônios que teve temporada no CCBB (Brasília e Rio de Janeiro). Dirigiu diversos espetáculos, entre eles A História do jardim Zoológico (2006) - classificado entre as 10 melhores peças do ano em São Paulo pela Revista Veja. No mesmo ano foi indicado ao prêmio de Melhor Direção - Prêmio Sesc de Teatro Candango. Dirigiu A trilogia sobre a violência da Cia. Setor de Áreas Isoladas, composta pelos espetáculos: Vialenta, Terapia de Risco e Qualquer Coisa eu Como Um Ovo. Todas as peças foram indicadas aos prêmios de Melhor Direção e a Melhor Espetáculo (Prêmios SESC), nos anos 2010, 2012 e 2013 respectivamente. Com as peças viajou para diversos festivais no Brasil, entre eles o Janeiro de Grandes Espetáculos, em Recife.

Ficha técnica:
Texto: Pascal Rambert.  Tradução: Marcus Vinícius Borja. Direção: Diego Bressani. Elenco: Ada Luana, João Campos e Taís Felippe. Iluminação: Diego Bressani. Fotografia: Henri dos Anjos. Cenografia e figurino: Companhia Setor de Áreas Isoladas. Produção: Taís Felippe. Assessoria de imprensa: Adriana Balsanelli. Realização: Companhia S.A.I (Setor de Áreas Isoladas).

Serviço:
Encerramento do Amor
Temporada: Até 2 de fevereiro – Sextas e sábados, 21h. Domingos, 19h.
Ingressos: R$30 (inteira) e R$15 (meia entrada).
Duração: 80 minutos.
Classificação etária: 14 anos.
Viga Espaço Cênico – Rua Capote Valente, 1323.
Capacidade teatro: 73 lugares. Informações: (11) 3801 1843.

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