sábado, 4 de janeiro de 2020

.: “Deslembro”: a identidade da família que conversa em três idiomas


Por Oscar D’Ambrosiojornalista e crítico de arte.

Uma das principais vantagens de lembrar o passado na arte é que se trata de uma ação para que não seja repetido. Nesse sentido, filmes que enfocam as ditaduras na América Latina, sejam no Brasil ou no Chile, como é o presente caso, são muito bem recebidos, principalmente por tratarem a questão não como frio documentário, mas sob aspetos humanistas.

A diretora brasileira Flavia Castro, em “Deslembro”, enfoca uma família que conversa em três idiomas ao mesmo tempo. Ela volta da França para o Brasil com os benefícios da anistia, mas o retorno não é simples nem harmonioso. A rebelde filha adolescente (a promissora Jeanne Boudier), chega a rasgar o passaporte para tentar não viajar com a mãe, que perdeu o ex-marido como desaparecido político no Brasil, com um novo parceiro, um ativista político chileno e dois irmãos mais novos.

Entender o passado é um esforço e inclui o momento em que a filha consegue reconhecer a casa em que o pai foi preso pelas forças policiais. Eliane Giardini, como avó paterna da jovem rouba a cena com simpatia e carinho e pela neta e com a dor represada de nunca ter encontrado o corpo do filho.

Em meio a isso tudo, a protagonista descobre o sexo, as drogas e a música brasileira. Fala francês com a mãe; espanhol com o padrasto; e português com a avó, muitas vezes mesclando os idiomas, numa clara demonstração de sua mistura de identidades, de vozes e de visões de mundo, senso o ícone de um mundo globalizado em busca de uma identidade talvez cada vez mais impossível de encontrar.

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