“A história a seguir se passa, no geral, em um Vaticano em crise, atolado em escândalos, mas incapaz de seguir soluções simples, ciente da necessidade de mudar, porém temeroso das perdas que tais mudanças trarão, com um papa que - graças ao seu passado - sente não ter a autoridade moral, as habilidades e a força para lidar com tais escândalos, e um novo papa que - graças ao seu passado - baseia sua liderança espiritual sobre dois bilhões de seguidores na admissão de que é um pecador”.
“Na longa história da Igreja, três papas renunciaram, enquanto outros 263 mantiveram a função até o fim da vida”. O papa Gregório XII renunciou em 1415 em meio a uma disputa política entre a Itália e a França pelo controle da Igreja Católica. Mas precisamos voltar até 1294, para Celestino V, para encontrar um pontífice que decidiu abandonar o cargo por vontade própria - em nome do “anseio pela tranquilidade de sua vida anterior”.
Tudo ia bem após a morte do Papa João Paulo II - um nome-fenômeno que havia alçado a Igreja Católica a áureos patamares de mídia e alcance global. O então cardeal Joseph Ratzinguer assumiu a frente das cerimônias póstumas e conduziu a Igreja ao Conclave – processo de escolha de um novo Papa - que elegeria o 265º chefe máximo da Igreja Católica, quando os fieis veriam a tão esperada fumaça branca, que anuncia a escolha, saindo da chaminé da Capela mais famosa do mundo.
Nos bastidores, rumores e vazamentos davam conta de que a disputa estava entre um desconhecido argentino chamado Jorge Mario Bergoglio, um nome que dividia opiniões dentro da Igreja por suas visões mais progressistas e um polonês, Joseph Ratzinger, que dividia o grupo pelo oposto motivo: um ferrenho conservador.
Longe de desejar para si tanto poder e notoriedade, Bergoglio voltaria para casa feliz após Bento XVI, o cardeal Ratzinger, ter assumido o papado. Prepararia sua aposentadoria enquanto chefe da Igreja na Argentina, em Buenos Aires, e passaria a viver como sempre desejou: dedicando-se aos necessitados. Para a surpresa de todos, o papa Bento XVI fez história rapidamente: foi o primeiro a renunciar em quase 600 anos, o que desnorteou e abalou a Santa Sé.
Em rápido Conclave, não houve escapatória para o argentino, agora eleito Papa Francisco, o primeiro Papa latino-americano da História. Como podem conviver dois Papas, líderes máximos, com visões tão opostas? Como resistiria a Igreja frente a tão inédito acontecimento? Quem os fieis e líderes católicos reconheceriam como líder? Como se dividiria a Igreja a partir de agora: conservadora ou reformista?
Todos estes aspectos suscitados pela renúncia de Bento e pela ascensão de Francisco se contornam com os frequentes escândalos de acusação de abusos infantis envolvendo membros da Igreja Católica, incluindo cardeais e a trajetória de cada um. Francisco, hoje de opiniões liberais, fora acusado durante toda a carreira eclesiástica de ser um conservador, porém atento à necessidade da Igreja se adequar aos costumes seculares e a reconhecer os erros que cometeu durante sua trajetória; e Bento, que no início da carreira como teólogo tinha tendências progressistas e libertadoras, mas que acabou tornando-se um conservador de referência na Igreja.
A postura de ambos daria o tom do papado de cada um, mas como definir cada um dos papas vivos? São inimigos? Ou suas ideias convergem? Como fica a igreja com dois papas? O senso comum nos leva a pensar que, sim, divergem, mas a história narrada por McCarten em “Dois Papas - Francisco, Bento e a Decisão que Abalou o Mundo” revela que há aspectos na trajetória de ambos que os fieis desconhecem – e que os unem de maneira que não poderíamos imaginar.
Tidos como pontífices “opostos” por suas visões e opiniões sobre o papel da Igreja no Séc. XXI, os dois têm origens distintas na vida, na igreja, nos passos da ascensão eclesiástica e no que acreditam ser obrigação da Igreja quando o assunto é política, mas ganharam notoriedade no Vaticano por obra do mesmo nome: João Paulo II, o homem que os convidou para ocupar cargos importantes na Santa Sé.
Com forte referencial histórico, o livro aborda curiosidades sobre o Vaticano, a Cúria, parte do papado de João Paulo II, “o Grande” (assim chamado informalmente), e mergulha nos rituais e tradições católicos, como o Conclave, os Sínodos (reunião magna de bispos com o Vaticano) e os jogos políticos que estão por trás da escolha de um nome para comandar a Igreja. Que mensagem quer passar a Igreja ao mundo? Deveria ela se adaptar à rápida transformação social pela qual passam as nações ou reafirmar as tradições? Como responder ao declive de fieis? São alguns dos desafios do Papado de Francisco, que, hoje, dialoga ativamente com o Papa Emérito Bento XVI – questões essas que tenta responder o livro.
Sobre o autor
Anthony McCarten é escritor, roteirista e produtor neozelandês. Já escreveu diversos livros e peças de teatro, e foi indicado ao Oscar de Melhor Filme e Melhor Roteiro Adaptado pelos filmes A teoria de tudo e O destino de uma nação.
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