quarta-feira, 30 de outubro de 2019

.: Crítica do filme “Parasita”: a dor da existência


Por Oscar D’Ambrosio*, em outubro de 2019.

Vencedor do Festival de Cannes, “Parasita” é um filme sul-coreano que começa como uma comédia, torna-se uma tragédia e tem um final esperançoso, em que curiosamente acabamos por torcer por aqueles que aparentemente são os malvados da história. A narrativa, assim, tem reviravoltas constantes em que o riso se torna pranto.

O diretor Bong Joon-ho demonstra grande habilidade ao tratar das desigualdades sociais. O que começa com aparente maniqueísmo se torna um universo de relatividades, pois o chefe de uma família que aplica pequenos golpes, por exemplo, passa de um inescrupuloso líder para um sofrido personagem, que lamenta a morte da filha.

O filme mostra o cruzamento de três famílias em uma luxuosa residência de moderna arquitetura. Os donos da casa são um alto executivo pleno de preconceito contra as pessoas de baixa renda, uma esposa vazia intelectualmente, uma jovem adolescente carente e um menino com inclinações artísticas.

Seu contraponto é uma família de aproveitadores que se insere na casa como trabalhadores. Esse segundo grupo tem como líder um pai que adora tomar decisões rápidas guiadas pelo destino; a esposa, capaz de qualquer coisa para sobreviver; a bela e inteligente filha, que poderia cursar qualquer universidade; e um filho pleno de bons sentimentos, apesar de conivente com as falcatruas.

Entre os ricos que são enganados e os pobres enganadores está um casal que tudo desestabiliza. A ex-governanta da casa, alérgica a pêssego, e o seu marido, um endividado personagem que vive no porão, transformam-se de presas a predadores, num dos melhores momentos do filme.

Não deixe de ver essa alegoria dos tempos modernos, em que a tecnologia é onipresente e a violência impera perante insolúveis questões envolvendo distintas camadas sociais, impossibilidade de ascensão e a dor da existência, que a todos contamina, independendo do montante financeira que tenham.



Oscar D’Ambrosio* é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e pós-doutorando e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

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