Livro-reportagem vencedor do Jabuti ganha nova edição, pela Intrínseca, que passa a ter em seu catálogo a obra completa da premiada autora
O paradeiro do corpo de Milton Soares de Castro foi um dos segredos mais bem guardados da ditadura militar. Um dos únicos civis a participar da Guerrilha de Caparaó, a primeira tentativa de levante armado contra o regime, ocorrida na divisa dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, o militante gaúcho foi preso no dia 1º de abril de 1967, junto a sete companheiros.
Menos de um mês depois, apareceu morto numa das celas da Penitenciária de Linhares, em Juiz de Fora - mas seu corpo sumiu, e os militares forjaram documentos para sustentar a versão de suicídio. Em "Cova 312", vencedora do Prêmio Jabuti em 2016, na categoria melhor livro-reportagem, que agora ganha nova edição pela Intrínseca, Daniela Arbex desconstrói a tese criada pela ditadura - contestada por familiares e amigos da vítima.
Além disso, também recupera a trajetória da guerrilha de Caparaó, sufocada pelos militares antes mesmo que começasse. Com este relançamento, que conta com um projeto gráfico arrojado e um posfácio inédito assinado pela autora, a Intrínseca passa a ter em seu catálogo a obra completa de Daniela.
No livro, a autora reconstitui magistralmente a vida, a morte e o desaparecimento de Milton, preso quando tinha apenas 26 anos. Ao entrevistar dezenas de personagens - alguns na vida política até hoje, como Nilmário Miranda, ex-ministro dos Direitos Humanos e atual secretário estadual de Direitos Humanos e Cidadania de Minas Gerais -, Daniela descortina o dia a dia em um dos principais centros de detenção do regime autoritário, até então quase desconhecido do grande público.
Não satisfeita com as informações que já tinha em mãos, a repórter investigativa vai atrás do corpo do militante até encontrá-lo, na sepultura número 312, quadra L, do cemitério municipal de Juiz de Fora, enterrado como indigente. A busca minuciosa de Daniela durou mais de uma década e mudou o curso da história: após a publicação da descoberta, a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos modificou, oficialmente, a causa da morte do guerrilheiro.
Daniela Arbex trabalhou por mais de 20 anos como repórter especial do jornal Tribuna de Minas. Suas investigações resultaram em mais de 20 prêmios nacionais e internacionais, entre eles o Esso, o IPYS de melhor investigação da América Latina, o Knight Journalism Award (EUA) e o Natali Prize (Europa).
Estreou na literatura com "Holocausto Brasileiro" e em seguida lançou "Cova 312", com os quais ganhou, em 2014 e 2016, o segundo e o primeiro lugares do Prêmio Jabuti na categoria livro-reportagem. O best-seller "Holocausto Brasileiro" foi adaptado como documentário e lançado pela HBO em 40 países. Pela Intrínseca, a autora lançou também Todo dia a mesma noite, em 2018. Mãe de Diego, Daniela mora em Minas Gerais.
“O tema pode parecer pesado e, como trata de episódio ainda mal resolvido da história recente brasileira, difícil de digerir. Seria assim se não fosse a capacidade prodigiosa de Daniela Arbex de transformar histórias trágicas em uma narrativa fluida, atraente, poética”, Laurentino Gomes, no prefácio de "Cova 312".
quinta-feira, 3 de outubro de 2019
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