Por Denise Fraga, em setembro de 2019.
Não há melhor espelho do que o outro. Sabemos quem somos a partir do que reverberamos. É́ urgente ver o outro, olhar pelo olhar do outro, ser eu de você. O que seria de nós se pudéssemos ser eu de você e você de mim, deixando-nos ambos atravessar por nossas experiências? Esta é a temática do meu novo espetáculo, "Eu de Você", que estreia no próximo dia 19 e que marca também a volta do Teatro Vivo à cena cultural paulistana após uma grande revitalização.
Sou do tipo de pessoa que vai ao mercado e volta com uma história. Sempre me encantei pelo cotidiano, sempre me fascinaram as diversas formas de vida e a criatividade de cada um para resolver nossos eternos problemas. O que nos difere? O que nos iguala? O que é capaz de tornar cada um de nós especial?
Também sou do tipo de pessoa que ama os escritores, os poetas, os músicos, os artistas. São eles que nos salvam da mediocridade, que embelezam nossos dias comuns, que dão voz à nossa angústia e palavras para o que nos fica na garganta.
Que seria de nós sem os poetas? E o que seria deles sem a vida comum? É dessa mistura que surge a ideia de nosso "Eu de Você". O que tem em comum a Cris, o Paulo Leminski e o Zezé di Camargo? Tchekhov, eu e Francisco? Pelo que a avó do Felipe estava chorando enquanto os Beatles compunham mais uma canção? O que fará o Wagner quando ouvir o que Chico Buarque fez com o seu também coração partido?
Costumo dizer que a arte ajuda a gente a viver, que quem lê Dostoiévski e Fernando Pessoa, no mínimo, vai sofrer mais bonito. Porque sofrerá com companhia, sofrerá com a cumplicidade dos poetas. Entenderá que fazemos parte de algo maior, que pertencemos à roda da humanidade, seus dilemas eternos e sua fatídica imperfeição.
Podemos, assim, rir de nós mesmos. Porque rimos do que entendemos. Rimos quando conseguimos assistir a própria vida enquanto ela passa. Acredito no humor como uma arma poderosa para a ampliar nossa consciência e sabedoria. Acredito no Teatro como um ritual de reflexão. E acredito que há uma fronteira preciosa no ofício de representar, um fino fio entre o humor e o drama que é um terreno fértil de comunicação, meu lugar favorito. É aí que mais uma vez quero estar.
Resolvi subir no palco para um solo, mas jamais estarei sozinha. Estarei com a Fátima, com o Bruno, com a Clarice, com a Dona Maria. E, como não poderia deixar de ser, com os poetas. Convidamos artistas de extremo talento, criadores cujos trabalhos admiramos há muito tempo, para juntos, em parceria, tecermos este bordado da vida com a arte.
Luiz Villaça, premiado cineasta, roteirista, criador e diretor de teatro de reconhecimento internacional, que tem nos tocado sempre com seu humor delicado, sua compreensão humana e sua inquietude, criando pequenas pérolas de nossa cena no cinema e no teatro. A diretora de arte Simone Mina, multiartista, professora, figurinista, artista plástica, cenógrafa, premiada por importantes parcerias na cena teatral. Rafael Gomes, criador, roteirista, dramaturgo e diretor de teatro e de cinema, responsável por montagens teatrais de reconhecimento nacional. Kenia Dias, pesquisadora, encenadora e pedagoga no campo da dança e do teatro, desenvolve trabalhos que tem a corporalidade, teatralidade e composição como diretrizes, com o foco nas dinâmicas do movimento e suas relações com a improvisação. E Fernanda Maia, musicista, diretora musical, maga extraordinária da composição de vozes para diversos espetáculos. Pessoas que admiro muito e que tenho a imensa honra de estar na companhia para este trabalho.
Temos a alegria de contar, desta vez, com o patrocínio de dois novos parceiros, empresas que acreditam no valor da Arte, da Cultura, do Teatro e, principalmente, dos Artistas para o contínuo enriquecimento subjetivo e cultural de um povo, imprescindíveis para o crescimento de um país: BB Seguros e Vivo, que através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, tornam a criação deste trabalho uma realidade. E uma alegria maior ainda, que é estrear com a abertura do novo Teatro Vivo, um equipamento moderno e necessário para o público de São Paulo e produções de todo país.
Nosso "Eu de Você" foi construído na sala de ensaio. Nossa matéria prima são as histórias reais costuradas com pérolas da literatura, música, imagens e poesia. Recolhemos as histórias. Anunciamos no jornal, nas redes sociais e fizemos uma delicada seleção de todo o material que recebemos.
Vivemos tempos estranhos que nos convidam diariamente ao isolamento, ao medo do convívio e ao individualismo. Uma espécie de epidemia que nos tem aprisionado atrás de nossas telas geniais, que nos conectam e distanciam em alternância estroboscópica num abismo de encantamento e retórica. Um tempo que tem confundido e abalado a nossa esperança. Tenho a impressão de que cada dia nos distanciamos mais da potência que poderíamos ser se estivéssemos realmente conectados e acredito que o Teatro ainda é capaz de promover este milagre.
Muitas vezes, estou em cena e me comovo com o próprio evento teatral. Penso naquele pacto oculto entre nós, atores e público, quinhentas, seiscentas pessoas, celulares desligados, o silêncio coletivo, as risadas, todos concentrados no mesmo ponto, conectados de verdade, num milagre de presença. Recebemos sempre o público na porta para fazê-lo perceber ainda mais, que estamos, sim, inacreditavelmente, verdadeiramente, todos ali.
Acredito no que esta percepção de presença é capaz de provocar, na potência desse poderoso ritual de reflexão chamado Teatro. Acredito porque vi ele acontecer. Rodamos o Brasil há mais de dez anos com as produções de nossa Nia Teatro e já colecionamos cerca de 700.000 espectadores, sempre fazendo espetáculos das periferias aos grandes centros, de pequenas a grandes cidades. O retorno que tivemos deste público tão diverso, a maneira com que vimos eles saírem do teatro, me enchem de esperança.
Agora vamos para "Eu de Você". Contando histórias reais, rompendo a fronteira entre palco e plateia, fato e ficção, pedaços de vida embalados pela arte, pretendendo ampliar o nosso teatro para uma real experiência de empatia.
Ficha Técnica
Idealização e Criação: Denise Fraga, José Maria e Luiz Villaça
Com: Denise Fraga
Direção: Luiz Villaça
Produção: José Maria
Obra inspirada livremente nas narrativas de Akio Alex Missaka, Anas Obaid, Barbara Heckler, Bruno Favaro Martins, Clarice F. Vasconcelos, Cristiane Aparecida dos Santos Ferreira, Deise de Assis, Denise Miranda, Eliana Cristina dos Santos, Enzo Rodrigues, Érico Medeiros Jacobina Aires, Fátima Jinnyat, Felipe Aquino, Fernanda Pittelkow, Francisco Thiago Cavalcanti, Gláucia Faria, José Luiz Tavares, Julio Hernandes, Karina Cárdenas, Liliana Patrícia Pataquiva Barriga, Luis Gustavo Rocha, Maira Paola de Salvo, Marcia Angela Faga, Marcia Yukie Ikemoto, Marlene Simões de Paula, Nanci Bonani, Nathália da Silva de Oliveira, Raquel Nogueira Paulino, Ruth Maria Ferreiro Botelho, Sonia Manski, Sylvie Mutiene Ngkang, Thereza Brown, Vinicius Gabriel Araújo Portela, Wagner Júnior
Dramaturgia: Cassia Conti, André Dib, Denise Fraga, Fernanda Maia, Luiz Villaça e Rafael Gomes
Texto Final: Rafael Gomes, Denise Fraga e Luiz Villaça
Colaboração dramatúrgica: Geraldo Carneiro, Kenia Dias, José Maria
Colaboração artística (residência no RJ): Artur Luanda e André Curti
Direção Musical: Fernanda Maia
Musicistas: Fernanda Maia, Clara Bastos e Priscila Brigante
Direção de imagens: em vídeo André Dib
Direção de Movimento: Kenia Dias
Direção de Arte: Simone Mina
Iluminação: Wagner Antônio
Programação de Vídeo Mapping: Bruna Lessa
Design e operador de som: Carlos Henrique
Assistente e operador de luz e vídeo mapping: Ricardo Barbosa
Assistente de direção de arte: Nika Santos
Assistente de cenografia: Vinicius Cardoso
Técnico de Palco: Alexander Peixoto
Contrarregra: Cristiane Ferreira
Camareira: Maria da Guia
Costureira: Judite de Lima
Produção das imagens em video: Café Royal
Produtora executiva: Adriana Tavares
Fotógrafo: Thiago “Beck”de Vicentiis
Primeiro assistente de câmera: Diego José Marinho
Som direto: Fernando Akira
Eletricista: Alberto Ferreira
Logger: Hugo Dourado
Administração financeira: Evandro Fernandes
Assistente administrativa: Cristiane Souza
Fotos para arte: Willy Biondani
Fotos de cena: Cacá Bernardes
Programação visual: Guime Davidson, Phillipe Marks
Redes Sociais: Pedro Lins
Assessoria de Imprensa: Morente Forte Comunicações
Roteiro de Audiodescrição: Letícia Schwartz
Consultoria: Luís D. Medeiros
Intérprete em Libras: Ângela Russo
Projeto realizado por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura
Parceria Institucional: Theatro São Pedro
Co-produção: Café Royal
Produção: NIA Teatro
Patrocínio: BB Seguros e VIVO
Realização: Secretaria Especial da Cultura, Ministério da Cidadania e Governo Federal
Serviço
Teatro Vivo (274 lugares)
Av. Dr. Chucri Zaidan, 2460 – Morumbi
Informações: (13) 3279-1520 e 97420-1520
Bilheteria: de terça a domingo, a partir das 14h. Aceita todos os cartões de crédito e débito. Acessibilidade: seis lugares para cadeirantes, dois lugares para mobilidade restrita e duas cadeiras para obesos. Estacionamento no local: R$ 20.
Facebook: facebook.com/vivoencena – Instagram: @vivoencena
Vendas: www.sympla.com.br
Sexta às 20h | Sábado às 21h | Domingo às 19h
Ingressos:
Sexta R$ 50 | Sábado e Domingo R$ 70
Duração: 80 minutos
Classificação indicativa: 12 anos
Gênero: comédia dramática
Estreia dia 19 de setembro de 2019
Temporada: até 15 de dezembro
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