quarta-feira, 11 de setembro de 2019

.: “57 Minutos - O Tempo que Dura Esta Peça” reestreia em setembro


Indicado ao Prêmio Aplauso Brasil 2019, sucesso de crítica, espetáculo escrito, dirigido e atuado por Anderson Moreira Sales é livremente inspirado em “Ulisses”, de James Joyce. Crédito: Pedro Mendes. 

“Baseado numa bem-vinda oralidade dos contadores de histórias Anderson inicia sua narrativa preparando tanto a massa de um pão de queijo que será servido ao fim da peça como os ouvidos do público para o que vem depois” – José Cetra – crítico da APCA – Palco Paulistano.

O artista mineiro Anderson Moreira Sales (vencedor do Prêmio Açorianos) concorre ao Prêmio Aplauso Brasil de melhor dramaturgia pelo monólogo “57 Minutos - O Tempo que Dura Esta Peça”, que volta ao Espaço Parlapatões, para uma nova temporada entre 12 de setembro e 4 de outubro, com apresentações às quintas e sextas-feiras, às 21h.  Os ingressos custam R$30.

Inspirada pelo livro “Ulisses”, do escritor irlandês James Joyce (1882-1941), a dramaturgia se arquiteta a partir de uma premissa simples: um morador do subúrbio de uma cidade grande sai de casa em busca de cumprir seus compromissos e retornar ao lar. A aparente banalidade da narrativa problematiza a realidade contemporânea brasileira em sua cruel complexidade ao reconhecer a grandeza escondida nas pequenas coisas para denunciar a pequenez escondida nas coisas grandes.

“Os últimos anos no Brasil foram muito violentos de uma forma geral. Muito ódio foi sendo plantado, regado e agora o país está colhendo uma crueldade absurda. Isso tudo fomentou em mim uma revolta interna que foi expurgada da maneira mais inteligente e sensível que eu sei fazer que é transformar essa energia em texto e corpo em cena. É o lugar onde consigo me sentir mais forte para me vingar da maldade que me ronda”, comenta o artista.

A narrativa aborda também a questão de construção de identidade e transformação. ”O personagem central da história se oprime ao lidar direta ou indiretamente com as figuras masculinas que cruzam seu caminho e não se reconhece enquanto um ser que está no meio do caminho, rejeitando o estereótipo masculino e toda a sua construção cultural de opressão e ainda sem saber caminhar rumo a uma personalidade frágil e delicada. Reconhecer isso foi determinante para algumas escolhas da encenação”, acrescenta.

A montagem não é uma adaptação de “Ulisses”, mas se apropria de seu método de criação – Joyce escreveu cada capítulo a partir de elementos referenciais buscados na “Odisseia”, de Homero. “Li a ‘Odisseia’ e fui traçando os paralelos e as diferenças do Odisseu de Homero e do Ulisses de Joyce e entendendo que eu estava criando um personagem que também atravessava uma saga. Me interessava que houvesse a ponte com o mito, mas estivesse dentro do contexto brasileiro contemporâneo, que eu vivenciava diariamente: a crise política, os protestos nas ruas, os problemas no transporte público, a violência policial e estatal, os valores tradicionais em contraposição às liberdades individuais, o preconceito sendo escancarado”, revela.

Outro elemento incorporado da “Odisseia” de Homero é a aproximação da peça com a tradição oral. “Antes de ser registrada de forma escrita, essa oralidade da ‘Odisseia’ devia possuir uma sonoridade própria. Fiquei pensando sobre isso e quis preservar essa característica. Assim, fiz uma associação com o rap e o hip hop, como se estes fossem os trovadores contemporâneos. Então, há trechos do texto que remetem ao jeito de cantar do Russo Passapusso, vocalista do Baiana System, do Criolo, de quem sou muito fã, de um artista talentosíssimo de Guarulhos, o rapper Edgar, e por aí vai”, esclarece.

O cenário é composto por um balcão que abriga fogão, forno e outros utensílios que permitem o preparo de uma massa de pão de queijo. O preparo é como um acordo de troca do alimento pela atenção do público. Mas a ação de expor os ingredientes em seu formato original e uni-los para criar um outro alimento também passa por essa ideia de transformação. As camadas se constroem aos poucos. A iluminação também caminha junto com a mudança da narrativa a cada cena, inclusive a velocidade e o ritmo do texto estão em vários momentos em sintonia com o desenho da luz. Em certos pontos, ela assume funções diretas, presentificando personagens. 

O primeiro trabalho escrito, dirigido e atuado por Anderson foi “Lujin”, livremente inspirado no livro “A Defesa Lujin”, do russo Vladimir Nabokov. O espetáculo estreou em Porto Alegre em 2015, e ganhou o Prêmio Açorianos, a principal premiação gaúcha, na categoria de melhor dramaturgia.

Trajetória
O solo “57 minutos - O Tempo que Dura Esta Peça” teve uma curta temporada em Porto Alegre ainda sob o formato work-in-progress, sendo construído a cada apresentação. A estreia definitiva aconteceu em junho em São Paulo, no Espaço Parlapatões, onde a peça cumpriu uma curta temporada de 12 apresentações. A partir de então, Anderson Moreira Sales mudou-se para a capital paulista.

Críticas
“Na era das redes sociais e com todo o ódio e a raiva que elas trazem a reboque, o tempo proposto soa como uma eternidade. É com esse cuidado que o jovem mineiro de Montes Claros tece uma narrativa refinada para falar do mundo que nos cerca. Devagar, costurando argumentos simples e buscando a todo momento obter a aceitação do público, Anderson está, na verdade, tentando transmitir mensagens difíceis de serem ouvidas, sobretudo para quem não parece estar disposto ao diálogo” – Eduardo Nunomura – Carta Capital

“É como se a cada instante infindáveis janelas pudessem se abrir para mirar o que se passa numa vida. Sales transita entre a sutileza e o escancaramento do discurso que há por trás de '57 Minutos'. Afetos íntimos e acontecimentos exteriores se entremeiam com ou sem relações diretas de causalidade. No embate entre mundo interno e mundo externo, a narrativa construída a partir de uma subjetividade revela-se eminentemente política. Nossa sociedade, por vezes, não se dá conta de que o silêncio das sereias pode ser ensurdecedor” – Amilton Azevedo – Ruína Acesa.

“Baseado numa bem-vinda oralidade dos contadores de histórias Anderson inicia sua narrativa preparando tanto a massa de um pão de queijo que será servido ao fim da peça como os ouvidos do público para o que vem depois. (...) '57 Minutos- O Tempo que Dura Esta Peça' dura mais que 57 minutos! Mas ninguém se incomoda com um adicional de dez minutos porque o espetáculo é muito agradável ao mesmo tempo em que nos faz refletir sobre a violência e os tempos de ódio que estamos vivendo” – José Cetra – Crítico da APCA – Palco Paulistano.

Sobre Anderson Moreira Sales - ator, dramaturgo, produtor
Anderson é bacharel em Teatro pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Em 2012, participou do Fringe no Festival de Teatro de Curitiba com “O Bom, O Mau E O Fim”. Em 2013, atuou em “Sonhos Impossíveis”, que foi indicado ao prêmio Mais Teatro Revelação na categoria de melhor espetáculo. 

Em 2015, participou de “A Cadeia Alimentar”, indicado a Melhor Espetáculo, Direção a Atuação no prêmio Mais Teatro Revelação. Nesse mesmo ano, atuou, dirigiu e escreveu a dramaturgia do monólogo “Lujin”, indicado ao Prêmio Açorianos, a principal premiação do Rio Grande do Sul, nas categorias de melhores espetáculo, ator e dramaturgia, tendo vencido nesta última.

Em 2016, atuou em “Como Gostais”, que foi indicado ao Prêmio Açorianos em mais de sete categorias. Em 2017, foi produtor da Cia. Stravaganza no ano de comemoração dos 30 anos da trupe. Estreou no final de 2018 o seu novo espetáculo solo “57 Minutos - O Tempo que Dura Esta Peça”, no qual exerce novamente as funções de ator, diretor e dramaturgo.

Sinopse
Inspirada pelo livro “Ulisses” de James Joyce, a dramaturgia se arquiteta numa premissa simples: um morador do subúrbio de uma cidade grande que sai de casa em busca de cumprir seus compromissos e retornar ao lar. A aparente banalidade da narrativa problematiza a realidade contemporânea brasileira em sua cruel complexidade ao reconhecer a grandeza escondida nas pequenas coisas para denunciar a pequenez escondida nas coisas grandes.

Ficha Técnica
Texto, direção e atuação: Anderson Moreira Sales
Iluminação: Ricardo Vivian
Cenografia: Ricardo Vivian e Anderson Moreira Sales
Trilha sonora: Kevin Brezolin
Cenotécnico: Jony Pereira
Operação de luz: Reynaldo Thomaz
Fotos: Pedro Mendes
Arte gráfica: Jéssica Barbosa
Assessoria de imprensa: Bruno Motta e Verônica Domingues - Agência Fática
Produção: Áquila Mattos e Anderson Moreira Sales 

Serviço
“57 Minutos - O Tempo que Dura Esta Peça”
Espaço Parlapatões – Praça Franklin Roosevelt, 158, Consolação (próximo ao metrô República – Linha 3 – Vermelha e Linha 4 – Amarela)
Temporada: 12 de setembro a 4 de outubro, às quintas e sextas, às 21h.
Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada)
Vendas pela internet: ingressoindependente.com.br
Informações: (11) 3258-4449
Classificação: 12 anos
Duração: 70 minutos
Capacidade:  100 lugares

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