“Você, que é estudante, venha participar do Radioteatro da Mocidade!”, anunciou o locutor da Rádio MEC. Aos quinze anos, Arlette Pinheiro cursava secretariado na Berlitz, e decidiu atender ao chamado. Saiu do subúrbio onde morava com a família e apresentou-se para a seleção no pequeno prédio da emissora, em frente ao Campo de Santana, no centro do Rio. Pouco depois de ingressar na rádio, ela adotaria o nome artístico que viria a se tornar sinônimo de excelência no teatro, no cinema e na televisão: Fernanda Montenegro.
A inteligência e a sensibilidade da atriz transparecem na prosa afetiva deste Prólogo, ato, epílogo. Não surpreende que alguém que passou a vida memorizando textos tenha desenvolvido notável capacidade de rememorar com sutileza fatos ocorridos décadas atrás. Nem que a atriz que há anos encanta multidões em palcos e telas mundo afora se mostre também uma contadora de histórias de mão-cheia.
Fernanda encarna o melhor do Brasil. Como disse Carlos Drummond de Andrade: “Não se sabe o que mais admirar nela: se a excelência de atriz ou a consciência, que ela amadureceu, do papel do ator no mundo. Ela não se preocupa somente em elevar ao mais alto nível sua arte de representar, mas insiste igualmente em meditar sobre o sentido, a função, a dignidade, a expressão social da condição de ator em qualquer tempo e lugar”. No marco de seus noventa anos, as memórias de Fernanda Montenegro trazem o frescor de uma artista eternamente genial. “Não estou romanceando. Tenho quase um século de vida, portanto posso dizer: ‘Era no tempo do rei’”.
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