Por Luiz Gomes Otero*, em agosto de 2019.
O que estaria cantando e compondo Raul Seixas nos dias de hoje? Passados 30 anos de seu falecimento, essa pergunta é feita pelos milhares de fãs que ele cativou em vida e depois de morto. Sim, pois muitos dos que ouvem suas músicas hoje em dia sequer eram nascidos quando ele partiu, aos 44 anos de idade, deitado em uma cama dentro de um apartamento solitário em São Paulo.
É incrível constatar que sua música ainda desperta curiosidade depois de tanto tempo. Quando surgiu no final dos anos 60, ele era mais um músico tentando buscar seu espaço no mercado fonográfico. A partir dos anos 70, passou a mostrar uma singularidade e originalidade únicas, explorando temas que fizeram parte de sua formação como leitor, como Física, Filosofia, Psicologia, História e Literatura em geral. Tudo isso misturado em um caldeirão musical com o rock dos anos 50 e 60 e os ritmos tradicionais brasileiros, como o baião.
As canções que ele produziu na primeira metade dos anos 70 são antológicas. Impossível ficar indiferente ao ouvir a força de composições como "Tente Outra Vez", "Gita", "Ouro de Tolo", "Medo da Chuva", "Mosca na Sopa" e tantas outras, com letras de conteúdo anárquico e incrivelmente inspiradas. Algumas delas escritas em parceria com Paulo Coelho e outras feitas só por ele mesmo ou com outros parceiros.
Raul acabou tendo a saúde bastante debilitada em função do seu problema com o alcoolismo e uma série de complicações provocadas pelo vício. E vale dizer que apesar da saúde frágil, conseguiu realizar 50 shows com Marcelo Nova que confirmaram que o seu carisma permanecia intacto junto ao público.
Depois de sua morte, o culto ao mito Raul Seixas só tem crescido. Já foram produzidos documentários sobre sua vida e obra musical, além de escritos alguns livros sobre sua trajetória. Tudo isso em função do crescente interesse que sua obra desperta até os dias atuais.
Apesar de muitos dizerem que se inspiram na sua obra, ainda não surgiu efetivamente um artista que pudesse representar uma continuidade de seu trabalho. Até mesmo Marcelo Nova, seu último parceiro musical, tem uma obra com sua própria marca pessoal. Creio que isso ocorra porque a força da obra de Raul acabou fazendo com que o mito se tornasse algo inatingível, cultuado como uma espécie de religião: o "raulseixismo", como muitos chamam por aí.
Acho que ainda estaremos daqui a dez anos ainda comentando sobre a vida e a obra de Raul Seixas. Até porque o "Maluco Beleza" nasceu "há 10 mil anos atrás" e sempre se considerou "o início, o fim e o meio". Toca Raul!
"Tente Outra Vez"
"Gita"
"Maluco Beleza"
*Luiz Gomes Otero é jornalista formado em 1987 pela UniSantos - Universidade Católica de Santos. Trabalhou no jornal A Tribuna de 1996 a 2011 e atualmente é assessor de imprensa e colaborador dos sites Juicy Santos, Lérias e Lixos e Resenhando.com. Criou a página no Facebook Musicalidades, que agrega os textos escritos por ele.
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