Por Luiz Gomes Otero*, em julho de 2019.
Nos últimos tempos, eu vinha entrando em uma vibe meio saudosista. Dentro de minha audição eclética, na seara de nossa MPB, eu me peguei ouvindo os velhos discos de vinil do mestre Wilson Simonal, que faleceu no ano 2000 com 62 anos de idade, vítima de complicações provocadas por uma cirrose hepática.
Coincidências à parte, acabei sabendo que o filme que conta a sua história no cinema está sendo lançado. E certamente levantará novamente a polêmica em torno do período em que permaneceu em um cruel ostracismo, a partir do início dos anos 70, depois de alcançar um estrelato nunca antes visto na década anterior.
Esse hiato foi provocado em função de problemas que ocorreram naquela época, quando ele acabou ganhando com a fama de dedo-duro em pleno período do Governo Militar no Brasil. O meio artístico simplesmente virou as costas para Simonal, relegando ele ao esquecimento e à depressão, que evoluiu para o alcoolismo e suas terríveis consequências para sua saúde.
Mas o que sempre me interessou no final das contas é a sua riqueza musical. Sua produção dos anos 60 é incrivelmente perene. Se eu enumerar alguns hits aqui, creio que a maioria vai se lembrar de ter ouvido algum deles: "Sá Marina", "Vesti Azul", "Mustang Cor de Sangue", "Nem Vem Que Não Tem" e "Carango" até hoje podem ser entoadas pelo grande público.
Nesse período, ele contava com o grupo Som Três no acompanhamento, incluindo o músico e arranjador Cesar Camargo Mariano, um dos principais responsáveis pela sintonia dos arranjos com o suingue de Simonal. A famosa sonoridade apelidada como "Pilantragem".
Ele representava a fusão genial do espírito do jazz americano com o nosso balanço característico da MPB. Com um poder vocal incrível, ele demonstrava um magnetismo no palco era algo a ser estudado por especialista. Ele conseguiu reger um coro de centenas de pessoas com uma canção bem simples, tipo "Meu Limão, Meu Limoeiro".
Chegou a assinar um contrato de publicidade com a multinacional Shell, considerado o maior da época. E acompanhou a seleção brasileira na copa de 70, na conquista do tri-campeonato mundial. Cantou com a diva Sarah Vaughan ao vivo, um dueto antológico com a clássica "The Shadow Of Your Smile".
O que se sucedeu nos anos seguintes acabou por detonar a sua decadência. Primeiro a questão do desequilíbrio nas finanças, que resultou na desconfiança de seu contador. Ele mandou dois policiais que atuavam no antigo DOPS fazerem o contador confessar que havia realizado o desfalque nas finanças de Simonal.
Esse triste episódio acabou resultando em uma investigação policial e na prisão de Simonal e seus amigos policiais. E o pior de tudo foi o fato de a fama de delator ter sido disseminada no meio artístico, praticamente relegando o artista a um completo esquecimento.
Não me interessa discutir se ele tinha realmente que passar por isso. Só me interessa ouvir a sua produção musical que, aliás, nem mesmo o ostracismo foi capaz de apagar. Pelo contrário: há um crescente interesse do público no resgate das canções que ele cantava no período inicial da carreira.
Para conhecer melhor a história de Wilson Simonal de Castro, vale a pena conferir o filme no cinema. Mas se puder compre uma coletânea dele para ouvir no seu CD player. Ah, e tem também sempre uma seleção excelente nos streamings disponíveis como o Spotfy por exemplo.
Trailer do filme "Simonal"
"Tributo a Martin Luther King"
"Sa Marina"
*Luiz Gomes Otero é jornalista formado em 1987 pela UniSantos - Universidade Católica de Santos. Trabalhou no jornal A Tribuna de 1996 a 2011 e atualmente é assessor de imprensa e colaborador dos sites Juicy Santos, Lérias e Lixos e Resenhando.com. Criou a página no Facebook Musicalidades, que agrega os textos escritos por ele.
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