sábado, 20 de julho de 2019

.: Exclusivo - Renato Enoch: "Nos momentos difíceis, a música foi cura"


Por Juliana Mendonça, em julho de 2019.

Em meio a samples, batida eletrônica, glitches e projeções, o cantor Renato Enoch lançõu, na última sexta-feira, dia 19, uma faixa, acompanhada de vídeo, que faz uma ponte entre o novo e o antigo, reinterpretando duas canções da MPB em seu novo clipe "des construção"

Renato canta e utiliza samples da canção "Construção", de Chico Buarque, ressignificando-a junto à letra de "Desconstrução", de Tiago Iorc. Com métricas similares, ambas as canções fazem retratos dos contextos sociais de suas épocas, mas aqui soam como se fossem uma única e atual canção.

Renato Enoch é cantor e compositor e faz versões de músicas conhecidas em seu canal do YouTube, desde 2015. O cantor acumula mais de 4 milhões de visualizações em seus vídeos e atualmente tem mais de 150 mil ouvintes mensais na plataforma Spotify. 

O novo videoclipe faz parte de seu projeto "Recortes", que reúne as suas principais releituras (com faixas inéditas e participações de Bruno Gadiol, Armário de Saia, Bemti e outros artistas). O projeto apresenta as inspirações musicais do artista e algumas canções que marcaram sua trajetória na internet, dividido em dois EPs de releituras (representando o lado B e lado A dos discos de vinil), sendo o B com canções dos anos 70, 80 e 90 e o A apenas com música atual. Os EPs "Recortes {B}" e "Recortes {A}" serão lançados em todas as plataformas digitais no próximo mês. Nesta entrevista exclusiva, ele fala de maneira sincera sobre a música como cura e depressão.



RESENHANDO - O que a música significa para você?  
RENATO ENOCH - A música surgiu bem cedo para mim como uma válvula de escape, e ao longo da minha vida foi essencial para que eu pudesse me sentir menos "fora de lugar". Ela me forçou a trabalhar a timidez e as inseguranças, me possibilitou externalizar emoções que eu não saberia de outra forma. Nos momentos mais difíceis, a música foi cura. 

RESENHANDO - Com quantos anos você passou a perceber que seguiria na carreira de cantor? 
R.E. - Desde cedo eu soube que cantar e fazer música seriam formas de expressão importantes na minha vida, mas foi só por volta dos 20 anos de idade, durante a faculdade de design gráfico, que decidi que queria me profissionalizar e construir uma carreira artística. Apesar de também compor, eu comecei esse processo fazendo versões de músicas no meu canal do YouTube e no próximo mês estarei lançando dois novos EPs de releituras para fechar esse ciclo como intérprete e me dedicar mais enquanto compositor.

RESENHANDO -  Quando você teve sua primeira oportunidade de mostrar seus talentos ao público? 
R.E. - Como eu era bastante tímido durante a infância, foi só na adolescência que comecei a mostrar mais o meu envolvimento com a música para os outros. Coloquei os primeiros vídeos na internet, cantei em eventos na escola, participei de alguns festivais de talento, fiz parte de algumas bandas... Tudo isso foi muito válido como experiência e amadurecimento, mas foi só em 2014 que comecei o projeto de versões no YouTube e daí em diante surgiram outras oportunidades, como TV, shows e etc. 

RESENHANDO -  Você teve outros sonhos além desse? 
R.E. - Tenho várias outras áreas de interesse, como o design, o audiovisual, a fotografia, o teatro, o cinema... Mas não sei se posso dizer que já tive outros sonhos, em relação a profissão, além dos que envolvem a música.

RESENHANDO -  Quais são suas inspirações para escrever as músicas? 
R.E. - Acredito que muita coisa pode servir de inspiração, de filmes e séries a livros e acontecimentos diários. Como eu procuro sempre me alimentar de obras e artistas diferentes, muitas das minhas inspirações são da música. 

RESENHANDO -  Quem foi sua grande inspiração para seguir nesta área?
R.E. - É difícil dizer apenas uma pessoa, pois muitos artistas, antigos e atuais, me inspiraram igualmente. Citando aleatoriamente: Caetano Veloso, Jeff Buckley, James Blake, Nina Simone, Freddie Mercury, Elton John, Matt Corby, Kimbra, Amy Winehouse, Belchior e Elis Regina são exemplos de artistas (bem diferentes entre si) cujos conjuntos da obra me fascinam e pelos quais tenho um carinho especial. 

RESENHANDO -  Das músicas que você escreveu, qual delas é a sua preferida? 
R.E. - Tenho um carinho especial por "a cruz", pois é uma letra bem honesta e que foi uma espécie de cura em um momento bem complicado.  Apesar de eu ter lançado ela em 2019, escrevi a letra há mais ou menos quatro anos. Fico muito tocado quando recebo mensagens de pessoas que se emocionaram com a música, porque estão vivendo situações que eu já vivi.

RESENHANDO -  Você tinha o apoio de quem principalmente? 
R.E. - Tenho a sorte de ter tido apoio familiar. Por mais que, no início, tenha havido uma certa resistência dos meus pais em relação a seguir carreira musical, as coisas foram acontecendo e fui conseguindo me virar sozinho. Tive também o apoio de amigos que conheci nos últimos anos e que me ajudaram a realizar muitos projetos musicais: entre eles estão o Fillipe Glauss (produtor musical e músico que me acompanha em praticamente tudo), Caio Plínio, Michel Souza, Bárbara Donhini, Rayam Soeiro, Jamile Faller, Mateus Lustosa e Douglas Dias.

RESENHANDO -  Qual foi a sua maior dificuldade ao longo de sua carreira? 
R.E. - A maior dificuldade é dar forma aos projetos quando se é um artista independente. Passei boa parte do tempo com pouca grana, poucas pessoas para contar e muitas coisas que queria realizar. A depressão é uma doença com a qual convivo e que durante alguns anos diminuiu muito minha produtividade e motivação. Isso colaborou para que as coisas caminhassem mais lentamente, mas elas nunca pararam de acontecer. 

RESENHANDO -  Se não desse certo, você tinha um "plano B”?  
R.E. - Acredito que o plano B seria trabalhar com design gráfico e audiovisual, o que, na verdade, são coisas que nunca parei de fazer. 



Renato Enoch - "des construção"

Ficha Técnica:
Título: "des construção". 
Intérprete: Renato Enoch.
Composições: "Construção" de Chico Buarque e "Desconstrução" de Tiago Iorc.
Produção de vídeo e fotografia: estúdio Ventana; Mateus Lustosa e Renato Enoch.
Direção artística e concepção: Renato Enoch e Mateus Lustosa.
Assistente de direção: Julia Resende.
Produção musical: Fillipe Glauss.
Músicos: Renato Enoch (voz, teclado e samples), Fillipe Glauss (Guitarra, percussão eletrônica e efeitos); Diego Mancini (baixo).
Projeções de vídeo: "Abstract" Kisa Film (de Ahmet Ozdemir); Toposcape (de Adnaan Jiwa); Construction (de Tim Divall).

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