Gregori Warchavchik na Casa da Rua Santa Cruz – 1971. Um dos últimos registros do arquiteto,
que morreu em 1972. Foto: Boris Kossoy/Acervo Pessoal
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Ruptura com a arquitetura eclética
Em 1923, quando chega ao Brasil, Warchavchik se depara com uma São Paulo ainda dominada pelo estilo eclético – muito ornamentado e imponente, o ecletismo mistura elementos de diferentes momentos da história da arquitetura, como o renascentista, o barroco e o neoclássico.
Paralelamente, havia acabado de acontecer a Semana de Arte Moderna de 1922, que marca o início do rompimento nas artes com esses mesmos estilos. Recém-formado pela Reggio Instituto Superiori di Belle Arti de Roma, o arquiteto trouxe consigo os debates que já aconteciam na Europa acerca da arquitetura.
Quando vem para o Brasil, ele entra em contato com o meio industrial ao atuar na Companhia Construtora de Santos, dirigida por Roberto Simonsen. Em 1925, publica no Correio da Manhã o texto Acerca da arquitetura moderna, considerado o primeiro manifesto da arquitetura moderna no Brasil – iniciando assim um processo de ruptura com o ecletismo. Este espaço abre a Ocupação com mobiliário que remete à estética do período da chegada de Warchavchik, propondo assim uma experiência sensorial do momento e dessa ruptura – que fica evidente ao longo da exposição.
Casa Santa Cruz
A Casa da rua Santa Cruz é estimada a primeira obra de arquitetura moderna no Brasil. O projeto da residência é feito em 1927 e ela termina de ser construída em 1928. Pensada no mesmo ano em que Gregori Warchavchik se casa com a cantora lírica e paisagista Mina Klabin, seria a morada da família.
A construção se localiza em uma parte de um terreno de 13 mil metros quadrados possuído pela família Klabin na Vila Mariana. Para seguir os critérios arquitetônicos modernistas, Warchavchik teve de driblar restrições da gestão municipal, que seguia princípios estéticos conservadores. No projeto, o arquiteto indicou a exigida colocação de ornamentos – mas não a realizou, alegando, depois, falta de recursos.
O paisagismo da casa, assim como em outros projetos de Warchavchik, foi projetado por Mina Klabin, que, contra os padrões da época, fez uso de plantas típicas brasileiras.
Casa da Rua Itápolis Foto: Autor Desconhecido/Coleção Gregori Warchavchik |
Dificuldades da indústria, do mercado de matérias-primas e de mão de obra brasileiros fizeram com que a Casa Santa Cruz não cumprisse tão bem os preceitos modernistas. Para o projeto da casa da rua Itápolis, concluído em 1930, Gregori Warchavchik montou oficinas próprias para produzir componentes como janelas, portas e móveis, além de orientar pessoalmente seus trabalhadores. O resultado é mais moderno, pela racionalidade da planta, uso dos espaços e disposição dos volumes.
Exposição de uma Casa Modernista
A casa da rua Itápolis foi exibida ao público de 24 de março a 20 de abril de 1930 – foi a primeira Exposição de uma Casa Modernista, sendo que a segunda seria organizada no Rio de Janeiro, em 1931, no projeto da rua Toneleros. Essa mostra foi a maior reunião de artistas e intelectuais ligados ao modernismo brasileiro desde a Semana de 1922; expôs obras de pintores como Anita Malfatti, Lasar Segall e Tarsila do Amaral e teve vinte mil visitantes.
Residência de Max Graf
Construída na Rua Melo Alves, em São Paulo, em 1928/1929, a obra foi projetada seguindo o protótipo da localizada na Rua Itápolis, em que se destacam o uso do concreto armado e a substituição da varanda pela marquise.
Casa da Rua Bahia. A imagem faz referência ao jardim em três patamares, com padrão geométrico, feito por Mina Klabin Foto: Autor Desconhecido/Coleção Gregori Warchavchik |
A exposição mostra fotografias das áreas interna e externa da residência Luiz da Silva Prado, construída à rua Bahia, em São Paulo, no ano de 1930. Podem-se ver, ladeando o portão de entrada, cubos de cimento armado e tijolos de vidro que, à noite, auxiliavam na iluminação. O jardim em três patamares e padrão geométrico foi realizado pela paisagista e cantora lírica Mina Klabin, esposa de Gregori Warchavchik.
Casa Tomé de Souza
Residência de Cândido Silva, construída à rua Tomé de Souza, em São Paulo, no ano de 1929. Ali se vê contraste entre a arquitetura de Warchavchik e a as moradias no entorno: a estrutura em concreto armado, a opção por suprimir o telhado com uma laje e a limpeza formal presente na fachada se distanciam das estruturas encontradas ao redor.
Rua Toneleiros, Rio de Janeiro
A primeira casa modernista no Rio de Janeiro, a residência Nordschild, também tem a assinatura de Warchavchik. Na mostra se vê imagens da fachada e detalhamento da fachada posterior do terceiro pavimento da desta casa construída em 1931. Encontra-se também, o projeto e detalhamentos.
Desenhos e projetos
Entre os desenhos e projetos, encontra-se também, na Ocupação, o desenho isométrico da fachada da residência de Antônio da Silva Prado, construída à rua Estados Unidos, em São Paulo, em 1931, e a planta da residência. Este projeto se diferencia de outros elaborados por Warchavchik por ter apenas um pavimento térreo e trazer um jardim suspenso e salas com janelas que cobrem todo o pé direito, dando visibilidade e iluminação mais intensas para o espaço.
Críticas
Com a Casa da Rua Santa Cruz, Warchavchik concretizou uma ruptura com o que era a arquitetura no Brasil no momento, e esse movimento não agradou a todos – diferentes arquitetos do período, como Dacio de Moraes e Cristiano das Neves, criticaram duramente o ucraniano. Dacio de Moraes ganhou espaço em diferentes jornais para publicar seus descontentamentos, que abordavam do processo construtivo à falta de ornamentos da fachada.
Um desses textos, A arquitetura moderna em São Paulo, foi publicado em 1928 no Correio Paulistano e está exposto na Ocupação. Em resposta a Dacio, uma das iniciativas de Warchavchik foi publicar 10 artigos no mesmo veículo, um dos poucos que abriu espaço para a divulgação das ideias de artistas modernistas. A sequência de respostas é uma série de estudos sobre a arquitetura do século XX. Nos textos, ele aborda o panorama das pesquisas desenvolvidas pelo mundo – como aproveitamento de novos materiais e nova concepção de construção – e comenta os princípios que guiavam a nova arquitetura.
Ocupação Gregori Warchavchik
De 27 de abril a 23 de junho
No Itaú Cultural
Terças-feiras a sextas-feiras, das 9h às 20h (permanência até as 20h30)
Sábados, domingos e feriados, das 11h às 20h
Piso térreo
Classificação indicativa: livre
Entrada gratuita
Avenida Paulista, 149, Estação Brigadeiro do Metrô
Fones: 11. 2168-1777
Acesso para pessoas com deficiência
Ar-condicionado
Estacionamento: Entrada pela Rua Leôncio de Carvalho, 108
Se o visitante carimbar o tíquete na recepção do Itaú Cultural:
3 horas: R$ 7; 4 horas: R$ 9; 5 a 12 horas: R$ 10.
Com manobrista e seguro, gratuito para bicicletas.
www.itaucultural.org.br
No Museu Lasar Segall
Quartas-feiras a segundas-feiras, 11h às 19h
Classificação indicativa: livre
Entrada gratuita
Rua Berta, 111
Fone: 11. 2168-1777
Café | Wi-Fi | Fraldário | Bicicletário
Ar-condicionado
www.mls.gov.br/o-museu/
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