Tablado de Arruar apresenta "Pornoteobrasil", novo texto de Alexandre Dal Farra, na Oficina Cultural Oswald de Andrade. Nova montagem do grupo Tablado de Arruar, com direção de Clayton Mariano e do próprio autor, faz crítica ao contexto democrático brasileiro atual. Elenco traz André Capuano, Alexandra Tavares, Gabriela Elias, Ligia Oliveira e Vitor Vieira. Fotos: Vitor Vieira
Diante do conturbado cenário sociopolítico brasileiro atual, o Tablado de Arruar apresenta Pornoteobrasil, com texto do dramaturgo Alexandre Dal Farra, na Oficina Cultural Oswald de Andrade, onde segue em cartaz até 6 de abril. As sessões acontecem às quintas e sextas-feiras às 20h e sábados às 18h, com ingressos grátis.
Co-dirigido por Dal Farra e Clayton Mariano, o espetáculo se passa no Brasil contemporâneo, no cenário de um acidente ou atentado – não é possível afirmar ao certo. É neste espaço de destruição e catástrofe que a peça se dá. Depois de uma situação traumática como essas é comum que o sujeito tenha as suas estruturas abaladas, estruturas estas que constituíam o seu próprio olhar para si mesmo, para o seu passado, para o seu presente, e para o futuro.
Depois do acidente, três cenas procuram abordar aspectos diversos de um mesmo trauma. Primeiramente, um texto reflexivo discorre sobre perspectivas religiosas diversas, na tentativa de construir um olhar teológico para o presente. Em seguida, pessoas procuram lidar com as próprias memórias, sem conseguir ordená-las. E, finalmente, brota, do meio das memórias destroçadas, uma cena de violência e desespero, como se o terror da violência sofrida no passado recente emanasse para o presente em forma de terror em relação ao futuro.
Em alguns momentos, a encenação sugere que o país pode não ter saído completamente do tempo histórico que começou com o Golpe Militar de 1964. “O que se percebe de maneira indireta e oblíqua nas memórias dos personagens é que, de alguma forma, a sombra da ditadura não eram apenas sombras. Ela estava mascarada sob outras formas. Vemos também fragmentos dos caminhos da esquerda e pedaços de uma história que resultou no que vivemos atualmente”, esclarece Alexandre Dal Farra.
O cenário devastado, de acordo com Clayton Mariano, é uma metáfora para a situação sociopolítica brasileira atual. “O acidente é tanto uma referência mais direta à greve dos caminhoneiros de 2018 como também a imaginação de um desastre na estrada, no qual vários caminhões tombam e derrubam seus produtos na pista. E, como a peça começa com essa imagem, é como se no Brasil já vivêssemos nessa tragédia antes mesmo do recente avanço da extrema direita”, explica.
As figuras se comportam como o príncipe Míchkin, protagonista do romance "O Idiota", do russo Fiódor Dostoievsky. “Eles comentam fatos e momentos políticos vivenciados no passado, mas não conseguem criar um pensamento crítico – nem nas memórias, nem no presente. Eles não conseguem se posicionar ou concatenar ideias”, revela Mariano.
Além do clássico russo, a encenação teve como referências o romance "O Estrangeiro", do argeliano Albert Camus, a Pornochanchada brasileira e o livro "Três Mulheres de Três Pppês", de Paulo Emílio Sales Gomes. “Creio que o ‘O Estrangeiro’ e ‘O Idiota’ confluem na construção de um ponto de vista sobre algo perplexo para o agora, que é o que defendemos como a única possibilidade de olhar realmente para as coisas. Por outro lado, as demais obras entraram como parte dessa tentativa de construir um olhar sobre o outro, a elite brasileira - sobre o que não somos e que não soubemos perceber”, acrescenta Dal Farra.
Há, além disso, uma referência às novas teologias que se propagam na sociedade brasileira atual. “O próprio termo ‘pornoteo’ do título tem a ver com a junção de uma elite pornográfica – no sentido de explicitude – e essa teologia nova do Estado Teocrático, no qual estamos inseridos. No entanto, tal junção não é, para nós, uma crítica à igreja pura e simples, e sim, a aceitação da sua importância e centralidade”, elucida Mariano.
Ficha técnica:
Texto: Alexandre Dal Farra. Direção: Clayton Mariano e Alexandre Dal Farra. Atores: André Capuano, Alexandra Tavares, Gabriela Elias, Ligia Oliveira e Vitor Vieira. Cenário e Figurinos: Simone Mina. Música: Miguel Caldas. Operação de som: Tomé de Souza. Coordenação Técnica: Raquel Balekian. Direção de produção: Palipalan. Produção Executiva: Maria Fernanda Coelho. Assessoria de imprensa: Adriana Balsanelli.
Serviço:
"Pornoteobrasil" – Estreou dia 21 de fevereiro na Oficina Cultural Oswald de Andrade. Duração: 90 minutos. Classificação: 14 anos. Ingressos: grátis, distribuídos uma hora antes. Temporada: de 21 de fevereiro a 6 de abril. De quinta a sábado, às 20h e aos sábados às 18h. Oficina Cultural Oswald de Andrade – Sala Anexo - Rua Três Rios, 363, Bom Retiro. Capacidade: 30 lugares. Informações: (11) 3222-2662.
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