Ator e youtuber, Jesus Borges é um artista em ascensão. Recentemente, ele protagonizou ao lado da atriz Renata Leite o espetáculo “A Mão na Face”, com texto de Rafael Martins e direção de Rô Sant’Anna.
A apresentação, no Teatro BTC, girou em torno de Mara, a prostituta cansada de si e de seus shows que retorna ao palco, e Gina, a travesti que faz dublagens e tenta contornar certa ansiedade que se revela na preocupação com a cor do batom. Entre um show e outro, no camarim, Mara e Gina entram no caos de suas realidades, desejos e frustrações.
"A Mão na Face" retrata o inventário que podemos fazer de nossas vidas, de nossas quase-vidas, do que queríamos e do que deixamos de querer, aquele inventário que nos remete às memórias que preferíamos manter ofuscadas. É um espetáculo lúdico e realista que nos faz querer conhecer mais esses personagens que estão tirando as máscaras diante dos outros, em um mundo cada vez mais carente de representatividade e respeito ao próximo.
RESENHANDO - Por que, em tempos de intolerância, um espetáculo como "A Mão na Face" é necessário nos dias de hoje?
JESUS BORGES - O teatro tem um grande poder em discorrer sobre os assuntos mais presentes, seja político, social. Isso sem dúvidas é uma grande vantagem, mas com o forte grito político que o teatro proporciona, estão sendo esquecidas as relações humanas, as abordagens sobre o que somos, sobre quem somos. "A Mão na Face" aborda o caos, a crise existencial de uma prostituta e uma diva gay, entretanto, o espetáculo quer mostrar o lado humano, o lado vivo e verídico, o grito de socorro perante as frustrações, as dores, as perdas... Está muito além de “um texto que participa do movimento LGBTQ+”. A necessidade do espetáculo, hoje, é mostrar que por trás das cortinas, dentro do camarim, dentro do quarto escuro, do calar da noite, existem corações gritando socorro, e ainda existem pessoas que mesmo também estando no caos, conseguem estender a mão, dizer “eu te amo”, se colocar no lugar do outro. O espetáculo é necessário para o despertar do aqui, do agora, do não deixar pra depois, já que as personagens já se encontram no depois, e buscam forças pra recomeçar, mesmo sem saber por onde começar.
RESENHANDO - Como surgiu a ideia de fazer este espetáculo?
J.B. - Decidimos começar a desenvolver o espetáculo a partir de uma leitura do livro do autor Rafael Martins, que tem em anexo o texto “A Mão na Face”. Começamos sozinhos, sem direção, fazendo ensaios semanais, na tentativa de irmos montando e desenhando a obra por meio de suas percepções, dispostos a dar um passo por vez, mas com a certeza de fazer o espetáculo nascer. Dispostos a produzir, a lançar no circuito, a levar arte, a tocar o público com a sensibilidade das personagens, o espetáculo começou a ser desenvolvido ainda sem saber quais rumos tomaria, só com a certeza das dificuldades para ser lançado. Seis meses de pesquisa, laboratórios, ensaios, entrega. Surge a diretora Rô Sant’Anna, disposta a viver, desenvolver, e recriar uma leitura para a obra. Mais seis meses de total entrega, e aqui estamos, estreando a segunda temporada, e com a terceira temporada já marcada para início de Abril.
RESENHANDO - O que mais lhe aproxima, e o que mais o afasta, da personalidade de sua personagem na peça?
J.B. - O que mais me aproxima da personalidade de Gina Minelli, é a sensibilidade e a força em acreditar que por mais que pareçam impossíveis, os seus desejos vão se realizar, ainda sem saber como, apenas acreditar que vai. Além disso, a forma bem-humorada de levar a vida, e “rir da própria desgraça”, já que chorar não adianta, e se lamentar tampouco. O que mais me afasta, é a vulnerabilidade da personagem, o medo, a ingenuidade. Na vida real, a personalidade do Jesus é completamente oposta à de Gina, eu sou forte, decidido, faço acontecer. Eu sou do “ir”, do dar a cara à tapa, e ainda que doa, prefiro me arrepender por ter tentado.
RESENHANDO - Você tem Jesus no nome... e é a favor de dar a outra face para bater, ou é daqueles que revidam? Explique.
J.B. - Como dizem por aí, “de Jesus só tem o nome”. Sem dúvidas sou o que revida, não gosto de perder, não me dou por vencido, eu prefiro revidar até o final. E não é que eu seja uma má pessoa, pelo contrário, mas é que eu não consigo me controlar, sou total adepto à lei de Newton.
RESENHANDO - Qual é a outra face do Jesus Borges, aquela que ninguém conhece?
J.B. - Minha outra face, é que tem medo de não conquistar, é a que desabafa com Deus, que suplica, que chora, que teme... Mas é uma face oculta, o mundo já tem tristezas demais, não vou ser mais um a colaborar. Quem me ver, vai me ver sorrindo!
RESENHANDO - A peça trata sobre a convivência de uma prostituta e uma travesti. De que maneira essa união entre as minorias, como mulheres e gays, pode construir um mundo melhor?
J.B. - A relação de Mara e Gina é uma relação de afeto, de amor, de apoio. O que elas passam para o público, é a necessidade que as minorias tem de serem ouvidas, e que de tanto se calarem, elas se frustram, se machucam, se maltratam... "A Mão na Face" mostra a relação humana, que tá muito além da orientação sexual ou da profissão que se tem, mostra que o amor vale muito mais que qualquer razão, e é de amor que o mundo precisa!
RESENHANDO - Como mulheres e homossexuais podem se ajudar?
J.B. - As mulheres, os homossexuais, os heterossexuais, os assexuais, os transsexuais, todos podem se ajudar, todos podem se ouvir, se respeitar, se amar. O que o mundo precisa não é de opinião, é de abraço, de colo, tolerância, respeito, amor. Precisamos nos ajudar sem olhar a cor da pele, a orientação sexual, a vestimenta, o cabelo. Precisamos enxergar as formas do amor, e basta.
RESENHANDO - De que maneira o programa "Rupaul's Drag Race" abriu as portas para a carreira de pessoas que fazem performances?
J.B. - "Rupal’s" foi a referência primária para a construção da Gina Minelli. O programa mostra que vale a pena sonhar, mostra que independente de qual seja o meu desejo, eu posso, eu tenho espaço! "Rupal’s Drag Race" é um lugar de “estou aqui, e vou fazer o que eu faço de melhor”, e vem mostrando talentos incríveis desses artistas que se mantinham escondidos atrás de uma peruca, vivendo com a mão na face.
RESENHANDO - Qual a sua queen favorita?
J.B. - Não poderia citar outro artista que não fosse Pabllo Vittar. Porque abriu uma porta que se manteve trancada por séculos, mostrou a que veio, e não vai descansar até dominar o mundo! Tem meu respeito!
RESENHANDO - Com esse ambiente de intolerância nas ruas e nas redes sociais, do que você mais tem medo hoje?
J.B. - Eu temo mais pelo outro, pela vítima que assim como a Gina Minelli, não tem voz, não tem coragem de se impor, de se colocar, de exigir respeito. Eu temo por aqueles que apanham e sofrem calados. Eu não sou parte deste núcleo vulnerável, eu exijo ser respeitado.
RESENHANDO - Fazer teatro é, de alguma maneira, um ato de resistência?
J.B. - Na minha concepção, o teatro é a maior prova de resistência que já existiu. Os motivos são inúmeros: falta de oportunidades, falta de cachê, falta de apoio, prejuízos, golpes, abandono, desrespeito, falta de credibilidade... Mas é o maior ato de amor que também já existiu. O teatro salva vidas, o teatro quebra fronteiras, o teatro é o grito de liberdade, é o “eu te amo” sem vergonha de gritar!
RESENHANDO - Você tem um canal no YouTube em que responde perguntas de uma maneira muito bem-humorada e espontânea. Youtuber e ator se complementam, ou você separa bem as coisas?
J.B. - Pra mim, ser ator é ser completo. É criar o texto, é dirigir, compor o elenco, cantar, dançar, fazer a iluminação, assumir a sonoplastia, ir pra rua panfletar, ter overdose de divulgação na internet. Ser ator é ser artista, é saber fazer tudo o que se precisa, é se produzir, se lançar no circuito. É não esperar do outro.
RESENHANDO - O céu é o limite para Jesus Borges?
*Helder Moraes Miranda é bacharel em jornalismo e licenciado em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos, pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura, pela USP - Universidade de São Paulo, e graduando em Pedagogia, pela Univesp - Universidade Virtual do Estado de São Paulo. Participou de várias antologias nacionais e internacionais, escreve contos, poemas e romances ainda não publicados. É editor do portal de cultura e entretenimento Resenhando.
RESENHANDO - O céu é o limite para Jesus Borges?
J.B. - O céu não é o limite para Jesus Borges, e este nome ainda vai dar muito o que falar por aí, no YouTube ou na TV, no Instagram ou no cinema, na publicidade ou nas plataformas digitais. Eu vou fazer acontecer tudo aquilo que eu quiser, pois aquilo que eu quero MUITO, muito também me quer.
*Helder Moraes Miranda é bacharel em jornalismo e licenciado em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos, pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura, pela USP - Universidade de São Paulo, e graduando em Pedagogia, pela Univesp - Universidade Virtual do Estado de São Paulo. Participou de várias antologias nacionais e internacionais, escreve contos, poemas e romances ainda não publicados. É editor do portal de cultura e entretenimento Resenhando.
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