quinta-feira, 21 de março de 2019

.: Com direção de Pedro Granato, espetáculo "Distopia Brasil" estreia


Inspirada nos problemas sociopolíticos brasileiros atuais o Núcleo do Pequeno Ato apresenta o espetáculo Distopia Brasil. Com direção de Pedro Granato, a montagem surgiu de um processo criativo no qual o núcleo se debruçou sobre aspectos marcantes da sociedade que poucos conseguem romper. O espetáculo imersivo coloca o espectador para dentro da cena. Estreia 29 de março no Centro Cultural São Paulo. Crédito: José de Holanda

Dirigido por Pedro Granato, espetáculo imersivo "Distopia Brasil" estreia dia 29 de março no Centro Cultural São Paulo. Peça imagina futuro sombrio para o país, partindo da premissa de que os problemas atuais enfrentados pela sociedade brasileira seriam intensificados

O Núcleo do Pequeno Ato apresenta uma narrativa original anti-utópica inspirada nos problemas sociopolíticos brasileiros atuais no espetáculo imersivo "Distopia Brasil", que estreia no Centro Cultural São Paulo (CCSP), no Espaço Cênico Ademar Guerra, no dia 29 de março. O terceiro trabalho do coletivo – depois dos premiados Fortes Batidas e 11 Selvagens.

Com direção de Pedro Granato, a montagem surgiu de um processo criativo colaborativo, no qual o núcleo se debruçou sobre distopias clássicas e contemporâneas, como 1984, Fahrenheit 451, Handmaid’s Tale, Blade Runner, Matrix, Laranja Mecânica, Admirável Mundo Novo, Black Mirror, Ensaio sobre a Cegueira e V de Vingança.

“Sinto que vivemos a Era de Ouro das distopias, pois muita gente tem consumido e revisitado livros clássicos desse gênero. Entretanto, temos quase sempre uma perspectiva e uma cultura vindas de fora. É difícil entender uma distopia sobre controle absoluto em um Brasil no qual o Estado é cronicamente incompetente; ou sobre o tratamento desumano, pois muitos cidadãos já vivem isso em seu cotidiano graças ao nosso passado escravocrata e com subemprego”, comenta o diretor Pedro Granato, sobre os motivos para criar essa crítica da realidade brasileira.

A ideia era partir dessas obras para criar uma reflexão sobre como seria um futuro sombrio do país se os seus problemas atuais se agravassem. “Quando começamos esse processo, não imaginávamos que o Brasil se deterioraria tão rápido; sabíamos apenas que a situação do país ficaria violenta. O teatro segue na sua profunda impotência diante do macro; o que pretendemos fazer é atuar na escala individual. Que o espectador consiga por um instante entrar em contato com o que pode acontecer e reagir a isso. Pensando nos princípios de Augusto Boal, não trabalhamos com o espectador passivo, que é um mero consumidor daquilo que o agrada ou não. Aqui ele é um agente, tem que responder às provocações e sentir-se impelido a reagir”, explica Granato.

As principais questões sociopolíticas escolhidas para discussão foram: a intervenção militar no Estado, manifestada nas forças de pacificação do exército no Rio de Janeiro, que controlam e ficham os moradores das comunidades periféricas; o avanço do Estado Religioso, representado pelo crescimento da bancada BBB (boi, bíblia e bala) no congresso; o controle e fim da privacidade, que ficaram evidentes nos recentes grampos norte-americanos para políticos brasileiros e na vigilância dos cidadãos comuns exercida pelas novas tecnologias e mídias sociais; e os desastres ambientais, como a crise hídrica que tem ameaçado os reservatórios de água de São Paulo nos últimos anos. Também foram investigados grupos atuais de resistência para tentar imaginar como seria a luta contra esse regime totalitário proposto.

Assim como as peças anteriores do coletivo, Distopia Brasil propõe uma experiência imersiva ao espectador, arrastando-o para dentro da cena. Na entrada, por exemplo, a plateia deve responder perguntas dos interventores e será acomodada em bancos como se estivesse na igreja - ou na fila de espera por um serviço estatal burocrático. Além disso, todos são filmados o tempo todo, participam dos ritos da República Teocrática do Brasil, aplaudem o discurso do líder, rezam e participam do julgamento de um casal de meninas que tentou esconder sua relação para conseguir um visto de saída do país.

“Não queríamos fazer um espetáculo discursivo em um país que já está saturado de opiniões e ideias; achamos muito mais interessante fazer uma distopia da qual todos fariam parte. Ou seja, a plateia pode experimentar um pouco o que é um procedimento ditatorial, uma intervenção militar e você ser controlado. Gostaríamos que a plateia sentisse essa experiência – que envolve a angústia e o constrangimento – para entender o real perigo dos discursos radicais que estão ganhando cada vez mais força no país”, comenta.

Para o núcleo, o futuro do Brasil se parece muito com uma mistura do passado e do presente do país, nos quais a justiça é mesclada com a moral religiosa, a escravidão, o machismo e a homofobia são traços marcantes da sociedade e poucos conseguem romper o conforto da passividade. “Começamos a pensar em um futuro para o Brasil e percebemos que os tempos que virão estarão imersos no retorno de coisas horríveis que já aconteceram e de feridas adormecidas. A História não é uma evolução contínua, mas um ciclo de recuos e avanços. Vivemos um momento em que se defende o autoritarismo, a catequização, o preconceito e a perda de salários e direitos trabalhistas. Temos uma ótica medieval e obscurantista sendo retomada, na qual há luta do bem contra o mal e inimigos a serem linchados”, acrescenta.

Ao contrário das distopias clássicas, que trabalham com a ideia de um Estado com avanços tecnológicos inimagináveis, o espetáculo procura focar na face humana da questão. "Ao invés do progresso da ciência, temos o retorno de uma narrativa religiosa maniqueísta e fantasiosa. Ao mesmo tempo, também trazemos quais são os perigos tecnológicos. A peça não trabalha com iluminação teatral, mas com fontes de luz alternativas e manuais, equipamentos celulares e pequenas câmeras. Com isso, queremos mostrar que essa distopia não está tão distante assim da nossa realidade”, esclarece o diretor.

Ficha técnica:
Direção e dramaturgia: Pedro Granato. Elenco: André Salama, Jade Pereira, Isabela Tortato, Beatriz Silveira, Luisa Galatti, Rafael Abrahão, Felipe Aidar, Juliana Navarro, Bruna da Matta, Alvaro Leonn, Helena Fraga, Renan Pereira, Manuela Pereira, Bruno Lourenço e Leticia Calvosa. Coreografias e Assistência de Direção: Inês Bushatsky. Iluminação: Gabriel Tavares. Cenário: Diego Dac. Figurino: Fernando Vilela e Thais Sakuma. Estilização de Cabelos: Caterine Mendes. Assessoria de Imprensa: Adriana Balsanelli. Assistente de Produção Executiva: Leticia Gonzalez. Produção: Pequeno Ato e Contorno Produções. Direção de Produção: Jessica Rodrigues e Victória Martinez.

Este projeto foi realizado com apoio do Prêmio Cleyde Yáconis - Secretaria Municipal de Cultura

Serviço:
"Distopia Brasil" – Estreia dia 29 de março no Centro Cultural São Paulo – Espaço Cênico Ademar Guerra – Porão.
Duração: 90 minutos. Classificação: 12 anos. Ingressos: Grátis, distribuídos uma hora antes
Temporada: de 29 de março a 21 de abril. Sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 20h.

Centro Cultural São Paulo – Espaço Cênico Ademar Guerra – Rua Vergueiro, 1000, Paraíso.
Capacidade: 100 lugares. Informações: (11) 3397-4002.

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