Por Helder Moraes Miranda, em fevereiro de 2019.
Envolvida no centro de uma polêmica que gira em torno de traição e um lar desfeito, a atriz Marina Ruy Barbosa tem sido vítima de um feminismo seletivo. As mesmas que pregam que qualquer mulher pode fazer tudo o que quiser com o próprio corpo e dona de seus desejos e suas vontades, a condenam por supostamente ter se envolvido com um ator que contracena com ela... Também casado!
Ninguém sabe o que de fato aconteceu, mas é certo e notório que o mundo encaretou e a população caminha na velocidade da Luz - fazendo um trocadilho infame com o nome da personagem interpretada pela atriz da novela das nove - para o retrocesso. Não estamos na Idade Média, mas o apedrejamento moral voltou com tudo, está na moda, nas línguas mais afiadas e nas pontas dos dedos de defensores da moral e dos bons costumes que não praticam um décimo do que apregoam.
Só competiria a uma mulher fazer esse escarcéu e julgar da forma que quiser a linda Marina: a esposa traída do homem que, supostamente, não resistiu aos encantos da estrela que até sereia foi em um comercial de carro. Seria mau-caratismo da esposa que sofreu com a traição deixar alguém ser acusado pelo que não fez e deixar à mercê do implacável linchamento virtual que é a internet quando lhe convém? Então, por que ela está calada?
Protegidas por trás das telas de smartphones e computadores, as pessoas xingam e querem palpitar sobre o que não é da própria alçada. Apoiar uma mulher traída é sororidade, podem afirmar alguns. Aquela que traiu a outra, mãe de um bebê de um ano, não teve consideração com todas as outras - é o que a maioria pensa. E eu pergunto sobre a parte que a mulher pode ser o que quiser, até infiel, onde fica, em que lugar enfiaram?
E as atrizes que se diziam amigas, contracenaram e até madrinhas de casamento foram e deixaram-na de seguir nas redes sociais, por que o fizeram? Se um amigo meu trai a mulher e me conta, eu vou tomar as dores daquela que sofreu a infidelidade por quê, se não sou eu quem está sendo traído por ele? Um amigo de verdade aconselha, pode até dar bronca, mas não julga e condena na moeda do irremediável.
A não ser que... essas atrizes que a condenam sintam uma pontinha de inveja daquela que, aos 23 anos, uma menina, domina o mercado publicitário. Ou simplesmente não querem estar vinculadas à imagem da atriz porque condenam um caso extraconjugal que não lhes diz respeito? Estão de olho na fatia de publicidade que podem herdar caso a imagem de Marina realmente fique prejudicada? Já não gostavam da atriz e utilizaram essa história como uma espécie de argumento para se distanciar?
Onde está o empoderamento que tanto se discute todos dias, em "lacrações" praticadas pelas mesmas que soltaram a mão de uma quando até pouco tempo pregavam o "ninguém solta a mão de ninguém"? No caso de Marina, que embora não represente as minorias por ser rica e fazer parte do padrão de beleza clássico imposto pela mídia... esse discurso não vale nada?
Faço parte dos que admiram mulheres livres, sem falsos pudores com o corpo, da geração que viu desde apresentadoras infantis a mocinhas de novela das oito (o antigo horário da novela que precedia o Jornal Nacional) mostrarem tudo na revista Playboy. E era linda essa liberdade, até sexual, que hoje não temos em tempos de aids e camisinha. Em um mundo ideal, a mulher poderia ser o que quisesse, já que hoje não tem essa possibilidade ou tem... seletivamente. E cada um deveria cuidar da sua vida e parar de querer viver o drama do outro e tirar satisfações, xingar, exigir posicionamentos de quem nem sabe que o outro existe. Mulheres podem, e devem, ser o que quiserem: inclusive, adúlteras.
*Helder Moraes Miranda é bacharel em jornalismo e licenciado em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos, pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura, pela USP - Universidade de São Paulo, e graduando em Pedagogia, pela Univesp - Universidade Virtual do Estado de São Paulo. Participou de várias antologias nacionais e internacionais, escreve contos, poemas e romances ainda não publicados. É editor do portal de cultura e entretenimento Resenhando.
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