domingo, 20 de janeiro de 2019

.: Quando a arte é utilizada para jamais esquecer de algo


Por Oscar D’Ambrosio*, em janeiro de 2019.

A arte pode desempenhar um papel fundamental para impedir o esquecimento de mazelas da sociedade. É o que faz a instalação "Reto", de Ai Weiwei, mostrada na Oca, no Parque do Ibirapuera em São Paulo, SP, até este domingo, 20 de janeiro. Exibida pela primeira vez no mundo de maneira integral, são 164 toneladas de vergalhões de aço.

Essas estruturas foram recolhidas dos destroços das escolas destruídas, em 12 de maio de 2008, por um terremoto na província chinesa de Sishuan que teria matado aproximadamente 10 mil pessoas, sendo metade delas estudantes de prédios construídos pelo governo com materiais de menor qualidade, sendo, por isso, chamadas de "sedimentos de tofu".

Perante a resistência das autoridades de dar números oficiais sobre o número de jovens mortos nessas construções, Ai Weiwei desenvolveu com a sua equipe um trabalho de campo, perguntando para as famílias se haviam perdido filhos ou parentes nessas instituições.

Os vergalhões retorcidos das escolas foram levados para o ateliê do artista, onde foram, um a um, esticados. Colocados lado a lado, e com fissuras entre elas para relembrar o terremoto, são documentos de uma tragédia. Constituem uma maneira de a arte declarar um não à falta de informação e um sim à transparência e à criatividade.

*Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

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