A obra reúne transcrições de entrevistas, conferências e discursos feitos de improviso pelo patrono da educação não só no Brasil, mas também na Argentina, Chile e Uruguai, além de um manifesto em homenagem ao povo da Nicarágua. Um dos textos é o conteúdo de uma de suas últimas palestras, em 1996, na Argentina, apresentada para uma plateia de 3,5 mil pessoas no Estádio Deportivo de San Luis. Nesta ocasião, ele falou sobre sua visão otimista do futuro:
“Não é possível conceber um ser humano desesperançado. O que sim, podemos conceber, são momentos de desesperança. Durante o processo de busca há momentos em que nos detemos e dizemos para nós mesmos: não há nada que fazer. Isto é compreensível, compreendo que se caia a essa posição. O que não compartilho é que se permaneça nessa posição. Seria como uma traição à nossa própria natureza esperançosa e inquietamente buscadora”.
Os textos que compõem o livro datam do final dos anos 1980 e início dos anos 1990, em que Freire reafirma suas convicções em relação à politicidade da educação, ao seu sentido ético e estético e ao significado da esperança como motor da prática de educadores progressistas.
Trecho:
“Eu acredito que é preciso cuidar da especificidade dos intelectuais em um processo de Educação Popular; é preciso aproveitar tudo o que cada um deles sabe, pode e queira fazer bem feito. Deve-se, por exemplo, pedir aos matemáticos: ‘ Venham conosco num sábado para ver com os garotos do povo vendem e como fazem o cálculo sem saber nada da chamada matemática oficial. Estudem propostas para ver como podemos melhorar o ensino da Aritmética e de outros campos da Matemática em áreas populares.’ Se você é matemático ou biólogo, não pode ficar satisfeito somente com as aulas que dá na universidade. Qualquer especialidade pode ser importante para apoiar a Educação Popular, para alcançar uma compreensão mais humanizada e mais científica do que é a identidade cultural do povo.”
Ana Maria Araújo Freire nasceu no Recife, em 1933. Filha dos educadores Genove e Aluízio Pessoa de Araújo, proprietários do Colégio Oswaldo Cruz, conviveu, desde muito cedo, com muitos intelectuais que lhe influenciaram o gosto com as coisas da educação. Cursou Pedagogia e é Mestre e Doutora em Educação. Casou-se, em primeiras núpcias, com Raul Carlos Willy Hasche, com quem teve quatro filhos. Deles vieram três netos. Viúva, casou-se com o educador Paulo Freire, em 1986. Foi ele que, sempre a chamando de Nita — apelido que ganhou na infância, quando os dois se conheceram —, perpetuou esse nome por todo o mundo.
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