Por Luiz Gomes Otero*, em janeiro de 2019.
Na década de 60, o cantor e compositor Leno se notabilizou como um dos integrantes da Jovem Guarda, seja em dupla com a cantora Lílian Knapp, seja em carreira solo. E no início dos anos 70, ele gravaria um disco que, mesmo não tendo sido lançado na época (a CBS), acabaria se tornando objeto de culto por parte de colecionadores. "Vida e Obra de Johnny McCartney" representou uma quebra de paradigma em sua carreira, contando com a providencial parceria de Raul Seixas, seu amigo de longa data.
O trabalho era o terceiro álbum em carreira solo. Mas teve a maior parte das letras censurada pelo Governo Federal na época do Governo Militar. Não só as canções em parceria com Raul Seixas, a canção dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle também acabou sendo vetada pelos censores. Esse fato fez com que a gravadora suspendesse o lançamento, que fugia dos padrões comerciais da época.
O disco acabou sendo resgatado pelo jornalista Marcelo Fróes e relançado em 1995 pelo próprio Leno, em seu selo próprio, o Natal Records. Posteriormente a Gravadora Sony (antiga CBS) relançou o disco. E também seria relançado em 2008 nos Estados Unidos.
Escutei recentemente o disco e me surpreendi. Eu conhecia o Leno cantando as canções mais focadas no conceito da Jovem Guarda. E o que ouvi foram arranjos bem elaborados e gravados em oito canais, uma novidade na época. Creio que com esse disco conceitual ele tentava se libertar um pouco da primeira fase, apontando novas tendências em seu som.
A parceria com Raul produziu curiosidades como a ótima "Sentado no Arco Iris", que concorreu no Festival Internacional da Canção de 1971, além de outras pérolas como a que abre o disco ("Johnny McCartney") e a hilária canção folk "Sr. Imposto de Renda" (em que a letra brinca com o duplo sentido das palavras). Não tinha nada a ver com as canções suaves do passado. O rock dava a tônica na maioria das faixas. Alguns temas soavam introspectivos como a ótima "Deixo o Tempo me Levar", essa de autoria de Leno.
Assim como o disco de Ronnie Von de 1968, Leno acabou tendo o valor de seu trabalho reconhecido pela crítica tardiamente. Foi um marco importante em sua carreira, que passava a seguir um direcionamento diferente do período da Jovem Guarda.
"Johnny McCartney" - Leno
"Por que Não?" - Leno
"Sentado no Arco-iris" - Leno
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