quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

.: Entrevista com Ricardo Cruz, músico de superbanda de anime


Ricardo Cruz integra a superbanda de trilha sonora de animes JAM Project. Além de tocar sucessos da cultura pop, Ricardo Cruz vai dividir sua experiência com o público do Rio Matsuri em uma palestra no festival da cultura nipônica que acontece no Riocentro, de 25 a 27 de janeiro. 

Em sua primeira experiência em uma roda de conversa com o público, o único estrangeiro que integra o JAM Project - banda de veteranos que cantam temas de animes e seriados nipônicos -, a grande referência da cultura pop japonesa no Brasil conta sua trajetória de fã a influenciador.

Você não é descendente de japoneses, como surgiu essa paixão pela cultura nipônica?
Meu portal para a cultura japonesa foi a TV Manchete, onde passava Jaspion, Changman e Cavaleiros do Zodíaco. Como boa parte das crianças e adolescentes daquela época, eu fiquei fissurado por esse mundo, mas acho que em mim, esse tipo de arte, narrativa, o design, as músicas bateram de uma forma diferente, mais forte. Eu passei a frequentar o bairro da Liberdade, em São Paulo, onde está concentrada a comunidade japonesa e ter acesso a publicações que não existiam no Brasil. Eram os próprios japoneses que mandavam as revistas e livros pra colônia daqui. Também descobri locadoras de vídeo com fitas amadoras, gravadas com a programação da TV japonesa, que parentes japoneses enviavam pra cá. Naquela época não tinha internet, essa era a minha fonte de pesquisa. Muitas vezes eu ia com o dicionário na mão pra tentar decifrar o que estava escrito nas etiquetas dos vídeos.

Foi assim que você passou a se interessar pelo idioma japonês?
Sim, desvendar a escrita se tornou um fascínio. Conforme fui compreendendo, montei com uns amigos um grupo para exibições públicas dos frutos desses garimpos de fitas VHS que fazia. Apresentávamos os animes e os tokusatsus (seriados japoneses) num teatro, com uma TV de tubo, as pessoas espremiam os olhos pra assistir os programas numa tela pequenininha. E a nossa divulgação era feita por panfletos de xerox, na rua.

Àquela altura você já tinha a sensação de que queria continuar fazendo isso, que viria a trabalhar divulgando a cultura japonesa?
Não era algo claro pra mim. Meu pai foi muito parceiro e me incentivou a fazer um intercâmbio no Japão. Um tio era do Rotary Club na época e fomos atrás do processo, eu fiz tipo um vestibular e passei, fui cursar o último ano do colegial em Utsunomiya, que fica a 100 quilômetros de Tóquio. Ia pra escola de bicicleta vestindo terno e gravata, exatamente como aparece nos animes. Eu, que já era colecionador, quando cheguei lá, pirei! Além de aprender a falar japonês, experimentei toda a cultura pop do país. Vi os shows dos artistas que cantavam os temas musicais dos seriados, conheci o karaokê.

Assim que voltou já se engajou profissionalmente nisso?
A música acabou vindo mais tarde. Na volta, meu primeiro emprego foi como redator da Sessão Super-Heróis, um programa da CNT, que passava em São Paulo. Logo em seguida, fui pra editora Conrad, que publicava revistas especializadas nesse nicho e foi a responsável pelo lançamento dos mangás no Brasil. Eu tive a honra de participar disso. Em 2003, concebi o primeiro Anime Friends, que é um grande evento de cultura pop e que existe até hoje. Tudo baseado no que via acontecer no Japão, a inspiração era mesmo o cenário de lá e nós nem acreditávamos que fôssemos conseguir trazer as atrações para se apresentar aqui na América Latina. Na segunda edição, durante um ensaio do JAM Project, que é justamente a banda dos cantores das músicas-tema originais dos seriados, eu fui "me exibir" e eles gostaram! Ouvi a vida inteira a trilha sonora de anime e tokusatsu, minhas principais influências eram dois dos caras que hoje são meus companheiros no JAM Project, o Hironobu Kageyama e o Masaaki Endoh! O Kageyama pediu pra eu mandar uma demo com os meus vocais e foi assim que, em 2005, me tornei membro da banda. Imagina, é um dream team de cantores veteranos, eu sou o único estrangeiro no grupo!

E como surgiu a ideia de ensinar o idioma japonês?
O que mais gosto é que meu trabalho sirva de ponte entre o Brasil e o Japão, gosto de trazer o que é atualidade fora e também mostrar pra eles as tendências daqui. As pessoas sempre me perguntavam como eu tinha aprendido japonês. Na oportunidade que tive de morar lá, vivenciei a cultura pop do país intensamente e acho que essa é a melhor forma de dominar um idioma. Há três anos formatei toda essa experiência em um curso. O NihonGO é um jogo de palavras em si, já que o significado é uma mistura de "língua japonesa" com o verbo "to go", do inglês. Além do curso online, com plataforma, banco de dados, uma frente didática com módulos que vão ficando mais difíceis, tenho também o canal no YouTube, com videoaulas ensinando japonês do mundo real, analisando frase a frase do que é dito nos produtos da cultura pop que a galera curte.

O que você vai trazer para o público na sua estreia como como palestrante no Rio Matsuri, em janeiro?
Estou ansioso em participar do Festival do Japão do Rio de Janeiro, ouvi falar superbém do evento e, além de me apresentar com o show, com um pot-pourri de músicas famosas, que marcaram várias gerações de fãs de animes e seriados, vou ter a chance de, através da minha jornada, mostrar às pessoas o quanto é possível sonhar, explorar seus próprios potenciais até o limite. Contando a minha história, quero trazer essa empolgação pro público, responder perguntas e, principalmente, motivar as pessoas.

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