Jornada de um Imbecil até o Entendimento. Crédito: Priscila Prade
Montada apenas três vezes, todas dirigidas pelo saudoso João das Neves (1935-2018), a peça "Jornada de um Imbecil até o Entendimento", de Plínio Marcos (1935-1999), ganhou nova encenação, com direção de Helio Cicero. O espetáculo finaliza temporada no Centro Cultural São Paulo (CCSP) – Espaço Cênico Ademar Guerra, dia 16 de dezembro. O elenco é formado por Jairo Mattos, Fernando Trauer, Fernanda Viacava, Rogério Brito e Douglas Simon, além do próprio diretor.
A comedia circense narra as articulações e malandragens de seis vagabundos – Mandrião, Teco, Manduca, Popô, Pilico e Totoca – que sobrevivem pedindo dinheiro nas ruas e becos de uma cidade grande. Apenas Mandrião e Pilico têm chapéus para pedir esmolas, sendo que o primeiro com a ajuda do Teco, uma espécie de secretário, contrata – ou praticamente escraviza – os demais pedintes, respaldados por uma falsa crença criada por um deles.
Mandrião e Teco armam um plano para acabar com Pilico, porque eles descobrem que o concorrente estaria tentando trazer os outros pedintes para seu lado. No meio dessa disputa, os empregados Manduca, Popô e Totoca analisam as vantagens que vão ganhar ao se aliar a cada um desses dois lados.
A encenação caracteriza todos os personagens como palhaços e explora a linguagem do realismo fantástico. “Esta é uma forma de homenagear Plínio Marcos, porque, antes de mais nada, ele era um palhaço. A linguagem clownesca está na estrutura do texto, com as características clássicas do universo clown, no qual as duplas aparecem com suas figuras típicas e referências. A opção pelo realismo fantástico do diretor Helio Cicero foi feita porque a única forma de contar essa história é através da poesia, já que a realidade é tão crua e dura e se supera a cada dia”, revela o ator e idealizador do espetáculo Fernando Trauer.
Ainda segundo Trauer, a ideia de montar o espetáculo surgiu quando leu o texto publicado na Coleção Plinio Marcos, Obras Teatrais, de Alcir Pécora. “A linguagem do Teatro do Absurdo; as referências explícitas a Esperando Godot [de Samuel Beckett], Ionesco e Brecht; a atualidade de um texto de 50 anos, que reflete o momento político no qual vivemos, nos níveis político, social, econômico e jurídico; e o fato de a peça fugir muito das tradicionais características conhecidas do Plínio são motivos que me despertaram o interesse”, diz.
A própria realidade brasileira atual serviu como fonte de inspiração. “As referências são diárias sobretudo em época de eleições: a história recente do país, os conchavos políticos, o Poder Judiciário, a dominação religiosa, a nossa São Paulo brasileira de tanta miscigenação, sujeira e belezas misturadas, a pobreza e as riquezas antagônicas. Além disso, adotamos a palhaçaria com suas referências clássicas, o universo do artista das ruas e a análise do indivíduo social e suas mazelas e belezas que o fazem humano”, comenta Trauer.
A montagem é ambientada em uma estação de trem abandonada, com trilhos disformes que levam a diferentes caminhos – esta é uma forma de homenagear João das Neves e seu maior espetáculo, O Último Carro. “O porão do Centro Cultural São Paulo contribui para a estrutura cenográfica, criando uma atmosfera de desolação, na qual a reutilização é palavra de ordem nos trilhos de uma estação de trem abandonada, cujas direções levam e trazem a lugares que foram ou poderiam ter sido alternativas. Com forte influência de Banksy, retrataremos um pouco das ruas e da realidade que nos cerca”, esclarece o diretor Helio Cicero.
“Assim como o cenário também criado pela Luiza Curvo, os figurinos estão sendo confeccionados com materiais recicláveis como plástico, cápsulas de café, retalhos de tecidos e sobras do mercado industrial, em contraponto aos trajes sociais dos cinco estagiários oriundos do Projeto Vocacional da Prefeitura Municipal de São Paulo, que além de receberem o público, interferirão nas cenas. A Iluminação de André Lemes segue o mesmo conceito, com o uso alternativo de fontes de luz criando o efeito necessário do realismo fantástico. As músicas sob direção de Dagoberto Feliz serão cantadas pelos atores e pelo coro de estagiários, proporcionando uma partitura contemporânea ao texto do Plínio”, acrescenta o encenador.
Indicada ao Prêmio Molière em 1968, a montagem icônica de João das Neves para a obra aconteceu no teatro Opinião, no Rio de Janeiro, com Milton Gonçalves, Ary Fontoura, José Wilker, Denoy de Oliveira, Jorge Cândido e Teca Calazans no elenco. As outras duas encenações ocorreram em 1969, no Teatro Maria Della Costa, em São Paulo, e em 1970, no Teatro Arena, em Porto Alegre.
Ficha técnica:
Texto: Plínio Marcos. Direção: Helio Cicero. Direção Musical: Dagoberto Feliz. Elenco: Jairo Mattos, Fernando Trauer, Fernanda Viacava, Rogério Brito, Douglas Simon e Helio Cicero. Participação Especial: Luiza Curvo. Coro: Angélica Müller (voz e percussão), Fagundes Emanuel (voz e percussão), Kauan Scaldelai (voz, acordeom, violão e cavaquinho), Léia Góes (voz e saxofone) e Maic William (voz). Iluminação e Operação de Luz: André Lemes. Cenografia e Figurino: Luiza Curvo. Visagismo: Beto França. Estudo de Linguagem Clownesca: Dagoberto Feliz. Assistência de Direção: Marina Soares. Treinamento Viewpoints: Marcella Vicentini. Assistência de Cenografia, Figurinos e Adereços: Priscila Alcebiades. Cenotécnicos: Domingos Varella e João Sobrinho. Costureira: Teresa Braga. Designer Gráfico: Murilo Lima. Conceito Visual: Gigi Prade e Murilo Lima. Mídia Digital: Gigi Prade - Vem pro Teatro! Soluções Digitais Culturais. Fotografia: Priscila Prade. Videomakers e Fotografia dos Ensaios: Irmãos Rio Filmes. Assessoria de Imprensa: Adriana Balsanelli. Direção de Produção: Fernando Trauer. Produção Executiva: Gustavo Casabona. Coordenação de Acessibilidade: Douglas Simon. Direção de Palco: Greco Trevisan. Tradução em Libras: Glauber Lethieri. Realização: Mecenato Moderno/Silvia Marcondes Machado, Emtranse Produções Artísticas/Fernando Trauer, Prêmio Zé Renato de Teatro e Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. Idealização: Fernando Trauer.
Serviço:
JORNADA DE UM IMBECIL ATÉ O ENTENDIMENTO
Duração: 130 minutos. Gênero: Comedia. Classificação: 14 anos.
Ingressos: R$ 30 (inteira); R$15 (meia-entrada).
Temporada: Até 16 de dezembro. Sextas e sábados, às 21h; domingos, às 20h.
CENTRO CULTURAL SÃO PAULO – Rua Vergueiro, 1000, Paraíso, São Paulo, SP.
Bilheteria: de terça a sábado, das 13h às 21h30; domingos, das 13h às 20h30. Vendas pelo site Ingresso Rápido (www.ingressorapido.com.br). Capacidade: 130 lugares. Informações: (11) 3397 4002.
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