Em dezembro de 2018
Histeria coletiva pós-apocalíptica. "Bird Box" é movido por trama que arrepia e faz roer as unhas. O longa de suspense dirigido por Susanne Bier, baseado em livro homônimo, de Josh Malerman, remete, em certas situações, a "Ensaio sobre a cegueira", livro de José Saramago que foi adaptado para a telona, o filme recente "Um lugar silencioso" e até a série "Lost". Contudo, não há como discutir. Cada obra é única e de brilho próprio.
Protagonizado por Sandra Bullock, que dá um banho de atuação, com direito a uma breve parceria com Sarah Paulson, as duas na pele das irmãs Malorie Hayes e Jessica Hayes, fazem de "Bird Box" uma joia cinematográfica. De enredo não-linear, desperta reflexões que vão além da tal criatura que não pode ser vista. Ainda no elenco está o grande John Malkovich, que faz perfeitamente o personagem que se ama e odeia ao mesmo tempo, assim como Trevante Rhodes, do filme vencedor do Oscar "Moonlight".
Roteirizado por Eric Heisserer, o suspense de ponta começa numa panorâmica, tendo no centro um rio cercado por uma floresta. Ao percorrer tal rio, por rádio, uma voz masculina promete um lugar seguro quando o nome do longa de 2 horas e 4 minutos surge acima das águas. Ainda no presente, Malorie (Bullock) reforça regras a serem seguidas por um casal de garotos, sem nome, que levam uma caixa com três pássaros.
Vendados, Malorie, o Garoto e a Garota, seguem o rio num barco, com direito a neblina e muita tensão. No entanto, um recorte no tempo, volta cinco anos. Em casa, as irmãs Hayes tomam conhecimento de certo frenesi que proliferou na Rússia. Grávida, Malorie é acompanhada pela irmã Jéssica para uma consulta de rotina, com a Dra. Lapham (Parminder Nagra). Na saída, o primeiro delírio de fúria acontece diante dos olhos de Malorie. O mal está por perto! Como não babar na perfeita dobradinha de Sandra e Sarah, mesmo que apenas no início?
Numa casa, a salvo, com grupo de pessoas, Malorie descobre que a presença misteriosa leva as pessoas a cometerem suicídio. Assim, decidem fechar todas as janelas. Não é permitido olhar diretamente para tal criatura! Sem assumir uma forma monstruosa, assim como em "Um Lugar Silencioso" ou o temível Lostzilla de "Lost".
No anúncio da morte, alertado pela agitação dos pássaros, "Bird Box" bagunça os nervos e faz qualquer queixo cair. Como não arregalar os olhos no momento em que Malorie, no barco, com as crianças sofre grave ameaça por um Bobby Singer do mal -personagem da série "Supernatural" ou até mesmo bate em uma embarcação e uma das crianças cai do barco?
A mais gratificante surpresa é que o longa não brinca apenas com a ansiedade, mas provoca reflexões. Seja sobre a animalização do ser humano diante de situações limite, o instinto de sobrevivência que esbarra no "cada um por si", incluindo a luta pela alimentação, a convivência com pessoas de pensamentos diferentes, e as de postura egocêntrica e, por fim, a aceitação da construção de laços afetivos.
O filme que vale ser visto e revisto está disponível na Netflix, a partir de hoje. Não perca!
Filme: Bird Box (Estados Unidos, 2018)
Duração: 124 min
Direção: Susanne Bier
Produção: Chris Morgan, Barbara Muschietti, Scott Stuber, Dylan Clark, Clayton Townsend
Roteiro: Eric Heisserer
Baseado em Bird Box de Josh Malerman
Elenco: Sandra Bullock, Trevante Rhodes, Jacki Weaver, Rosa Salazar, Danielle Macdonald, Lil Rel Howery, Tom Hollander, BD Wong, Sarah Paulson, John Malkovich, Colson Baker
*Mary Ellen Farias dos Santos é criadora e editora do portal cultural Resenhando.com. É formada em Comunicação Social - Jornalismo, pós-graduada em Literatura e licenciada em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos. Twitter: @maryellenfsm
Li o livro e vi o filme, gostei bastante. O texto está bem lúcido, fala sobre a essência da história.
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