Réquiem para o Nacional
noite eterna
manhã sem amanhã
hoje é dia de cinzas
cinzas
mortas
menos que cinzas
sem chance de renascer
muito além do Museu
muito além da memória
queimaram o futuro
o presente
a história
queimaram o nacional
nossa esperança de ser
queimaram os colchões do berço esplêndido
as chamas acesas do descaso
condenam ao sono eterno
o nosso já tão descrente país do futuro
os raios do mal cruzaram tempo e espaço
torraram até o extraterrestre
além do internacional
rochas dos astros
vidas antigas em pedras eternizadas
animais
plantas ao sempre guardadas
culturas
vidas passadas
futuras
tudo rodou no roldão nacional
múmias vieram morrer no Nacional
o eterno condenado ao ocaso
não por acidente do acaso
mas pelo desmando fatal
calam-se as palavras estarrecidas
diante do presente destruído
do passado carbonizado
do futuro no escuro
do carro desgovernado
não há labaredas de palavras
capazes de extinguir
o sangue
fervente
vermelho
das labaredas do crime organizado
que incendiou nosso país
Quem pôs fogo no Brasil?
Nós e ninguém.
Quem destruiu o Brasil?
Nós e ninguém.
Nós elegemos o ninguém
os caras
que escondem as caras
no instante em que o fogo vem
logo agora
na hora da reeleição
na gula de votos
na ânsia
nossos ninguéns
precisam livrar-se das cinzas
precisam mostrar suas caras limpas
rementir
fazer preleção
postar-se ao largo dos desenganos
prometer plantios na terra queimada
tratar-nos como gentios
com sua assassina arrogância
que surrupia de nós o voto
e por mais quatro prósperos anos
nos relega a menos que nada
Este é um triste réquiem
para a esperança do meu país
para o que eles fizeram
nós fizemos
eu fiz.
Luiz Sampaio: poeta que prepara o lançamento de luizsampaio.com
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