segunda-feira, 3 de setembro de 2018

.: "Pássaros Feridos" e "Pantanal" fizeram a Globo "perder o sono"


Por André Araújo*, em setembro de 2018.

Nos anos 80 (a realidade era essa mesma!), toda e qualquer coisa que a Rede Globo exibisse liderava a audiência. Sem muitas opções, impossível que a emissora de Roberto Marinho não dominasse. Ainda assim, existiram algumas porcarias chamadas de novelas que foram um grande fracasso de popularidade; ou seja, as pessoas ligavam na Rede Globo por hábito, mas ninguém prestava atenção no que estava no ar. 

"De Quina Pra Lua", em 1985, foi um exemplo! Quem lembra? E ainda em 1985, mesmo com o estrondoso sucesso de "Roque Santeiro" (eu ainda acho "Corpo a Corpo", do Gilberto Braga, superior à saga da "Viúva Porcina", do Dias Gomes!), houve um embate de alto nível: o SBT (quem diria!), dominou geral ao exibir a minissérie estrangeira "Pássaros Feridos", que tirou o sono da "Vênus Platinada", que não via a hora da trama importada acabar... e só pra chatear, Sílvio Santos (marca registrada dele!), espichava os capítulos da história do Padre que vivia um amor proibido, óbvio, com a intenção de fazer a alta cúpula global perder o sono (e conseguiu!)

Em 1986, outro embate de alto nível: a Rede Manchete roubou as atenções para si ao inovar produzindo a maravilhosa novela "Dona Beija". Que sucesso! A questão foi que a Rede Globo não reagiu, diferente de "Pantanal", em 1990, que fez a emissora carioca se revirar no túmulo e até criar, a toque de caixa, um novo horário de novelas: 21h30, para bater de frente com a trama em que a personagem Juma Marruá (Cristiana Oliveira) liderava sem precisar de muito esforço. 

Mas era tarde demais!..."Pantanal" estava em reta final e e o público que seguia a história do "véio" do Rio não mudaria de canal, tal qual aconteceu com "Os Dez Mandamentos" em 2015. "A Regra do Jogo", do João Emanuel Carneiro, que estreou no auge do sucesso da saga de "Moisés", jamais faria os telespectadores da Rede Record trocarem de canal (quem se arriscaria mesmo?). Ainda que "A Regra do Jogo" tivesse em suas chamadas a frase extra "Do mesmo autor de 'Avenida Brasil'", o que se viu na substituta do mega fracasso "Babilônia", de Gilberto Braga, foi uma trama policial sem pé nem cabeça em que o público não sabia quem era quem e não tinha por quem torcer. 

Atenção autores de novelas: em telenovela tudo deve ficar bem claro! Mocinho pode até ser dúbio, mas há necessidade de uma personagem por quem o público vibre e torça. Só em UMA novela, entre DEZ MIL, há acerto quando o seu autor envereda pelo cainho da indecisão. Anti-herói funcionou bem nos anos 1970, mas hoje com tantas opções, melhor não arriscar. Mas voltando à Rede Globo em 1990, mesmo assinada pelos intelectuais Dias Gomes, Ferreira Gullar e Lauro César Muniz (sempre péssimo como autor de telelágrimas!), "Araponga", estrelada pelo eterno galã Tarcísio Meira, não empolgou.

Quem viu a novela do Tarcisão, só pegou os últimos meses, pois teve de esperar pelo desfecho de "Pantanal". E mesmo que tentem falar o contrário, nada poderá mudar o que passou.

*André Araújo é um apaixonado por telenovelas. Tanto que ele escreve algumas por aí e publica pela internet, arrebatando fãs e distribuindo inspiração. Da cabeça dele já saíram grandes personagens. Entre as novelas virtuais, é autor de "Uma Vez Na Vida! e "Flor de Cera".



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