Por Helder Moraes Miranda, em setembro de 2018.
O objetivo de incentivar a leitura, a partir da divulgação de livros favoritos de pessoas conhecidas do grande público. Nesta semana, o ator João Vitti (entrevista com ele neste link), prestes a estrear a partir de 5 de outubro no Teatro XP Investimentos a peça "Senhora dos Afogados" dirigida por Jorge Farjalla (crítica neste link), revela que o seu livro preferido é o romance épico "Musashi", de Eiji Yoshikawa.
O livro favorito de João Vitti, ator
"'Musashi', de Eiji Yoshikawa. Sāo dois volumes de quase mil páginas cada (uma edição mais recente conta com três volumes). É um romance épico japonês que narra a trajetoria do maior samurai do Japão da época dos xoguns e conta como um jovem selvagem e sanguinário que vai conquistando, ao longo de inúmeras lutas e constantes situações de grande perigo, as qualidades e a têmpera que o levariam a ser o maior e mais sábio de todos os guerreiros. Yoshikawa pinta telas e situações que sem perceber você se vê dentro delas. Você tem um calhamaço de páginas diante de você e nāo sente o tempo passar. Super recomendo!".
João Vitti, ator.
O livro
"Musashi", de Eiji Yoshikawa é um romance épico publicado em folhetim em 1935 no jornal Asahi Shimbun. A obra é uma ficção sobre a vida de Miyamoto Musashi, o samurai mais famoso do Japão e autor do "Livro dos Cinco Anéis". No Brasil, foi publicado pela primeira vez pela editora Estação Liberdade em 1998 em dois tomos com tradução de Leiko Gotoda, sobrinha romancista japonês Junichiro Tanizaki. Em 2006, a editora publicou "O Samurai - A Vida de Miyamoto Musashi", de William Scott Wilson, traduzido por Mauro Pinheiro.
"Musashi", de Eiji Yoshikawa, é baseado diretamente na história japonesa. Narra um período da vida do mais famoso samurai do Japão, que viveu presumivelmente entre 1584 e 1645. O início é antológico: Musashi recupera os sentidos em meio a pilhas de cadáveres do lado dos vencidos na famosa batalha de Sekigahara, em 1600. Perambula a seguir em meio a um Japão em crise onde samurais condenados por senhores feudais ao desemprego e à miséria (os rounin), Desbaratados, eles semeiam a vilania ditando a lei do mais forte.
Musashi será mais um dentre estes pequenos tiranos, derrotando impiedosamente quem encontra pela frente até que um monge armado apenas de sua malícia e de alguns preceitos filosóficos zen-budistas consegue capturá-lo e pô-lo rudemente à prova. Musashi foge graças a uma jovem admiradora, para ser novamente capturado, e fica três anos confinado em uma masmorra, onde uma longa penitência toda feita de leituras e reflexões o fará ver um novo sentido para a vida, assim como novos usos para sua força e habilidade descomunais.
Os caminhos rumo à plenitude do ser jamais são fáceis, e em seus anos de peregrinação em busca da perfeição tanto espiritual quanto guerreira enfrentará os mais diversos adversários. É numa dessas situações que, totalmente acuado, usará pela primeira vez, em meio ao calor da luta e quase inconscientemente de início, a surpreendente técnica das duas espadas, o estilo Niten ichi, que o tornaria famoso pelo resto dos tempos.
O leitor poderá acompanhar a seu amadurecimento, acompanhando o percurso que o levou a se transformar de um garoto selvagem e sanguinário no maior e mais sábio dos samurais, capaz de entender e amar tanto a esgrima quanto as artes. Paralelamente, a trama caminha para o esperado e inevitável duelo na ilha de Funashima com Sasaki Kojiro, o outro grande espadachim da época e rival de Musashi em habilidade, tenacidade e sabedoria guerreira.
Esse surpreendente combate, que encerra a obra, se firmou por meio da literatura (em adaptações de todo tipo e por suas várias versões cinematográficas) no ideário coletivo da nação japonesa, e não há quem não comente seus lances nos mínimos detalhes.
Musashi também traça um painel do Japão em sua encruzilhada na época da unificação nacional sob a linhagem dos Tokugawas, numa longa transição que o viu passar de constantes lutas armadas entre pequenos suseranos (daimyo) ao domínio de uma classe de “burocratas do papel e do pincel” (nas palavras do especialista Edwin Reischauer, que assina o prefácio), que fariam o país se desenvolver isoladamente do resto do mundo por dois séculos e meio.
A obra também será marcada pelos acontecimentos em Edo, a futura Tóquio, então em frenético desenvolvimento, cujo palpitante submundo deixa antever a metrópole que mais tarde viria a ser, e que constituem a incursão urbana desta obra predominantemente bucólica e com forte presença de um feudalismo em sofrida modernização.
Sobre o autor
Eiji Yoshikawa (Kanagawa, 11 de agosto de 1892 - 7 de setembro de 1962) foi um autor de romances históricos japonês. Yoshikawa iniciou sua carreira literária aos 22 anos, quando, paralelamente à sua carreira de jornalista, que inclusive o levaria a ser correspondente de guerra, começou a escrever contos e romances históricos, muitas vezes publicados nos jornais de maior tiragem do Japão. No ano de sua morte, em 1962, era um dos mais conhecidos e populares escritores do país.
Com Musashi, publicado inicialmente no Asahi Shimbun entre 1935 e 1939 em 1.013 episódios, Yoshikawa ficaria nacionalmente famoso e alcançaria depois tiragens absolutamente inéditas na história do Japão, ultrapassando com esta obra a marca dos cem milhões de exemplares vendidos no início da década de 80. A tradução desta obra para o português, considerada a única integral no Ocidente, teve tiragem superior a 40.000 exemplares.
Sobre João Vitti
João Vitti é, sem sombra de dúvida, um grande ator. Aos 35 anos de carreira, interpretou grandes personagens no teatro e na televisão. Um dos mais marcantes é o Xampu, da novela "Despedida de Solteiro", gravada em 1992. Sem medo de mudanças, ele desconstruiu o rótulo de galã que lhe conferiram ao aceitar ser um dos protagonistas de "Senhora dos Afogados", peça teatral de Nelson Rodrigues, em que interpretou, com toda a segurança em que os anos de atuação lhe conferem, um dos personagens mais densos de sua carreira: Misael Drummond.
Começou a carreira teatral em 1983 ao ingressar, por influência das aulas de História do Teatro, ministradas no Colégio Salesiano Dom Bosco em Piracicaba, no Grupo Teatral Shekyspira. O primeiro personagem em teatro foi Pedro Rocha Teixeira da peça "A Escola", de Miguel M. Abrahão. O primeiro prêmio como melhor ator se deu em 1984 durante o 3º FESTE (Festival Salesiano de Teatro Educativo) do estado de São Paulo com o personagem Tom, da peça "Pássaro da Manhã", de Miguel M. Abrahão. Em sua carreira no teatro, fez apenas uma única peça infantil: "Joãozinho Anda Pra Trás", de Lúcia Benedetti.
Seu trabalho na peça teatral "O Concílio do Amor", dirigida por Gabriel Vilela em 1989, rendeu a ele o convite de estrelar novelas da Rede Globo. Durante a adolescência morou nos Estados Unidos, onde jogava futebol profissionalmente na categoria sub-15. João se formou na primeira turma de artes cênicas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), em 1989. Em 1994, começou a namorar a atriz Valéria Alencar, com quem se casou em 1996. Um ano antes, em 2 de novembro de 1995, nasce o primeiro filho do casal, o ator Rafael Vitti. Em 18 de julho de 1997, nasce o segundo filho, o também ator Francisco Vitti.
*Helder Moraes Miranda escreve desde os seis anos e publicou um livro de poemas, "Fuga", aos 17. É bacharel em jornalismo e licenciado em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos, pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura, pela USP - Universidade de São Paulo, e graduando em Pedagogia, pela Univesp - Universidade Virtual do Estado de São Paulo. Participou de várias antologias nacionais e internacionais, escreve contos, poemas e romances ainda não publicados. É editor do portal de cultura e entretenimento Resenhando.
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