O fundamentalismo religioso, a alienação e a fé são questões levantadas no espetáculo Mateus, 10 ao traçar a trajetória de um pastor obcecado pelo texto bíblico que deseja formar uma nova doutrina.
Com dramaturgia de Alexandre Dal Farra, que assina a direção com João Otávio, a montagem do grupo Tablado de Arruar volta em cartaz de 14 agosto a 5 setembro na Oficina Cultural Oswald de Andrade. As sessões acontecem às terças e quartas, às 20h.
O espetáculo foi vencedor do Prêmio Shell 2012 na categoria de Melhor Autor (Alexandre Dal Farra) e indicado à categoria de Melhor Ator (Vitor Vieira), e venceu também o prêmio Cooperativa Paulista de Teatro na categoria Melhor Espetáculo em Espaço Alternativo.
Otávio é um pastor em ascensão que entra em crise com sua atividade, quando se apega de forma quase obsessiva a uma passagem da bíblia em que Jesus renega sua família, mãe e irmãos, em função dos seus seguidores e discípulos. A partir de então, Otávio passa a desenvolver e a pregar uma nova doutrina. O desejo obsessivo de negar o conhecido em função do novo, a qualquer custo, o leva à beira da loucura. Para instaurar uma nova ordem ele precisa de um fato que mude os rumos da sua vida, e é a partir dessa atitude que a trama se desenrola.
“Decidimos retomar essa peça porque percebemos que ela está muito mais atual agora do que na sua época. Embora já fosse importante na época, o espaço político, simbólico, que a igreja evangélica ocupa no país agora é incomparavelmente maior. Também por conta de algo que voltou a nós interessar, que é um teatro talvez ‘pós-performativo’ em um momento de saturação e mercantilização da performatividade, a linguagem de Mateus 10 parece apresentar outras possibilidades de tocar o real”, fala Dal Farra.
Com referências a Bartleby, o Escriturário, de Herman Melville, e Crime e Castigo, de Dostoiévski, a peça levanta questões como a culpa, a alienação e a fé por meio da trajetória de um pastor que leva a sério demais o que ele mesmo prega.
Na montagem, poucos elementos cênicos valorizam a interpretação dos atores e o texto como principais motores da encenação. Os espectadores transitam – como fiéis atrás do mestre – por espaços que simulam a casa do protagonista, a igreja e até um churrasco na vizinhança.
Sobre o Tablado de Arruar: O Tablado de Arruar é um grupo formado por artistas oriundos da EAD, ECA, UNICAMP, FFLCH e INDAC, fundado em 2001, manteve-se desde o início com o mesmo núcleo de trabalho. Na primeira fase do grupo, voltado sobretudo para o teatro em espaços abertos, o grupo criou e circulou pelo Brasil com as peças A Farsa do Monumento, Movimentos para Atravessar a Rua, A rua é um rio e Helena pede perdão e é esbofeteada. Em um segundo momento, o grupo passa a realizar uma pesquisa e criação de espetáculos para espaços fechados. Nessa fase criou e circulou pelo Brasil e pelo exterior com Quem Vem Lá, Haut Aus Gold [Pele de Ouro], Mateus, 10, Abnegação 1 e Abnegação 2 e Abnegação 3.
Desde 2009 o grupo vem desenvolvendo uma linguagem própria, aprofundando sua pesquisa em duas: a dramaturgia e o trabalho do ator como elemento principal da encenação. Esses dois eixos fundamentais do grupo tiveram, ambos, o reconhecimento da crítica e do público já desde Mateus, 10 ( vencedor do Prêmio Shell de melhor autor e do prêmio CPT de melhor espetáculo, além da indicação do Prêmio Shell de melhor ator) seguido pelos outros sucessos de público e crítica, as três peças que compõem a Trilogia Abnegação, todas elas indicadas a prêmios e apresentadas em todo o país, além de terem sido editadas e encenadas também no exterior.
O grupo foi contemplado pela Lei Municipal de Fomento ao Teatro por diversas vezes, e já recebeu ou foi indicado a quase todos os prêmios de teatro do país, entre eles: APCA, Aplauso Brasil, Shell, e CPT. Suas peças já participara dos principais festivais do país tais como Festival de Curitiba, FILO, FIT-Rio Preto, Tempo Festival, Trema, etc. Entre 2008 e 2010, o Tablado de Arruar esteve envolvido no projeto Pele de Ouro – Haut aus Gold, uma co-produção Brasil-Alemanha. O processo teve como resultado a peça Pele de Ouro – Haut aus Gold, que estreou em Berlim, em 2009, no Teatro Maxim-Gorki, e depois veio para o São Paulo, onde cumpriu temporada no SESC – Pinheiros, em junho de 2010.
Ficha Técnica:
Texto: Alexandre Dal Farra.
Direção: João Otávio e Alexandre Dal Farra.
Atores: Alexandra Tavares, André Capuano, Amanda Lyra, Clayton Mariano, Ligia Oliveira e Vitor Vieira.
Direção de Arte: Clayton Mariano e Eduardo Climachauska
Luz: Davi de Brito.
Produção: Palipalan.
Serviço:
MATEUS, 10
De 14 agosto a 05 setembro.
Terças e quartas, às 20h.
Duração: 110 minutos.
Classificação etária: 14 anos.
Ingressos: Grátis - retirar com 1h de antecedência.
OFICINA CULTURAL OSWALD DE ANDRADE. Sala 3 - Rua Três Rios, 363. Bom Retiro. São Paulo. SP. Capacidade: 25 lugares.
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