segunda-feira, 13 de agosto de 2018

.: "A Biblioteca Elementar": negros e índios no imaginário carioca

Numa noite quente de 1733, uma mulher, oculta num burel de franciscanos, sai às escondidas do cemitério de pretos, no convento de Santo Antônio. Seu destino é a Rua do Egito, viela onde é, hoje, a Rua da Carioca, no Centro do Rio de Janeiro. À margem do traçado oficial da cidade de então, composto por apenas duas dezenas de casas simples, o logradouro era morada de ciganos e cristãos-novos. Ou, pelo menos, é assim na imaginação do escritor Alberto Mussa.

No caminho entre o cemitério e a rua, a mulher misteriosa testemunha um crime. Há uma discussão e um tiro. Há segredos e superstições, lendas e traições, numa trama policial que resgata parte da história do Brasil popular para refletir sobre algumas questões mitológicas universais — como a ideia, por exemplo, de que o adultério é fagulha originária de grande parte das guerras. 

Com "A Biblioteca Elementar", o carioca Alberto Mussa põe ponto final em seu Compêndio Mítico do Rio de Janeiro, conjunto de cinco romances nos quais investiga, por meio de histórias policiais, a confluência das tradições ameríndias, africanas e do Brasil popular na composição do imaginário e do panorama mitológico da cidade.

Com os romances anteriores, Mussa conquistou alguns dos principais prêmios literários da atualidade, como o Casa de Las Américas e o Machado de Assis, além de ser sido traduzido para inúmeros idiomas. A natureza do Mal e as codificações sexuais, temas centrais em sua obra, ganham ainda mais destaque neste novo livro, que ilumina um pressuposto inquietante: a mulher, no fim das contas, parece sempre a culpada.

 Alberto Mussa nasceu no Rio de Janeiro, em 1961. Contista e romancista, conclui, com este "A Biblioteca Elementar, o “Compêndio Mítico do Rio de Janeiro”, série de cinco romances policiais, um para cada século da história carioca. Recriou a mitologia dos antigos tupinambás; traduziu a poesia árabe pré-islâmica; e escreveu, com Luiz Antonio Simas, uma história do samba de enredo. Além de figurar em listas de “melhores do ano” de veículos como Veja, O Globo e Folha, ganhou os prêmios Casa de Las Américas, Academia Brasileira de Letras, Oceanos, Machado de Assis (FBN) e APCA. Estudada na Europa, nos Estados Unidos e no Mundo Árabe, sua obra está publicada em 17 países e 15 idiomas.


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