sexta-feira, 25 de maio de 2018

.: “Sinfonia da Violência” provoca brasileiros a sairem da inércia


A cada dez minutos, uma pessoa é assassinada no Brasil. Nos últimos 15 anos foram mais de 850 mil mortes, índice maior que o de países em guerra como Síria e Iraque. Só no último ano, mais de 59 mil pessoas foram assassinadas no país, número maior que Estados Unidos, Canadá, Europa e Oceania juntos.

Mesmo assim, a notícia de um novo crime se tornou tão cotidiana que não choca mais o público brasileiro. Para ajudar a transformar essa percepção, o coletivo Unlockers, a Lucha Libre Áudio e o Drac Studio (EUA) criaram uma experiência completa que provoca novamente essas sensações naturais humanas diante de situações de incômodo intenso.

Cartazes especiais foram produzidos para destacar alguns dos mais recentes assassinatos cometidos no Brasil, como os de Marielle Franco (38), executada com quatro tiros no Rio de Janeiro após sair do trabalho; de João Pedro Engels (72), vítima de quatro disparos quando deixava uma agência bancária em São Paulo; e dos cinco garotos assassinados brutalmente dentro de seu próprio condomínio, também na capital fluminense.

Cada pôster foi baleado com o mesmo número de tiros e o mesmo calibre das armas utilizadas em cada uma dessas ocorrências. O som e as marcas dos disparos, transformadas em partituras, inspiraram a composição da “Sinfonia da Violência – A Música Menos Agradável de se Ouvir”, utilizando ainda recursos sonoros que geram reações físicas reais aos ouvintes. A trilha traz ainda linhas de bateria gravadas pelo integrante do Rock and Roll Hall of Fame Matt Sorum (Guns N’ Roses e Velvet Revolver) logo após seu primeiro contato com o material.

“Este experimento musical foi criada para tirar as pessoas da inércia atual diante da violência no Brasil. Para isso, aliamos os barulhos reais de disparos, sons de baixa frequência, dissonância musical e outros elementos que comprovadamente resultam em sentimentos como ansiedade, tensão e medo – sensações que deveríamos ter diante de situações de violência como as que vivemos e não temos mais”, explica Paulinho Corcione, sócio e produtor da Lucha Libre Áudio. “Esses infrassons, em torno de 18 e 20 hertz, são conhecidos como a ‘frequência do medo’. Eles são produzidos naturalmente por alguns predadores, como os tigres, e chegam a penetrar no cérebro da presa podendo gerar diversas sensações incômodas, inclusive sua paralisação”, reforça o Dr. Roberto Hirsh, neurologista do hospital Albert Einstein que atuou como consultor no projeto.

Pelo site sinfoniadaviolencia.com, é possível fazer uma imersão na experiência, testando suas próprias reações diante da sinfonia. O visitante também é convidado a conferir os cartazes, ler mais informações sobre os crimes e fazer doações para projetos educacionais e instituições que lutam contra a violência no Brasil. Os cartazes reais foram transformados em uma exposição itinerante que já passou por cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e devem ter como destino final Brasília, junto com um convite para que o Ministro da Segurança Pública se junte à causa.

O principal objetivo da Sinfonia da Violência é gerar sensações de tensão e incômodo em seus ouvintes, sentimentos que deveriam ser comuns a qualquer brasileiro diante de uma nova notícia de um assassinato no Brasil. Mantendo o debate vivo até que essas notícias não existam mais.

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