Em março deste ano, em Belém do Pará, a escravidão ocorrida no período imperial brasileiro foi tomada como mote de um ensaio fotográfico para uma festa de 15 anos, onde a debutante homenageada aparecia “servida” por negros como uma “sinhá” oitocentista.
Em setembro do ano passado, na Bahia, mãe e filha, ambas negras e torcedoras de um time de futebol baiano, tiveram sua foto montada com outra foto de torcedoras brancas do time adversário, sob a legenda: “Ainda tem gente que acha que time é tudo igual”. A montagem foi compartilhada em grupos de WhatsApp. Em novembro do ano passado, William Waack, apresentador de um telejornal brasileiro, foi demitido da emissora em que trabalhava, por causa de um vídeo onde o jornalista aparecia fazendo piadinhas racistas.
Esses fatos são apenas alguns exemplos de que, entre artistas, atletas, jornalistas e cidadãos em geral, a vida social brasileira ainda está repleta de ocorrências de racismo, apesar da criminalização homologada um século após a abolição da escravatura no Brasil. Isso acontece por causa do contexto histórico em que o negro africano é introduzido na história do Brasil, que começa oficialmente em 1530.
Do início do período colonial à abolição, em 1888, são 358 anos. Some-se a isso mais 100 anos de combate às heranças culturais negativas da escravidão, até a criminalização do racismo, e teremos um contexto histórico de aproximadamente quatro séculos e meio de cultura escravocrata que, se não justifica, reduz o crime de racismo a uma “determinação histórico-cultural”.
Há praticamente três décadas, o racismo é considerado crime inafiançável e imprescritível, pela lei 7.716, de 5 de janeiro de 1989. Desde então, a resistência à cultura escravista culminou na criação de outras leis que fazem eco à tipificação do crime de racismo, tais como o Estatuto da Igualdade Racial (2010) e a Lei de Cotas (2012), que garante o acesso de estudantes negros e indígenas a instituições de ensino e à condição de servidor público.
No entanto, ao lado das ocorrências de racismo, há grupos fascistas que reagem à luta secular dos negros por igualdade, sobretudo nas redes sociais. Por isso, um grupo de cinco professores da rede pública e particular de ensino, em Belém do Pará, reuniu-se para estudos interdisciplinares, a fim de alcançar outros professores e estudantes, e os induzir à reflexão crítica sobre esses embriões de argumentos do senso comum.
No próximo domingo, dia 20 de maio, esses professores estarão reunidos com o público, no auditório Ismael Nery, da Fundação Cultural do Estado do Pará, em Belém, das 7h30 às 13h00, para um ciclo de cinco palestras e debates sobre “Escravidão, Resistência e Raízes Africanas no Brasil”.
A iniciativa partiu do historiador Júlio Charchar, autor do livro “Memórias da Escravidão Negra no Brasil”, que será distribuído gratuitamente a todos os participantes do evento. Com larga experiência no ensino de História na rede particular de ensino, o professor é o autor de uma obra que aborda em detalhes os anos da escravidão, fundamental para a compreensão dos fenômenos sociais oriundos da cultura escravocrata e da resistência a essa cultura.
Conheça os outros palestrantes do "Raízes Africanas":
Professor Márcio Marçal, editor e colaborador em publicações direcionadas a certames de acesso ao ensino superior. Vai abordar as formas de resistência dos escravos no campo e na cidade, utilizando documentos históricos do século XIX, que destacam os abolicionismos e o protagonismo do negro no contexto escravocrata, além de tratar do período pós-abolição e da dinâmica que norteia a exclusão étnico-racial na contemporaneidade.
Professor Helder Bentes, pesquisador em Ciências da Linguagem. Vai falar sobre as matrizes africanas de nossa literatura; sua relação com a história; as concepções artísticas nos séculos de escravidão; os reflexos literários das lutas que criminalizaram o racismo; os tipos atuais de racismo; e vai mostrar como construir uma tese de argumentação persuasiva, na redação do Enem, sobre temas polêmicos de natureza social, política, cultural e científica.
Professor Raimundo Marques é mestre e doutorando em História Social pela USP. Estudioso da América indígena, de povos andinos e amazônicos, e da interação destes com os colonos espanhóis. Tem vinte anos de magistério na rede particular de ensino em Belém e foi professor da rede pública do Estado de São Paulo.
Professor Aldenir Vasconcelos é historiador, sociólogo e mestrando em Sociologia e Antropologia pela Universidade Federal do Pará. Vai analisar a importância das representações da negritude na constituição de nosso patrimônio cultural e artístico, associando as manifestações culturais do presente a seus aspectos históricos, a fim de ajudar o público a compreender os elementos culturais que constituem a identidade do povo brasileiro.
Serviço: Ciclo de Palestras “Escravidão, Resistência e Raízes Africanas no Brasil”
Local: Auditório Ismael Nery do Centur (Belém do Pará)
Data: 20 de maio de 2018
Horário: 7h30 às 13h
Investimento: 20 (com direito ao livro “Memórias da Escravidão Negra no Brasil”)
Fanpage do evento no Facebook: https://web.facebook.com/events/1721510237904643/?active_tab=about
Excelente iniciativa!! Parabéns!!
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