Crédito: Fellipe Oliveira
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"POP" é uma porrada colorida, mas é doce e afável. A peça teatral, da Cia. Noz de Teatro, Dança e Animação, apresentada gratuitamente no último sábado, 5 de maio, no Palácio das Artes, em Praia Grande, no litoral de São Paulo, começou como algo palatável e voltado para crianças. No entanto, com essa embalagem, fala diretamente ao coração dos adultos ao abordar a alienação causada pelo uso excessivo da televisão, algo que, segundo apontam muitas teorias, é prejudicial para o cérebro.
A história gira em torno de uma dona de casa bombardeada pelas mensagens publicitárias que surgem na tela de sua televisão, uma nítida alusão à cultura de massas e, também, ao afamado telefone "011-1406", muito famoso nos anos 90, que vendia os objetos que prometiam benefícios inimagináveis como o aparelho auditivo que permitia que o usuário escutasse uma agulha caindo no chão.
Para os adultos, principalmente se tiverem sido crianças dos anos 80 e 90, não vão faltar referências às atrações da TV Cultura, considerada por muitos a melhor programação infantil exibida até hoje, que despertava nas crianças um senso apurado sobre o certo e o errado, o ético e o antiético, o inteligente e o medíocre. Talvez seja apoiada nessa memória afetiva que "POP" emocione tantos adultos ao falar sobre alienação e consumismo de uma maneira sutil, leve, elegante e colorida. As crianças dessa geração também se encantaram e não cabiam em si, interagindo com o espetáculo e emitindo sons infantis enquanto as cenas se desenrolavam.
Sobram referências à art pop, como a famosa embalagem das latas de sopa Campbell, criada por Andy Warhol em 1962, e também à cultura dos jingles que, por sua vez, remetem à era de ouro dos musicais da Broadway, como "Hairspray". Está tudo interligado nessa peça, que torna tudo muito coerente, já que "POP" se passa "nos tempos da brilhantina", outro baluarte da cultura pop.
Todos os atores - Lais Trovarelli, Jota Rafaelli, Luciana Venancio e Rafael Bolacha - estão ótimos em cena e o cenário, extremamente criativo, é formado por caixas de papelão pintadas com tintas vibrantes que formam imagens, e roupas multicoloridas que fazem reverência à moda dos anos 60 e dão o tom agridoce e cítrico do espetáculo. "POP" pode até ser crítica, mas também é leveza e música para os olhos e para os ouvidos. De quebra, as pessoas saem mais inteligentes.
Ficha técnica
"POP", com a Cia. Noz de Teatro, Dança e Animação
Criação: Anie Welter, Rafael Petri, Renata Andrade, Paulo Henrique Alves, Sheyla Coelho e Cida Sena.
Direção Geral: Anie Welter.
Trilha Sonora: Dr. Morris.
Produção Musical: Yvo Ursini.
Cenários, figurinos, adereços e bonecos: Renata Andrade e Anie Welter.
Iluminação: Rafael Petri.
Elenco: Lais Trovarelli, Jota Rafaelli, Luciana Venancio e Rafael Bolacha.
Fotos: Felipe Lwe e Fellipe Oliveira.
Produção: Luciana Venancio.
*Helder Moraes Miranda escreve desde os seis anos e publicou um livro de poemas, "Fuga", aos 17. É bacharel em jornalismo e licenciado em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos, pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura, pela USP - Universidade de São Paulo, e graduando em Pedagogia, pela Univesp - Universidade Virtual do Estado de São Paulo. Participou de várias antologias nacionais e internacionais, escreve contos, poemas e romances ainda não publicados. É editor do portal de cultura e entretenimento Resenhando.
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