Por André Araújo*, em maio de 2018.
A novela "Segundo Sol" se passa em 1999... Adriana Esteves com cara de quarentona... Com o salto para 2018, ela vai ser sexagenária, não? (risos). Eu não perdoo!! Mas...
Para quem são escritas as telenovelas?... Para os singelos telespectadores que as assistem como se estivessem lendo um bom romance ou aos “estudiosos”/“doutores” em telelágrimas que, quando resolvem apontar as “falhas” ou o “acerto” de algum autor e suas obras, o fazem como se fossem eles os donos da verdade absoluta? Ah! Como são “sabidos” esses estudiosos!... Dá até medo!
Além de capricharem na acidez ou exageros de elogios de suas “grandes observações”, volta e meia estão apontando o que é de fato uma boa novela. Mas aqui vai uma pergunta de arrepiar: o que é, para essa turma, uma boa novela? Aquela que eles gostam ou aquela que o povo faz os números de audiência subirem como um foguete em velocidade máxima?
Novela é uma obra coletiva, se assim não fosse, estaria disponível apenas em forma de letras, espalhadas por esse mundo afora, e não exibidas dia após dia nas redes de TV. É bem verdade que alguns autores sempre nos dão mais do mesmo, como podemos ver nas tramas criadas por alguns desses gênios... Ou então temos aqueles que, pela fama que têm, escrevem qualquer coisa e acham que o povo tem de engolir sem ter nada para dizer. Lembram da novela “Fina Estampa”? Aguinaldo Silva que me perdoe, eu curtia muito as novelas dele, mas a história da Griselda (Lília Cabral) deixou uma espinha de peixe atravessada na garganta de muita gente (dizem que até dentro da própria Rede Globo, que a produziu).
“Fina Estampa” encerrou sua história como uma das novelas mais vistas nos últimos anos, antecedendo o megassucesso “Avenida Brasil”, de João Emanuel Carneiro, autor maniqueísta que exalta um vilão tal qual um cão faminto aprecia a imagem de um belo osso antes de devorá-lo. Mas na novela que substituiu a mediana “Insensato Coração”, do Gilberto Braga, não tinha nada que de fato chamasse a atenção, além de uma mulher “pau-para-toda-obra” que ficava rica ao ganhar um prêmio na loteria. Uau! Isso fez um bem danado à classe menos afortunada, que viu o sonho de todos deles ali, na ricaça instantânea. Afinal de contas, quem não deseja ficar rico da noite para o dia e realizar todas suas utopias? Resposta rápida e óbvia: todo mundo, não é?
Mas houve ali uma coisa estranha... A ex-pobre foi morar exatamente no mesmo condomínio de luxo da vilã da trama (por que mesmo?), a ricaça Tereza Cristina (Christiane Torloni), uma mistura de Nazaré Tedesco ("Senhora do Destino", do mesmo Aguinaldo Silva) com Fernanda Arruda Campos ("Selva de Pedra", 1986), que habitava numa mansão onde havia uma escada assassina igual a armadilha que a mega-vilã Renata Sorrah interpretou em 2004. Fora isso, um mordomo mega-afetado que roubou para si todas as atenções. Virou até filme e, diga-se de passagem, um filme bem tosco!
Teresa Cristina não tinha por que odiar a pobre rica Griselda, mas em determinado ponto dos capítulos, decidiu acabar com toda a raça da "mulher-faz-tudo", e foi aí onde seu autor entrou na mesmice, ficando, de verdade, sem assunto (ou seria preguiça de pensar, mesmo tendo um “arsenal” de colaboradores?). A cada tentativa de eliminar um ente querido da heroína, o comparsa da megera voltava com um fracasso nas costas. Toda semana era a mesma coisa... de cair na risada mesmo!
Foi então eu disse: “A última será a própria Griselda, que será salva, claro!”. E não deu outra! Mas em vez de ser salva pelo galã (Dalton Vigh insosso como chef), quem livrou a Lília Cabral de morrer carbonizada foi seu filho (Caio Castro) aquele que a desprezava por que a mãe era uma Maria –Ninguém. Pra fechar a última cena da novela, eis que a vilã ressurge do nada, ri da cara da “mocinha”, que vai atrás dela com uma chave de fenda, e o letreiro “FIM” surgiu na telinha e nos pegou a todos de surpresa (como assim?), como se ali tivesse sido encerrada uma temporada do tal novelão, e não a história. Eu me perguntei, rindo: “Que bosta de novela foi essa?”. Mas Aguinaldo Silva continuou contratado da Rede Globo e, para muitos, é ele o melhor autor de todos os tempos.
“Segundo Sol” está indo bem de audiência, segundo o que se lê na internet, e por isso João Emanuel Carneiro, seu autor, já tem sido chamado de “o mago das novelas”. Queria ver se a atual novela das nove tivesse estreado com menos de 30 pontos... Mas é isso aí... Vamos ver o que os estudiosos no assunto têm para dizer. Afinal, não são eles que sabem tudo de novela?
*André Araújo é um apaixonado por telenovelas. Tanto que ele escreve algumas por aí e publica pela internet, arrebatando fãs e distribuindo inspiração. Da cabeça dele já saíram grandes personagens. Entre as novelas virtuais, é autor de "Uma Vez Na Vida! e "Flor de Cera".
Excelentes apontamentos, André. Parabéns!
ResponderExcluirAnna de Freitas
Muito bem pontuado mesmo. Excelente crítica.(ivan benício).
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