“Sempre admirei mulheres que tomavam conta da própria vida, independente do que os outros achavam ou deixavam de achar. Sempre quis ser uma delas”, Carol Duarte.
Não faz muito tempo, Carol Duarte era uma atriz exclusivamente de teatro. Nos palcos desde os 15 anos,viveu um turbilhão ao estrear no horário nobre da TV. E chegou com o pé na porta para falar sobre um assunto que, até então, era puro tabu para grande parte dos brasileiros: transexualidade.
Em "A Força do Querer", a paulistana retratou os dramas de um jovem trans, mudou radicalmente o visual e fez muita gente conservadora aceitar e (até torcer!) para que Ivan fosse feliz sendo simplesmente quem queria ser. E foi isso o que a deixou mais orgulhosa com o personagem: abrir espaço para a troca de ideias e da autoaceitação.
Carol é gay e, apesar de ser reservada sobre sua relação com a fotógrafa Aline Klein, fala abertamente sobre orientação sexual e entende que sair do armário ainda é difícil no Brasil. Hoje, aos 26 anos, ela se esforça para aproveitar o alvoroço, sem romantizar a vida de atriz – não à toa, faz questão de andar de metrô em São Paulo, cidade onde mora, frequentar os mesmos lugares da época do teatro e defender o que acredita.
Carol Duarte é uma das três capas da revista Glamour de abril, que liberou esse trecho da entrevista e ainda traz Tatá Werneck e Tábata Amaral com MC Soffia nas outras duas opções de capa.
No último ano você viveu um furacão chamado Ivan. O que mudou de lá para cá?
O alcance do teatro é muito menor do que o da TV. Poder dialogar com tantas pessoas sobre a questão de identidade de gênero foi muito rico porque, afinal, somos diferentes e devemos respeitar essas diferenças. Na minha época de colégio, as pessoas mal falavam sobre gays, lésbicas e trans. Isso mudou. A próxima geração não vai ter a ignorância que a minha teve ou da minha mãe, avó... Essa é uma enorme conquista.
Há um tempo, atores tinham receio de dizer que eram gays para não perderem papéis de mocinha ou galã na novela. O medo ainda existe?
De maneira geral, no mundo, esse medo existe. Dizer que é gay ou trans ainda gera insegurança porque continua sendo visto como algo ruim. As palavras “viado”, “sapatão” e travesti”, na nossa cultura, são xingamentos.
Como foi se descobrir gay?
Minha vida não teve grandes eventos porque no teatro se quebra alguns estereótipos e tive uma criação muito livre. Minha família sempre foi tranquila, mas eu sei que isso é uma bolha social, não é o comportamento mais comum no Brasil. A tendência é as pessoas terem preconceito.
O que te torna empoderada?
É a consciência do que representa ser mulher. Na adolescência, vi que algumas coisas não eram legais, por exemplo: os meninos podiam perder a virgindade com quem quisessem, mas no caso das meninas tinha que ser romântico. Foi aí que comecei a entender meu lugar no mundo. Por isso, fico triste quando uma mulher é machista. A imposição cultural é tão forte que ela mesma se reprime.
Para você, qual é a melhor parte de ser mulher hoje?
Ando me orgulhando em saber que a sociedade evoluiu de certa forma. Minhas avós viveram pior do que eu. E espero que, se tiver uma filha, ela viva melhor e assim por diante. Sou feliz em fazer parte dessa luta.
Então ter filhos está de fato nos seus planos?
Quero ser mãe, sim. Não sei quando porque deve ser uma experiência muito profunda...Tenho vontade de adotar, mas essa ideia ainda é meio nebulosa para mim.
Você é a atriz revelação do ano para a Glamour. Qual foi o maior desafio que enfrentou ao chegar até aqui?
Tendem a romantizar a vida de ator. Depois que acabou a novela, não mudei minha rotina. Continuo usando metrô e frequentando os lugares de sempre. É sedutor achar que o mundo gosta de você e tudo é lindo, mas o desafio é me renovar e manter minha cabeça no lugar, sabendo que sou atriz, nada além disso.
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