quarta-feira, 25 de abril de 2018

.: Crítica: Musical "A Noviça Rebelde" é um sopro de alegria para o teatro


Por Helder Moraes Miranda, em abril de 2018.

Esqueça as comparações com o filme estrelado por Julie Andrews. "A Noviça Rebelde", o musical clássico da Broadway, em cartaz no Teatro Renault, é muito melhor. A começar pela protagonista, Malu Rodrigues que, em um papel de pouco destaque na novela das 21h, surpreende pelo vozeirão. 

"Como se faz para consertar Maria?", é a pergunta que se faz no início, no meio e no fim do espetáculo. Maria, a noviça rebelde do título, precisa, mesmo, ser consertada? Se levarmos em conta a alegria de viver, o carisma e a afirmação da personagem, é possível enxergar que o "conserto" é uma metáfora para os dias de hoje - repleto de maledicências e desentendimentos gerados pelas polarizações de opiniões divergentes que não são respeitadas. 

Com a maioria das canções em português, o musical é inspirado no livro de memórias de Maria Von Trapp, que tinha um coro de filhos talentosos. No espetáculo, Maria é um espírito livre que, a partir da música, consegue juntar as peças de uma família desestruturada não pelo desamor, mas pela falta de alguém que se foi.

Malu Rodrigues, que na primeira versão, há dez anos, interpretou Liesl, a irmã mais velha, brilha ao lado de grandes nomes do teatro, como a talentosíssima Gottsha (entrevista com ela neste link) que desta vez entra em cena como uma madre superiora para lá de afinada. Gottsha é responsável por uma das cenas mais bonitas do espetáculo e, quando entoa um canto gregoriano, consegue arrepiar dos pés até o último fio de cabelo. 



Gabriel Braga Nunes é outro que está inesquecível no papel do Capitão Von Trapp. Ao interpretar um homem sisudo e machucado pela vida, é ele quem protagoniza os momentos mais ternos do espetáculo, com uma voz que soa como um carinho nos ouvidos. 

A química entre Braga Nunes e Malu Rodrigues  pode ser vista no embate entre a razão e o coração dos dois personagens e é indiscutível. Ambos levam o espectador a torcer pelo casal que sobrevive - cantando, como não poderia deixar de ser, em um musical desse porte - às piores adversidades que lhe são colocadas pelo caminho.

Luiz Guilherme, que interpreta o Tio Max na ausência de Marcelo Serrado, traz a comicidade mesclada com a picaretagem de um personagem que só quer tirar vantagem em tudo, sem perder o verniz e a elegância de que o grande público está habituado a ver na televisão. Já Alessandra Verney empresta todo o seu carisma à interesseira Baronesa Elsa Schraeder. Com um elenco desses, não haveria como não dar certo.

O elenco infantil também está impagável, principalmente uma das intérpretes da caçula Gretl, que no dia em que fomos assistir era defendida pela atriz-mirim Danny Prince, de cinco anos, um talento que enternece e desperta para os palcos. Ao todo, são 21 crianças e adolescentes que se revezam a cada apresentação, que foram escolhidos entre três mil inscritos. 



Outra que se destaca é Marianna Alexandre, que reveza com o fenômeno teen Larissa Manoela a interpretação da primogênita da família e, com muita categoria e talento, canta, dança e sapateia para um público extasiado.

A direção é da competente dupla Charles Möeller e Cláudio Botelho, que formam a produtora Möeller & Botelho, responsável pelo renascimento do teatro musical que começou no Rio de Janeiro nos anos 90 e se mantém ativa até os dias atuais e responsáveis pelas montagens de, entre muitos outros espetáculos, "Beatles num Céu de Diamantes" (2008 até os dias atuais, crítica neste link), e "Rocky Horror Show" (2016, crítica neste link). 

O cenário e os figurinos são componentes à parte. Tudo é muito grandioso, muito rico e muito colorido. A peça transborda alto-astral e, ao lado de "Peter Pan" (crítica neste link) é um sopro de alegria no teatro brasileiro. 

Em um mundo repleto de peças críticas repleta de protestos e muita necessidade de desabafar que, realmente, são necessárias, "A Noviça Rebelde" não deixa de ser um respiro e, ao mesmo tempo, uma injeção de otimismo para quem sai do teatro disposto a enxergar as mudanças que o Brasil vem passando como algo necessário e extremamente positivo para a construção de um país melhor.

Serviço
"A Noviça Rebelde" segue em cartaz até 27 de maio no Teatro Renault. Avenida Brigadeiro Luís Antônio, 411, Bela Vista - São Paulo. De quarta a sexta-feira, às 21h. Sábado, às 16h e às 21h. Domingo, às 15h e às 20h. Ingressos à venda neste link.



*Helder Moraes Miranda escreve desde os seis anos e publicou um livro de poemas, "Fuga", aos 17. É bacharel em jornalismo e licenciado em Letras pela UniSantos - Universidade Católica de Santos, pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura, pela USP - Universidade de São Paulo, e graduando em Pedagogia, pela Univesp - Universidade Virtual do Estado de São Paulo. Participou de várias antologias nacionais e internacionais, escreve contos, poemas e romances ainda não publicados. É editor do portal de cultura e entretenimento Resenhando.





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Um comentário:

  1. Gottsha canta muito, tem uma voz de anjo. O show é lindo.
    Samantha Faria

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